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Scot Consultoria

Confinamento estratégico


Terça-feira, 15 de setembro de 2009 - 09h50

Engenheiro agrônomo


O uso do confinamento em propriedades pecuárias melhora os resultados econômicos O uso do confinamento vem aumentando no Brasil. Segundo estimativa da Scot Consultoria, o número de cabeças confinadas no Brasil gira em torno de 2,75 milhões de cabeças. Em pouco mais de cinco anos, o número de bovinos confinados para abate aumentou 1 milhão de cabeças representando hoje entre 6% e 7% do total abatido no país. A tendência é crescer ainda mais! Não há volta, pois trata-se de uma tecnologia fundamental para o desenvolvimento econômico de uma propriedade com pecuária. Aí que entram dois conceitos necessários compreender bem quando tratamos de confinamento. Um é o conceito de confinamento estratégico e outro o conceito de confinamento atividade. CONFINAMENTO ATIVIDADE Como atividade exclusiva, o confinador sai às compras de bois magros e fecha-os no cocho para terminar em cerca de 100 a 140 dias. Tudo depende da dieta, da capacidade de ganho de peso do animal e do peso de entrada. Neste caso os animais entram com peso vivo em torno de 10@ a 12@. Ganham cerca de 5@ a 7@ no cocho até chegar ao peso ideal de abate. Essa atividade gera alguns riscos, pois qualquer ineficiência durante o processo acabará minando todo o resultado do empresário. As margens são bem reduzidas e as únicas formas de manter os riscos a níveis aceitáveis são a excelência no planejamento e na condução dos processos além da, praticamente, obrigatoriedade de se fazer hedge na BM&F, pois é preciso garantir que as contas fechem ao final. Por isso, além da excelência na gestão técnica, há necessidade de uma ótima gestão financeira. Adotando um exemplo, imagine um produtor iniciando um lote para confinamento como atividade. Segundo a Scot Consultoria, os preços do boi magro nelore estão por volta de R$960,00 a R$980, 00, na média dos Estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Trabalharemos com preços de R$975,00/boi magro de cerca de 11,3@. Adotaremos como média, o valor de R$20,00/boi em frete, haja vista que os animais serão comprados de terceiros. Observe que só por estas duas informações já parece haver um contra-senso na técnica do confinamento. Citando novamente os dados de mercado pesquisados pela Scot Consultoria, o boi mais caro de meados de agosto no Brasil era de R$79,50 em São Paulo. Para novembro, a projeção do mercado futuro na BM&F indicava cerca de R$84,30/@, calculado a prazo. Este era o valor mais alto para 2009 negociado na BM&F. Sendo assim, somando preço e frete do boi magro, o pecuarista colocaria no cocho um animal já saindo de R$87,82/@. Como essa conta poderia fechar? Aí entra uma das maiores dificuldades de compreensão da dinâmica econômica de animais terminados em cocho. Veja, na tabela 1, todos os demais custos de produção que podem ser envolver durante o confinamento. Os dados foram calculados com base no mercado de grãos de junho e julho, incluindo dietas a base de silagens de sorgo, milho e cana-de-açúcar. Para dimensionar os custos operacionais, trabalhamos com confinamento de cerca de 1.000 cabeças. A dieta, com maior participação de grãos na formulação, foi dimensionada para ganhos próximos de 1,5 kg/boi/dia. Observe que embora o animal entre custando R$87,82/@, ao final este valor inicial será diluído nas 18,03@ de peso final. No animal terminado, tais custos representarão R$55,20/@, ou 66,92% dos custos finais do boi gordo. Ainda assim, o custo final da arroba engordada seria bem próximo ao valor mais alto de meados de agosto na BM&F. Se o empresário fizer o hedge a R$84,00/@, o lucro estimado é de R$1,51/@ de animal confinado na situação descrita. Note que qualquer ”errinho” durante o processo colocaria tudo a perder. Devido às péssimas perspectivas de 2009, além de outras variáveis que afetaram grandes confinadores, é que muitos têm projetado a possibilidade de queda ou apenas manutenção no número de animais confinados para 2009. CONFINAMENTO ESTRATÉGICO Estes cálculos apresentados anteriormente, mesmo que esclarecendo a questão do valor de entrada do boi gordo, acabam por apavorar a maioria dos pecuaristas. É muito risco para uma atividade que muda toda a rotina da fazenda para um ganho muito pequeno. Vale lembrar que a grande maioria dos pecuaristas brasileiros cresceu em bases sólidas dentro de sua realidade. Não fizeram loucura e cresceram lentamente baseando todos os passos na capacidade de compra com a venda de um boi gordo – a tão usada relação ou moeda de troca. Esta característica do pecuarista também explica um dos motivos pelos quais a pecuária se tecnificou muito menos quando comparada à agricultura. Pois bem, é justamente no atrasado processo de intensificação da pecuária de corte que entra o conceito de confinamento estratégico. A medida que as empresas passam a produzir mais por área, a técnica mais eficiente em permitir que a fazenda receba e termine mais animais é a do confinamento. Por isso, podemos concluir que este tipo de confinamento, ou seja, o confinamento usado como estratégia para melhorar a fazenda tende a aumentar cada vez mais. Se em 2009 o número de animais confinados se mantiver ou crescer um pouco, como acreditam diversos analistas de mercado, será pelo crescimento deste tipo de confinamento e não pelas atividades de riscos. Vamos entender o cálculo do confinamento estratégico. Neste caso, o boi entra bem mais pesado no cocho. Sendo assim, o custo da alimentação, por arroba engordada no cocho, será bem superior ao caso anterior. É mais dispendioso colocar peso em animais mais pesados, ensina a nutrição animal. O boi entra com 14@ e sairá com as mesmas 18,03@, consideradas no exemplo anterior. No entanto, ao invés de preços de mercado, consideraremos os custos de produção do animal a pasto, durante todo o processo de recria e engorda. Neste caso, determinamos os custos de produção em R$74,00/@ engordada a pasto. O frete também não existirá, pois o boi está na própria empresa. Acompanhe o resumo dos resultados esperados na tabela 2. Veja que os custos da dieta, da diária de confinamento e da arroba engordada no cocho aumentaram significativamente em relação ao confinamento como atividade. No entanto, o tempo de confinamento não chegou há 70 dias, enquanto o outro se estendia para até 122 dias. Aí que entra a diferença. Neste caso, o confinamento elevou o custo da arroba terminada em R$1,43/@ engordada. Se os preços de concentrados fossem mais altos, ou o ganho de peso diário, fosse inferior, os custos teriam aumentado em até R$5,00/@. Tudo dependerá do mercado e do desempenho técnico do confinamento. E o raciocínio é simples. O que gasta mais no cocho, ganha em tempo de uso de pastagens, redução no tempo de terminação e suporte na fazenda. No final das contas, o resultado é positivo. Apenas para reforçar o raciocínio, observe a comparação de ambos os confinamentos, na tabela 3. Os resultados dependem da relação entre valores dos custos e tempo em que eles se envolvem no processo. Por boi, produzir uma menor quantidade de arrobas mais caras pode ser melhor que produzir uma maior quantidade de arrobas mais baratas. Evidente que mesmo no confinamento estratégico, o produtor pode usar o preço de mercado do boi de 14 @ para entrar no confinamento. A esse procedimento é que dá-se o nome de custo de oportunidade. Sendo assim, antes de fechar o confinamento, o produtor analisa se compensa ou não levar os animais até o fim no cocho ou vendê-los como bois magros para outros terminadores. Para esta decisão, no entanto, o produtor precisa ter duas informações: a perspectiva de mercado para a época de venda destes animais e a simulação de resultados no confinamento a medida que o boi aumenta de preço. Considerando preços de venda de R$84,00/@ engordada ao final do confinamento, o produtor teria que vender, antes do confinamento, um boi de 14 @ a R$85,00/@ para que não compensasse fechar. Evidente que outras variáveis podem se envolver no processo decisório, como por exemplo, o risco de perder volumosos já armazenados na propriedade. Em 2008, por exemplo, compensava vender os animais no mercado e não confiná-los, tamanha era a sobrevalorização do mercado de boi magro em cima do boi gordo. Observe que o uso do mercado futuro vai tornando-se cada vez mais necessário nas fazendas produtoras de boi gordo. SIMULAÇÕES DE RESULTADOS Da mesma forma que as técnicas de produção e o acompanhamento da rotina das atividades são importantes, cada vez mais o produtor torna-se dependente de ferramentas gerenciais que o permitam analisar o futuro de sua propriedade. Antes cobrava-se dos empresários que os mesmos conhecessem os custos de produção e as particularidades de sua empresa. Hoje isso já não resolve, é preciso criar base para orçar despesas e prever resultados. Observe o exemplo de uma empresa de 7,2 mil cabeças em recria e engorda. A produção é toda a pasto, com lotação mediana. O empresário usa suplemento mineral comum nas águas e mescla uso de sal com uréia e sal proteinado de baixo consumo na seca. A empresa estava por decidir se confinava ou não 40% dos animais que seriam abatidos. A projeção do confinamento indicava um prejuízo de R$3,61 para cada arroba que fosse produzida no confinamento. O confinamento ainda aumentaria em 3% o custo final dos animais terminados. O critério de peso de entrada e saída e custos envolvidos é o mesmo apresentado na tabela 2. Apenas os ganhos de peso estavam estimados em 1,3 kg/animal/dia, o que aumentava o custo da arroba engordada. Diante desta realidade, a decisão é direta: não confinar! No entanto, quando analisou-se todos os demais custos e perspectivas de resultados na empresa, chegou-se à conclusão que mesmo naquela situação, o confinamento seria viável para a propriedade. Mesmo com resultados negativos no cocho, os lucros operacionais por hectare aumentaram em cerca de 60%, conforme pode ser observado na figura 1. Evidente que o exemplo visa ilustrar o tanto que o confinamento é benéfico dentro dos objetivos gerais de uma propriedade. É claro que é viável e bem mais interessante trabalhar com lucro mesmo nas arrobas engordadas. Por fim, resta concluir que o confinamento é uma técnica de terminação interessante, com maior controle por parte dos gestores e perfeitamente viável para todas as empresas de pecuária no Brasil. O custo de implantação é relativamente barato, cerca de R$180,00 a R$220,00 para animal de capacidade estática no confinamento. Essa estrutura será depreciada em 8 a 10 anos. Antes os produtores costumavam dizer que confinamento é um mal necessário na fazenda. Hoje já se diz apenas que confinamento é necessário na fazenda. A medida que o tempo passa vamos entendendo melhor as técnicas além de criarmos alternativas melhores para manejo e, especialmente, para a nutrição dos animais tratados no cocho. Um exemplo atual são as dietas praticamente sem volumoso. Além de serem lucrativas, técnicos e produtores estão dominando cada vez mais o uso destas dietas. Pode se dizer que não haverá, num futuro próximo, fazendas rentáveis que não usem em algum momento o confinamento como técnica estratégica.
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