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Scot Consultoria

Conservação de grão na forma úmida


Sexta-feira, 5 de junho de 2009 - 18h46

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


A conservação do grão na forma úmida com o uso da técnica de “silagem de grão úmido” tem se mostrado vantajosa por apresentar elevada eficiência qualitativa e quantitativa de conservação do concentrado energético, além de ser uma técnica prática e econômica. A silagem de grão úmido pode ser definida como o produto da conservação, em meio anaeróbico, de sementes ou grãos de cereais logo após a maturação fisiológica, com teor de umidade ao redor de 28%, na amplitude de 25 a 30%. Entende-se por maturação fisiológica o momento em que cessa a translocação de nutrientes da planta para os grãos, ocasião em que apresentam teores máximos de amido, proteínas e óleo (COSTA et al., 1999). Acreditava-se no passado, que suplementos contendo amido seriam mais aproveitados por ruminantes se fossem resistentes à degradação ruminal para serem posteriormente digeridos no intestino delgado (COSTA et al., 1999). Os grãos de cereais mais utilizados na alimentação animal fornecem altos teores de amido, entre os quais se destacam milho e sorgo, cujo valor médio é de 72% de amido no grão (HUNTINGTON, 1997, citado por COSTA et al., 2002). Estudos com silagem de grão úmido constataram aumento na digestão da matéria orgânica e, principalmente, aumento na digestão do amido. O processamento de grãos úmidos de milho e sorgo, com uso de técnicas de ensilagem, promove alterações físicas e químicas na molécula do amido que facilitam sua digestão. Em trabalho realizado por LADELY et al. (1995) citado por IGARASI et al. (2008a), a silagem de grão úmido apresentou uma melhor conversão alimentar em relação ao grão seco laminado para novilhos em terminação. Experimentos com bovinos realizados na UNESP (Universidade Estadual de São Paulo), onde foram testadas diferentes fontes de nutrientes em dietas completas, resultaram em variações de até 15% na conversão alimentar, obtendo-se os melhores ganhos com a silagem de grão de milho úmido (PORTELLA et al., 2002). A silagem de grão úmido pode ser digerida, em sua maior parte e mais rapidamente, no rúmen, e pode aumentar a incidência de acidose e, consequentemente, a diminuição no desempenho dos animais (FULTON et al., 1979, citado por COSTA et al., 1999). Desta forma, a mistura de um ou mais tipos de grãos de cereais ou o processamento do grão pode aumentar ou diminuir o período de digestão e alterar o local de digestão do amido, levando a uma maior eficiência alimentar. Devido ao seu benefício agronômico, o uso do grão de sorgo na dieta de bovinos tem aumentado nos últimos anos. Mas, ainda assim, o sorgo é rejeitado por muitos produtores por ter uma qualidade variável e menor valor nutricional em relação ao milho. Entretanto, dependendo do processamento físico do grão, o grão de sorgo pode apresentar 85 a 100% do valor nutricional do milho (PEDERSEN et al., 2000 citado por IGARASI et al., 2008a). IGARASI et al. (2008a,b) em estudo comparando silagem de grão úmido de milho e sorgo, observaram no sorgo 98,8% do NDT do milho e concluíram que a substituição da silagem de grão úmido de milho pela de sorgo como principal ingrediente energético da dieta não alterou o desempenho, características físico-químicas da carcaça, bem como maciez da carne de bovinos jovens, em confinamento, alimentados com dieta de alto grão. A conservação de grãos úmidos traz benefícios agronômicos interessantes, destacando-se o fato da colheita ser antecipada em três a quatro semanas, o que maximiza a utilização da terra. Além de reduzir perdas quantitativas e qualitativas (perda de grãos, ataque por pássaros, fungos e insetos) no campo, existe a vantagem de não exigir silos especiais para conservação e por diminuir as perdas causadas por fungos e insetos em comparação ao que ocorre com grãos secos, reduzindo o risco de contaminação com micotoxinas (COSTA et al., 1999). As práticas de ensilagem para o grão úmido são as mesmas que usadas em silagem da planta inteira. O silo de superfície não é recomendado, pois por não possuir paredes laterais, dificulta a compactação pelo deslizamento dos grãos. Assim, a preferência deve recair sobre os silos trincheira pelas facilidades operacionais e, consequentemente, pela conservação do material. Entretanto, existem no mercado os silos tipo “bag” como alternativa para conservação de grãos úmidos (COSTA et al., 1999). Após a colheita os grãos e, antes do ensilamento, devem ser moídos finos (para alimentação de suínos), quebrados ou laminados (para a de bovinos), para que ocorra uma melhor compactação e, consequentemente, facilite a eliminação do oxigênio. COSTA et al. (1998) citado por COSTA et al. (1999) verificaram que o custo da silagem de grão úmido de milho foi 5% mais econômica em comparação ao grão seco, por eliminar as etapas de limpeza e secagem. Pode-se também considerar que a melhor conversão alimentar da silagem de grão úmido reflete em um menor custo de produção. Segundo experiência prática de André Aguiar, consultor da Boviplan, o custo da silagem de grão úmido em comparação ao grão seco é muito próximo. Desta forma, a grande vantagem da silagem de grão úmido está no fato de antecipar a colheita e maximizar o uso do solo, podendo assim, antecipar o plantio da safra seguinte. Porém, um fator que afeta negativamente sua utilização é que não existi a possibilidade de ser comercializada. Portanto, o produtor deve ter um uso para a silagem de grão úmido dentro da própria propriedade. Caio Troula Fongaro – graduando em Engenharia Agronômica, ESALQ-USP. Manfred Folz - Engenheiro Agrônomo, Sócio-Consultor da Boviplan. Referências: Costa, C. et al. Conservação de grãos úmidos de cereais para alimentação animal. I Conferência Virtual Global sobre Produção Orgânica de Bovinos de Corte, 2002. COSTA, C. et al. Silagem de grãos úmidos. In: FEALQ. (Org.). Simpósio sobre Nutrição de Bovinos. Piracicaba: 1999, p. 69-87. IGARASI, M.S. et al. Desempenho de bovinos jovens alimentados com dietas contendo grão úmido de milho ou sorgo. R. Bras. Zootec., v.37, n.3, p.513-519, 2008a. IGARASI, M.S. et al. Características de carcaça e parâmetros de qualidade de carne de bovinos jovens alimentados com grãos úmidos de milho ou sorgo. R. Bras. Zootec., v.37, n.3, p.520-528, 2008b. PORTELLA, J. S.; ALVES, S. R. S.; Silagem Ácida de Milho com Grão Úmido para Gado de Corte. Circular Técnica 24, Embrapa Pecuária Sul, 2002.
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