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Scot Consultoria

Posição neutra?


Segunda-feira, 22 de outubro de 2007 - 14h43

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Fui assaltado nessa sexta em Goiânia. Estou falando sério. Para quem conhece Goiânia isso ocorreu perto do Parque Vaca Brava. GRAÇAS A DEUS o marginal não fez nada com a Priscila e comigo. Simplesmente queria a Hillux. Apontando uma pistola pra minha cabeça mandou nós descermos do carro e, sem olhar para ele, corrermos. Foi o que fizemos. Não durou nem um minuto a coisa toda. Duas conclusões tiro disso. Uma é a confirmação do que eu já sabia: Goiânia é famosa pelo roubo de camionetes. Dois é que existe uma quadrilha por detrás disso. Pude confirmar ao vivo porque o cara era “profissional”, se você entende o que quero dizer. No final agradeço pela vida da minha esposa e a minha. Vão-se os anéis e ficam os dedos. O resto o seguro cobre. Bom, vamos ao mercado. Essa semana marcou uma forte recuperação da arroba do boi nos mercados futuros. Vamos olhar o contrato de outubro-07 na BM&F e sentir a coisa. Em primeiro lugar estamos passando pela formação de um segundo topo no curto-prazo ao redor de R$64,50/@. Não está mostrado aqui, mas essa alta recente vindo dos R$62,00/@ está sendo acompanhada de aumento de volume de contratos negociados, o que é muito bom e serve como sinal importante de confirmação desse movimento recente. Por outro lado estamos passando por uma divergência negativa no IFR. Sempre é bom explicar o que é isso. Divergência negativa ocorre quando o preço vai em uma direção e força e ao mesmo tempo o IFR não acompanha esse movimento da mesma forma. Observem o gráfico. Desenhei duas retas em vermelho, uma no preço da arroba e outra no IFR. Percebem o que estou dizendo? O preço encostou novamente no pico anterior, o IFR não. Isso demonstra que essa alta pode não durar e abre espaço para uma reversão de tendência nos próximos dias. Na minha cabeça isso significa que estamos passando pelos momentos críticos nessa entressafra e estamos já, creio, nos aproximando dos picos para essa estação. Se o pico vai ocorrer amanhã, semana que vem ou em novembro isso não tenho como dizer. Mas posso dizer como estou me sentindo. Mesmo com o lado técnico indicando fraqueza, temos mais o que ver nessa alta. Talvez não no mercado futuro, mas no mercado físico. Existem os que vão aproveitar as recentes altas, mas a grande maioria vai começar a vender de verdade quando o preço começar a cair depois de ter sido estabelecido o pico. Quem tem boi gordo nos pastos e que não foram para o confinamento provavelmente os venderá assim que essa arroba bater nos picos de agosto. Ou seja, provavelmente venderá nos R$66,00/@ em São Paulo e nos R$62,00/@ no Mato Grosso do Sul. As escalas estão curtas, começou a chover no MS e PR e os próximos bois de pasto, o “grosso” deles ainda deve estar agora com umas 14 a 15 arrobas comendo proteinado e agora, comendo a brotação, teremos uma janela de falta de bois entre o final do confinamento e o início dos bois de pasto que pode se estender em novembro, dezembro e janeiro. Isso é o que estou sentindo agora, mas lá no fundo, num cantinho ainda mal iluminado nos porões de minha cabeça estou começando a mudar de idéia. Apesar de ainda estar animado, estou começando a gostar e esperar cada dia menos mais uma nova rodada expressiva de alta nas cotações. Estou começando a olhar com mais carinho a posição neutra. Isso quer dizer aproveitar o que temos aí dessa alta até hoje e começar a ser mais conservador. Pensar assim não é fácil, pode crer. Não gosto de entrar em conflito de pensamentos comigo mesmo. Isso ocorre em concordância com o sentimento humano de não acertar com facilidade a possibilidade de sua idéia estar errada. A gente tem mania de fixar uma coisa na cabeça, por exemplo, a arroba vai subir, e não tem “Cristo” nenhum que faça a gente mudar de idéia. Entenda a coisa. Tudo isso, esse negócio de preços, do que os frigoríficos fazem ou o que os confinadores fazem ou o que os pecuaristas fazem ocorre no tempo. Dia-a-dia a roda gira para o boi, e assim existe sempre uma inércia por detrás desses movimentos. Sempre existem os que detectam antecipadamente as mudanças, mas também existem os que percebem as mudanças depois de algum tempo, tardiamente. Falar em baixa ou estabilidade na arroba em plena formação do pico da entressafra é estranho, não é? Pois essa estranheza que você está sentindo é exatamente o confronto da análise técnica “fria” com a convicção emocional que temos da recente alta da arroba. É isso que estou começando a sentir. Essa convicção é amplificada quando conversamos com colegas e eles têm a mesma opinião que a nossa, daí além de sentirmos que “estamos certos” esse sentimento gera conforto e o conforto leva a complacência e a preguiça. Preguiça de continuar a raciocinar em cima do mercado e preguiça de sempre ser cético e duvidar de suas próprias convicções. Elas vêm e vão de acordo com o mercado. Então, para resumir, sabe quando estamos subindo um morro e ainda faltam uns bons 100 metros de subida, mas sabemos que dali para frente é só descida até a beira do rio? É exatamente nesse ponto que me situo agora. Vamos olhar para o indicador. O gráfico está abaixo. Vemos aqui essa segunda perna de alta também se formando no indicador da mesma forma que está se formando no contrato futuro de outubro-07. Não temos aqui nenhuma divergência no IFR; ele está trabalhando normalmente e caminhando para formar um segundo rompimento dos 80 pontos e assim confirmando essa segunda perna de alta nessa entressafra. Ao mesmo tempo em que está confirmando essa alta, também está dizendo: “Hei, já estou fazendo o que tinha que fazer. Não espere milagres daqui para frente.” Então é isso. As escalas estão curtas Brasil afora. Você viu o Pará? Arroba a R$60,00. Não esperava por essa! Mesmo preço do Mato Grosso do Sul... As exportações de boi em pé lá estão muito fortes além da escassez normal da época do ano e a entrada de novos frigoríficos na região estão contribuindo para a firmeza do mercado. E começa-se a formar uma visão para os preços da safra do ano que vem. O contrato de maio-08 está valendo hoje ao redor de R$60,80/@. Esse preço está bom para vender? Não sei. Só sei que é melhor do que os R$58,00/@ que estavam valendo dias atrás. Vou escrever uma análise sobre isso futuramente.
rogério goulart é administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.
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