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Scot Consultoria

Dólar descalibrado pode fazer água


Terça-feira, 26 de julho de 2005 - 19h32

Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.


Se ao ler esse artigo o Banco Central não tiver feito nada, o real deve ter mantido sua valorização frente ao dólar. Nesse caso, consumidores comemorem, afinal os produtos importados estarão mais baratos e até mesmo os nacionais poderão ter menores preços, pois sem estímulo a exportação ocorrerá um aumento de oferta de produtos no mercado interno, portanto, tendência de preços menores. Calma lá!!!! Os mesmos consumidores que comemoram agora podem chorar ali na frente com a perda de emprego. É que dólar descalibrado pode fazer água. O Brasil optou pelo câmbio flutuante, isto é, um câmbio que segue a oferta e demanda pela moeda estrangeira. Como o país observa maior entrada de dólares do que saída, aumenta a oferta e, sem aumenta de demanda, a cotação cai. Acontece que, apesar do superávit comercial (diferença favorável ao país entre exportações e importações) acumulado até março totalizar US$ 18.921 bilhões, já entramos na curva descendente. Mais de 259 empresas brasileiras deixaram de ser exportadores, isto somente no mês de março deste ano. O que mais chama a atenção é que as exportações brasileiras estão nas mãos de cerca de 800 empresas, que concentram 85% do volume enviado para fora do país. Só para citar um parâmetro, estimativas apontam que deveríamos ter algo na ordem de 100 mil empresas exportadoras, para fazer jus ao tamanho e potencial do Brasil. Se olharmos a “floresta” do desempenho externo podemos ficar tranqüilos, afinal, dólar baixo sem prejudicar demasiadamente as exportações, é sinônimo de menor inflação e, portanto menores preços ao consumidor. Agora, se olharmos os vegetais dessa floresta a coisa se complica. Como ficarão as pequenas e médias empresas que atuam em mercados extremamente competitivos no comércio internacional? Não possuem escala para suportarem uma defasagem cambial exagerada. Já começaram as demissões, pois mesmo que a opção seja para o mercado interno não há renda suficiente para aumento de demanda e o crédito, outra importante fonte de recursos, é extremamente caro. No contexto das contas externas nosso passado nos condena. O erro no câmbio no início do plano real nos levou a déficits sem precedentes, tanto na balança comercial, como no saldo de transações correntes. Nossas reservas cambiais foram torradas e as saídas apontaram para ajuda externa do Fundo Monetário Internacional e elevação exagerada (ainda mais) dos juros internos. Então a coisa fica assim: quem vai as compras aproveite o momento e realize o sonho de consumo de importados, mas sem se endividar em dólares. Empresas com recursos renovem seu parque industrial com equipamentos importados. Empresas que dependem do mercado externo busquem alternativas para contornar o momento. E todos nós: rezemos para que o governo tenha juízo e volte a calibrar o câmbio evitando os erros do passado. Quem analisa somente o curto prazo não tem senso de planejamento.
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