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Scot Consultoria

É mole?


Segunda-feira, 19 de junho de 2006 - 13h16

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


O preço da arroba está bom para você? Depende... Depende de que lado da mesa de negociação você está sentado, do seu volume de vendas (ou compras), dos seus custos e do seu fluxo de caixa. Depende de mais alguma coisa? Ah, sim. Depende sim. Depende do valor da arroba quando você for vender (ou comprar) os animais gordos. É aqui que entra operação em bolsa. É engraçado falar nisso porque mercado futuro é que nem cabeça de bacalhau: todo mundo sabe que existe, mas ninguém viu uma de perto. Bolsa é a mesma coisa; todo mundo sabe que existe, mas pouquíssimos foram lá e experimentaram vender (ou comprar) um contrato. Mas é o seguinte: é verdade, tem um custo para se operar. Não adianta querer fazer milagre. Você gasta ao redor do valor de uma arroba para cada caminhão vendido (ou comprado) na bolsa. Além disso, tem que deixar uma grana lá para cobrir os eventuais ajustes no preço. Esse papo é chato, né? Pois é. Se lembra quando falaram que tínhamos que dar sal mineral pro boi? Que absurdo! Pra que dar “mineral” pro boi se ele tá engordando bem, né? Mas daí o vizinho de cerca chegou para um cafezinho e começou a falar que ele tinha começado a dar o tal de “mineral” pros bois dele e, rapaz, não é que tá funcionando direitinho? Até o pêlo dos animais deixou de ficar com aquele aspecto arrepiado, e aparentemente estão engordando mais também! Mas você fica desconfiado... Esse vizinho está querendo dar uma de entendido para cima de você. Com o bom e velho espírito mineiro, quando ele te chama dali a uns meses para acompanhar com ele a pesagem e o embarque dos bois gordos, você vai lá para assuntar essa história direito e ver se esses bois dele realmente estão diferentes como ele falou que estavam. Aí vem o espanto logo de cara quando você desse da sua D-10 com carroceria de madeira. E não é que os bois estão mais bonitos mesmo? E esse peso? Como é que podem estar mais pesados que os meus, se os nossos pastos são muito parecidos? A história do mercado futuro é a mesma, só que ao invés de ir ao curral do vizinho, você vai ao escritório dele e senta na frente do computador dele e vê, com espanto, ele conseguir vender os seus animais com dois, cinco até oito reais a mais que você. Mas quer saber uma coisa engraçada? No final da história o seu vizinho vai ao seu escritório, enxerga os seus números, entende o que você quer dizer, fica espantado com o seu resultado, mas vai embora ainda não acreditando no que você falou pra ele. É mole? Eu até entendo essa desconfiança já que números na tela do computador são muito diferentes que bois no pasto, que ele consegue ver, pesar, tocar, comprar e vender. Mas uma coisa é acreditar nos resultados da venda (ou compra) no mercado futuro e utilizar isso de acordo, e outra é fingir que ele não existe. Fingir que ele não existe é ignorância. Ao invés de ter a humildade de tentar aprender e colocar em prática essa ferramenta na sua realidade, ficar falando que não precisa de “mercado futuro” é hipocrisia. Vender ou comprar bois em bolsa nada mais é para o fazendeiro que mais uma tecnologia dentre as que ele tem à disposição para melhorar seus resultados, assim como ele fez quando começou a utilizar sal mineral, depois sal proteinado, depois confinamento no inverno. Nesse mesmo caminho passou a utilizar a cerca elétrica, dividir os pastos e, hoje em dia, partir já para a adubação. É simples assim. Não falo isso para me mostrar superior perante ninguém, muito pelo contrário, pois eu era ignorante ao extremo até 1997 sobre a existência do mercado futuro do boi. Ignorante não... burro mesmo. Foi a partir dali o início do nosso interesse por essa ferramenta, numa conversa com o meu cunhado operador de mercado financeiro, e por incrível que pareça começamos aqui nas fazendas a “mexer” com mercado futuro até antes mesmo se darmos sal proteinado na seca. Vai entender! Hoje em dia nem pensamos aqui em comprar bois magros ou garrotes sem a referência do mercado futuro para saber quanto iremos ganhar nesses animais no momento da venda. Ah sim, ganhar, e não empatar e nem perder, pois só compramos garrotes e bois magros se eles estiverem dando lucro. Se não estiverem dando lucro, deixamos o dinheiro aplicado no banco até o mercado futuro novamente sinalizar lucro. Muito complicado? Bom, é e não é. Como toda nova forma de pensar, certa confusão sempre acontece no início. É para isso que existe quem já conhece, é mais esperto e tem mais experiência que a gente (como no meu caso, meu cunhado) para nos ajudar no começo até a gente engrenar na coisa.
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