Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.
O Brasil optou por não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Esta decisão abre espaço para uma ampla discussão que transcende os aspectos econômicos.
O FMI tem como função básica socorrer países com desequilíbrio no balanço de pagamentos (registro de toda a movimentação de recursos com o resto do mundo). Quando faltam recursos ou então há indícios de forte desconfiança no país, o Fundo, após minuciosa análise, libera recursos, que garantem uma "blindagem" contra ataques especulativos, gerando entre outras coisas, tranqüilidade para superar a crise.
Ao conceder crédito, o FMI passa a ingerir na rotina econômica do país.
Nesse caso utiliza o que chamamos de instrumentos ortodoxos (clássicos), ou seja, combina forte ajuste fiscal (aumento de arrecadação e/ou redução de gastos) e política monetária apertada (juros altos, rigidez monetária, etc).
Parte do princípio que se o país não cuidar das contas públicas e da base monetária, a economia sai de controle, gerando entre outras coisas a indesejada inflação.
Ao não renovar o acordo é como se o paciente chamado Brasil saísse da UTI, e dissesse aos médicos, "quero tentar um tratamento em casa". Pactua com a família: cumprirei horário, farei exercícios, tomarei os medicamentos recomendados, e farei tudo que for necessário para provar que estou bem e não terei recaída.
A dúvida que paira no ar é que, como essa iniciativa foi do paciente e não da junta médica, será que a opção do país em não renovar o acordo se deu em função da melhora do paciente ou por ser considerado um paciente crônico, portanto, não vale a pena mais ficar na UTI, já que não tem mais salvação?
Se não fosse um momento de forte discussão política, que tem como pano de fundo as eleições do próximo ano, a avaliação seria positiva, afinal, uma economia anual com o fim do acordo, acima de R$ 1,1 bilhão só de juros, não é nada mal, entretanto, não podemos descartar a opção pela capitalização política com esse rompimento, ou seja, o governo pode cair na fala comum: "a gente conseguiu ser tão maduro que a gente rompeu com o FMI. A gente está no caminho certo".
Nesse caso vale a celebre frase: "a mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta".
O governo terá que se desdobrar para provar que é austero. Neste particular a prática tem sido no sentido de aumentar arrecadação com péssima qualidade nos gastos. Isso ninguém mais suporta.
Seria mais prudente segurar a coisa para não ter que voltar a pedir socorro, do que justificar a volta ao Fundo.