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Scot Consultoria

Controle o seu estoque


Segunda-feira, 21 de setembro de 2009 - 09h31

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Sobre o Interconf em Goiânia e sobre a fusão/associação do Friboi com o Bertin. Primeiro, sobre o encontro. Gostei muito. Estava bem cheio por lá, sinal de sua popularidade e importância. Acho que superou fácil o número de mil pessoas. Sobre a fusão/associação do Friboi com o Bertin, não tenho muito que falar. O que tenho a dizer é o seguinte. Estou vendendo uma moto Honda Tornado 2004. Será que se eu oferecer para o Friboi ele compra também? Ai, ai... A gente ganha pouco, mas se diverte. Agora falando sério, não sou especialista nesse tipo de coisa. O pouco que sei é de mercado de boi, e o que estou fazendo é anotar a data do anúncio aqui comigo e passar a acompanhar daqui para frente a oscilação dos preços nos próximos anos para ver se essa associação muda alguma coisa em relação ao que vem ocorrendo até hoje. Sinceramente? Sou cauteloso em sugerir que pode mudar ou não alguma coisa. Baseio isso em uma idéia muito simples: estoque de gado. Poucos pecuaristas ligam para isso ou entendem (ao contrário dos frigoríficos que tem obsessão por esse tema) as implicações do poder de influência de quem possui o estoque de gado. A idéia é simples. Enquanto a maior parte dos animais gordos estiver nas mãos dos pecuaristas, NOS PASTOS, o poder coletivo de barganha de preços está nas mãos do pecuarista, e não nos frigoríficos. O único momento em que eles, os frigoríficos, estão com o poder é quando controlam os estoques na época dos confinamentos, sejam os animais confinados por eles mesmos ou por pecuaristas independentes. Não se deixe enganar, caro leitor. No momento em que o pecuarista coloca o seu gado no cocho, esse animal deixa de ser dele e passa a pertencer ao frigorífico, seja ele qual for. Entende o que quero dizer? Se o cara programou a sua engorda para 90 dias de cocho e na hora de vender os preços não estão bons, ele pode esperar mais 30 ou 60 dias de ração? Óbvio que não. Tem que vender. Aliás, sabendo disso ele provavelmente já vendeu ou agendou antecipadamente o abate desses animais junto ao seu frigorífico de preferência, e é exatamente aí que está a inversão da realidade do animal do pasto para o animal do cocho. É o mesmo animal, mas são modelos de negócio — e isso é crucial — completamente diferentes. Não deixa de ser simbólico e irônico o Interconf ser realizado em Goiânia, em Goiás, estado com o maior número de animais confinados e que, por causa disso, praticamente não tem mais entressafra e os diferenciais de base em relação ao São Paulo abriram tanto nos últimos anos. Nos Estados Unidos, de cada 100 animais abatidos, 95 vieram de confinamentos. No Brasil, de cada 100 animais abatidos, 5 são provenientes de cocho. Então, não se esqueça disso — o poder está em quem controla o estoque, e não no intermediário. Mas, hei! Não se deixe abater com essas coisas. Esses fatos só servem para a gente ficar alerta e com os olhos bem abertos para não entrar nos negócios sem saber as reais variáveis contidas nele. Pois isso não é necessariamente uma notícia ruim. Mesmo nos Estados Unidos existe sim oscilação de preços da arroba e também existe o ciclo pecuário. Aliás, o ciclo pecuário americano é de aproximadamente 10 anos, muito parecido com o que ocorreu no Brasil no último ciclo que também foi de 10 anos. Agora, quem provavelmente está se preocupando imediatamente com a união JBS/Bertin são os supermercados, tipo Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart. Não só no Brasil, obviamente. Agora eles têm um fornecedor de carne que poderá sentar-se à mesa com igual poder de barganha. Agora a briga é de cachorro grande. O mercado subiu durante a semana, mas a realidade é que não fez muitas cócegas na coisa como um todo. Observe o gráfico 01 que mostra a variação da arroba à vista do Indicador Esalq/BM&F. O mercado está oscilando entre R$76,00 e R$82,00. Então, por causa disso, diga olá para a janela de negociação da entressafra de 2009 no gráfico. Espero que ela seja breve, mas isso só o tempo dirá. O mercado futuro está olhando exatamente para essa janela de negociação e está dizendo que novembro valerá entre R$82,00 e R$83,00. Ou seja, o mercado futuro melhorou suas expectativas de curto prazo, mas ainda está com um pezinho no lado pessimista de enxergar o futuro. E quanto ao mercado de reposição? O que essa alta da arroba fez com a reposição de bezerros? Vamos dar uma olhada no gráfico 02. Ainda estamos nesses péssimos patamares de reposição. Obviamente estou falando sob o ponto de vista de quem compra bezerros, e não de quem vende. Para que essa situação melhore, a arroba do boi tem que subir MUITO ou o preço do bezerro tem que cair MUITO. Qual dos dois cenários você acha mais factível? A minha resposta vem do estudo dos preços dos dois mercados. O bezerro não tem a característica de oscilar tão forte como o boi. De certa forma, isso enfraquece a idéia de que o bezerro vai despencar de preço a partir de agora, em 2009. Ainda é cedo para isso. A alternativa é esperar a arroba subir. É o que começamos a ver na última semana, mas até chegarmos a uma situação boa na reposição de bezerros muita água tem que passar embaixo da ponte. A arroba ainda teria que subir muito para melhorar a conta. A reposição do bezerro ainda está ruim. É, isso sim. Mas e para o boi magro, como estão as coisas? Aí você entrou no meu negócio, caro leitor, e te respondo na prática o que vem ocorrendo. Na reposição do boi magro a coisa já mudou de figura. Na semana passada comprei bois magros para reposição no MS. Por arroba, os preços desses animais saíram mais baratos do que os da reposição que fiz em abril e bem mais baratos do que os animais que comprei nessa mesma época do ano passado. Já disse isso aqui antes. Enquanto a fase de alta é a melhor para o criador, essa fase de estabilização e, posteriormente, a fase de baixa do ciclo pecuário são as melhores para o recriador, e melhores ainda para o invernista. Falo como invernista. Senti isso de 2004 a 2006 e estou voltando a sentir isso novamente agora em 2009. Se continua assim, não sei. Só sei que, quando enxergo a oportunidade de comprar bois para serem abatidos em 2010 e esses animais chegam mais baratos na fazenda que a arroba do boi gordo de hoje, parto para as compras.
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