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Scot Consultoria

Agronegócio, câmbio e competitividade


Sexta-feira, 18 de dezembro de 2009 - 10h04

Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP, com doutorado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Desde julho de 2003 é Diretor Geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (ICONE).


Um dos temas que têm me preocupado ultimamente é o futuro da inserção internacional do agronegócio brasileiro. Acredito que o setor esteja num processo de mudança: antes era fortemente baseado em expansão das exportações e de agora em diante, por razões que discutirei neste artigo, contará com crescentes investimentos estrangeiros diretos no exterior como estratégia de expansão internacional. A primeira constatação é de que existem razões para acreditar que estamos entrando num período de menor crescimento das exportações do agronegócio, quando comparado com o período de forte expansão observado de 2001 a 2008. Na realidade, períodos de estagnação nas exportações não são novidade para o agronegócio brasileiro e, fazendo uma retrospectiva do início do Plano Real (1994) até hoje, observamos isso. De 1994 a 2000 as exportações ficaram praticamente estagnadas, girando ao redor de US$15 bilhões. A partir de 2001 as exportações decolaram, atingindo o recorde de US$61,4 bilhões em 2008. Em 2009 os dados até outubro indicam queda de 11% no valor total exportado. Afinal, essa queda em 2009 é temporária ou estamos entrando em mais um ciclo de exportações crescendo marginalmente, como observado entre 1994 e 2000? Minha aposta é que vamos amargar um período de estagnação determinado por duas variáveis: menor crescimento da demanda mundial e menor competitividade do exportador brasileiro, devido ao real forte e à desvalorização do dólar. Essas duas variáveis, em sentido contrário, explicaram a expansão brasileira de 2001 em diante: um real que passou a perder valor a partir de 1999 e um forte crescimento mundial observado até 2008. O exemplo dos EUA é ilustrativo para o Brasil. As exportações norte-americanas, de 1994 a 2009, apresentaram comportamento muito semelhante ao caso brasileiro: estagnação até 2002, crescimento até 2008 e queda em 2009. A diferença está nos detalhes. Enquanto no Brasil, de 1994 a 2001, houve aumento de 10% do valor exportado, nos EUA o aumento foi de 6%. Já no período de expansão mundial, nos EUA cresceram 96% e no Brasil, 300%. Assim, embora a tendência de ambos seja semelhante, a magnitude revela que há diferenças relevantes no desempenho das exportações do agronegócio. A primeira evidência que a magnitude do crescimento revela é que o agronegócio brasileiro se mostrou mais competitivo do que o norte-americano, sobretudo quando a economia mundial saiu da estagnação dos anos 1990 e entrou na expansão dos anos 2000. Dado que a economia mundial cresceu igualmente para os dois países e, com exceção de alguns produtos, ambos possuem uma pauta exportadora semelhante e baseada em commodities, uma variável fundamental que explica a diferença de desempenho é a taxa de câmbio. Enquanto o Brasil mudou seu regime cambial em 1999, gerando imediata competitividade internacional para o agronegócio, o dólar seguiu valorizado ante outras moedas até 2003, quando passou a dar os primeiros sinais de desvalorização. Assim, o Brasil aproveitou-se antes e com maior rapidez do crescimento da demanda mundial que os EUA. A situação que observamos atualmente é bem diferente. Além de a demanda mundial estar contraída, salvo em alguns casos, como as importações chinesas de soja, a situação de taxa de câmbio de ambos os países está diametralmente oposta. Enquanto temos assistido a uma valorização do real desde 2006, o dólar vem perdendo valor nesse período. Assim, a competitividade dos EUA está maior do que a brasileira para enfrentar o cenário de menor demanda que deve permanecer na economia mundial, sobretudo entre os países desenvolvidos, em 2010. Concluímos, então, que o Brasil deixou de ser competitivo no mercado internacional? Certamente, o Brasil continua sendo competitivo no agronegócio, até porque parte da competitividade internacional decorre não apenas do menor custo, mas da capacidade de aumentar a oferta. Países como os EUA, que já utilizam grande parte dos seus recursos naturais para produção agropecuária, vivem o problema gerado pelo fato de que a expansão de um produto intensivo em terra leva à retração de outro, porque o ganho de produtividade não compensa imediatamente a perda de área, e isso não ocorre no Brasil. Nesse sentido, o Brasil continuará sendo competitivo porque tem capacidade de incrementar a oferta mais rapidamente do que os EUA. Aumentar a oferta, no entanto, não refresca muito em momentos de demanda reprimida. Um cenário de menor demanda mundial e menor competitividade internacional deveria acender algumas luzes amarelas no Brasil. Afinal, o crescimento das exportações foi o grande motor do superávit da balança comercial do País nos anos recentes. A perda de competitividade do agronegócio norte-americano nos anos 90 foi enfrentada de três formas: desonerando a cadeia de produção com investimentos em infraestrutura (na realidade, esses aportes vinham sendo feitos nos EUA desde antes dos anos 80, o que aumenta ainda mais o déficit brasileiro nesse quesito); políticas pró-competitividade de exportação por meio dos programas de garantia de seguro de crédito; e uma forte política de subsídios via preços, para garantir renda ao produtor diante de preços mundiais baixos. A alternativa de pesados subsídios não faz sentido no Brasil: ela custa muito para os contribuintes e expõe o País às regras da OMC. A alternativa de investimento em infraestrutura depende de decisões de longo prazo, que serão feitas paulatinamente e não resolverão o problema da competitividade para 2010. A alternativa de uma política de seguro de crédito é a que Brasil deveria adotar imediatamente como estratégia de gerar competitividade para o agronegócio brasileiro. Para o agronegócio, uma estrutura do tipo Eximbank seria de grande serventia.
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