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Scot Consultoria

Citricultura exige uma boa gestão


Sexta-feira, 30 de outubro de 2009 - 10h43

Engenheiro agrônomo


Um dos grandes problemas da agropecuária em geral é a perda constante de margens na atividade que provoca uma busca incessante no aumento de produtividade, por parte dos produtores. Ao mesmo tempo que isso acontece, o aumento gradual de volume de produtos colocados no mercado provoca mais reduções nos preços dos produtos agropecuários. A resposta continua sendo a necessidade de aumento de escala e, consequentemente, mais força para este processo de redução de margens. Além de gerenciar todas as demandas técnicas da empresa, o produtor precisa ser eficiente na gestão financeira de todo o processo. O determinante dos objetivos de produtividade na formulação estratégica da empresa sempre deve ser as perspectivas de resultados econômicos. Trata-se da resposta a pergunta: quanto que a empresa deve produzir para atingir determinada renda na mesma área? A solução a esta questão é o maior impulsionador dos ganhos de produtividade na atividade rural. Observando a tabela 1, é possível constatar a evolução da produtividade da citricultura nos últimos anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em pouco mais de cinquenta anos, a produtividade da citricultura aumentou 27% no Brasil. Vale ressaltar que logo após a divulgação do censo 2006, realizado pelo IBGE, ainda permaneceram muitas controvérsias e questionamentos em relação aos dados. A divulgação do Censo 2006, pelo IBGE, ocorreu em setembro de 2009. Para efeitos comparativos, os números do IBGE são suficientes para ilustrar o raciocínio. E mesmo repleto de críticas, trata-se ainda no maior levantamento feito no Brasil. Pois bem, voltando à análise, para o mesmo período de pouco mais de cinquenta anos, o IBGE constata um aumento de produtividade da ordem de 187% na produção de milho. De meados da década de 1970 até 2006, a produtividade da citricultura brasileira aumentou 7,6%, segundo o IBGE, enquanto a de grãos em geral aumentou 155%, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Esta constatação poderia até ser usada para argumentar que o efeito de perda de margens e necessidade de ganho de produtividade não tenha ocorrido na citricultura. No entanto, não é bem assim; é preciso compreender as particularidades da dinâmica da citricultura brasileira. O alto investimento por hectare, aliado à vida útil dos pomares, faz com que o ganho de produtividade na citricultura seja bem mais lento. O raciocínio é simples. Considerando que o pomar comece a produzir depois de três anos, atinja o ápice com sete anos e comece a declinar entre o décimo terceiro e décimo quarto ano, o produtor tem que ser muito hábil para gerenciar um aumento de produtividade. A produtividade da citricultura, assim como grande parte das culturas perenes, está relacionada com a população de plantas por hectare. O adensamento de um pomar de laranja é lento e demanda elevados investimentos por hectare. Além de investir, a empresa reduzirá a entrada no fluxo de caixa, pois parte do pomar estará em baixa produtividade. Observe, na figura 2, o exemplo de produtividade por caixas em um pomar de 400 plantas por hectare. Por isso que o citricultor acaba fazendo um plano mais lento de renovação de pomares. Além do que, quanto maior a longevidade do mesmo, menores os custos com depreciações. Soma-se ainda a este fator as diversas doenças que vem aparecendo ao longo dos últimos anos na citricultura. Sempre que uma moléstia parece sob controle, outra nova doença aparece como a grande novidade dos pomares; um novo desafio a ser superado. Com isso,há necessidade de mais investimentos, ocorrem perdas de resultados e também aumento de custos de produção, o que se torna mais um fator de atraso para o ganho de produção na citricultura. Independente das alterações e das mudanças tecnológicas, que obrigam os produtores a adotarem novos processos de manejo, a evolução dos preços de insumos, serviços e bens de produção, por si, já comprimem as margens dos citricultores. Estudo de 2007, realizado pela Scot Consultoria, e atualmente atualizado pela Bigma Consultoria, mostra a evolução dos custos de produção, preços da laranja e Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas. A partir da participação dos componentes de custos de produção de laranja, atualizamos os preços de todos os insumos e serviços. Com isso, pela média ponderada, foi possível obter a evolução mensal dos custos. Os preços dos insumos são cotados pela Scot Consultoria, enquanto os preços da laranja são do Cepea/Esalq/USP. Observe, na figura 3, o comportamento de custos, preços e do IGP-DI na produção de laranja. Todos os valores foram considerados como índice 100 para o ano de 1994, mês de agosto. Pela figura fica evidente a perda de margem do citricultor. Em outubro de 2009, o balanço comparativo era que os preços da laranja eram 90% superiores aos de agosto de 1994, enquanto os custos de produção eram 490% superiores, quando comparados os mesmos períodos. Também é possível verificar as maiores oscilações no mercado de laranja, enquanto os custos de produção mantêm uma tendência firme de aumento ao longo dos meses. O pico dos custos de produção ocorreu em 2008, quando os preços dos fertilizantes aumentaram significativamente, impulsionados pela explosão do mercado de commodities em todo o mundo. Vale ressaltar que aquele pico de 2008 se estendeu por todo o ano de 2009 impactando o fluxo de caixa dos produtores. Os fertilizantes da safra de 2009 foram comprados naquele período. Aperto de margem, prejuízos por longos períodos, demanda alta de recursos para investimentos, incidência de novas doenças e dificuldade em aumentar a produtividade levaram a citricultura a uma situação delicada. Pesquisa realizada pela Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), via site, comprova o sentimento do produtor em relação à citricultura. Embora pesquisas de opiniões, voluntárias, pela internet devam ser analisadas com cautela, cerca de 960 produtores haviam respondido até a última semana de outubro. Acompanhe os resultados na figura 4. Essa insatisfação é corroborada pelos números do IBGE. Voltando a eles, podemos constatar que tanto a área, como a produção de laranja recuou no último Censo Agropecuário. Em outras palavras, diversos produtores estão deixando de produzir laranja. A tabela 1 mostra as áreas de produção e o volume total de laranja nos quatro últimos censos agropecuários . Os períodos ilustram bem os anos de ouro da citricultura na década de 80 até a crise que se estende por todo o plano Real e ganha força na segunda metade da década de 2010. Veja que em 2006, quando a cana-de-açúcar estava em franca expansão, tanto a produção total, como a área de laranja, já era inferior aos níveis de 1985. Em comparação com o Censo 1996, a produção de laranja de 2006 foi 25,2% inferior, enquanto a área reduziu quase 37%. A diferença entre redução de área e redução volume produzido confirma o ganho de produtividade no período. E o pior desta situação é que entre o levantamento dos dados e a publicação do Censo, diversos produtores já devem ter erradicado os pomares entre 2006 e 2009. É neste ambiente que o citricultor deve preparar-se para gerir seus custos e planejar a sua atividade para os próximos anos. É possível dizer que a citricultura seja uma das “peneiras” mais finas de seleção dos produtores rurais. É certamente uma das atividades campeãs em expulsão de agricultores do campo, o que exige uma redobrada atenção com a gestão dos custos de produção.
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