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Scot Consultoria

A importância do jejum na pesagem de bovinos


Segunda-feira, 23 de novembro de 2009 - 11h16

Zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.


É consenso sobre os benefícios econômicos e a importância da seleção para peso e/ou ganho de peso na pecuária de corte. Não é para menos, basta olharmos para a história e os avanços conquistados pelo trabalho de melhoramento genético no Brasil. Mas, é importante estarmos atentos para as possíveis fontes de erros que podem ocorrer conforme o conceito aplicado para a pesagem dos animais geneticamente avaliados. Erros que podem trazer diferenças significativas quando da avaliação das informações e, principalmente, quando da escolha dos melhores animais. Como buscamos salientar aqui neste painel, a qualidade da avaliação genética depende da confiabilidade dos dados, ou seja, um conjunto de dados tendenciosos dificilmente levará a adequada identificação dos melhores animais para a característica que se deseja melhorar. Nesse sentido, desde a identificação dos animais até a obtenção dos pesos, inúmeras são as fontes de erro que podem contaminar os dados. Um fator importante e que muitas vezes é desprezado pelos selecionadores e técnicos refere-se ao fato de os bovinos apresentarem grande volume no aparelho digestivo e serem pesados com o conteúdo do aparelho digestivo cheio. O fato principal é que essa quantidade de líquido e alimento interfere sensivelmente no peso medido do animal. Estudos conduzidos pelo pesquisador Roberto Carvalheiro sobre este tema comprovam a existência de diferenças significativas entre lotes de animais ao sobreano (18 meses) pesados em jejum parcial (livre acesso à água) e jejum completo (sem acesso a água). Para ambos os tratamentos os animais foram pesados no início do experimento e 20 horas posterior, o que representaria o período de jejum. Os resultados indicaram uma perda de peso média de 26,1 e 23,4 kg, respectivamente, para os tratamentos de jejum completo e parcial. Isso representa, em média, 5% do peso vivo dos animais para as condições avaliadas do experimento. Tais valores ressaltam a importância do jejum na ocasião das pesagens, principalmente pelo fato que a perda de peso não ser constante. Em outras palavras, caso os animais perdessem o mesmo peso, não seria necessário submetê-los ao jejum, pois não haveria o risco de pesar animais com diferentes quantidades de alimento em seu aparelho digestivo. O pesquisador igualmente relata ser a modesta diferença entre o jejum total e parcial (2,7 kg) devido ao estado de conforto térmico dos animais na ocasião do experimento (temperatura ambiental amena). Para condições de estresse térmico, espera-se que tais diferenças sejam superiores e mais relevantes. Adicionalmente, a diferença de peso dos animais em jejum e desjejum, mesmo que não representasse fontes de erros para os programas de seleção (o que não é verdade), poderia causar uma falsa impressão da dimensão do ganho de peso dos animais para uma dada dieta ou tratamento e, conseqüente aferição nos cálculos de lucro para uma estratégia diferenciada de produção, por exemplo. Deve-se destacar que tais conteúdos digestivos não apresentam valor comercial e, por essa razão, não há relevância de serem mensurados. As pesagens devem se referir as estimativas da quantidade de tecido muscular do animal. Ou seja, as pesagens devem servir como um indicador de melhores desempenhos em ganho de peso seja a campo ou em regime de confinamento. Caso o animal seja pesado em desjejum, considera-se o conteúdo ruminal. Tal fato adquire maior importância quando animais em desjejum são comparados com animais pesados em jejum, o que conduz a erros grosseiros de interpretação e muitas vezes compromete seriamente a escolha dos melhores animais para peso e ganho de peso. Diante dos valores e comentários apresentados, destaca-se a importância do jejum, sobretudo do jejum total, pois, se ele não for feito, pode-se estar cometendo erros na avaliação dos animais, superestimando o peso daqueles com maior quantidade de alimento no trato digestivo. Além disso, outras conseqüências podem ser apontadas, do ponto de vista aplicado ao melhoramento genético animal, como a diminuição da estimativa de herdabilidade devido ao aumento da fonte de erros da estimativa.
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