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Scot Consultoria

É o olho do dono que engorda o boi


por Otaliz

Sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009 - 08h01

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


É interessante como alguns preceitos, ditados ou expressões, de tanto serem repetidos assumem foros de verdade dogmática, incontestável. É porque é e pronto – não se discute mais! E assim se perpetuam no tempo, atravessando gerações. É frequente proprietários rurais afirmarem com certa dose de orgulho que “é o olho do dono que engorda o boi.” Com isto estão afirmando que a presença física do dono é absolutamente indispensável para o bom desempenho da empresa rural, na medida em que centralizam todas as decisões, controlam todos os procedimentos e vigiam de perto as atividades desenvolvidas pelos empregados. Depreende-se daí que os funcionários são irresponsáveis, incompetentes, desprovidos da capacidade de pensar e criar, e que, portanto não merecem confiança. Sob esta ótica a empresa rural é totalmente dependente das decisões do proprietário, o que, sem dúvida, retarda o processo evolutivo da mesma. Na verdade, o preceito de que “é o olho do dono que engorda o boi”, ao mesmo tempo em que alimenta a vaidade do proprietário através de uma autovalorização, encobre uma importante falha administrativa – a incapacidade de delegar poderes. Imagine o leitor se os proprietários de redes de lojas, supermercados ou de bancos pensassem da mesma forma. Certamente essas redes com filiais espalhadas pelos Estados, e mesmo pelo País, não existiriam pela absoluta incapacidade dos donos de se fazerem presentes em todas as unidades. No entanto existem e funcionam muito bem. Ocorre que esses empresários investem no treinamento e capacitação de seus funcionários, valorizam os mesmos através de remuneração adequada e abrem espaços para o crescimento deles dentro da empresa. Desta forma não usufruem apenas do serviço dessas pessoas, mas sim da participação ativa, interessada e criativa das mesmas. Esses funcionários se sentem parte integrante da empresa, e a respeitam na mesma medida em que são por ela respeitados. Nesse ambiente é fácil delegar poderes e dividir responsabilidades. E a empresa evolui porque existe uma integração de esforços na busca dos objetivos finais. “...o preceito de que “é o olho do dono que engorda o boi”, ao mesmo tempo em que alimenta a vaidade do proprietário através de uma autovalorização, encobre uma importante falha administrativa – a incapacidade de delegar poderes.” Mas o empresário rural não pode delegar poderes porque a mão-de-obra disponível é de baixa escolaridade e desqualificada. Suponho que neste momento, seja a conclusão da maioria dos proprietários rurais. Reconheço que esta é uma realidade. De um modo geral, as empresas rurais estão submetidas a um círculo vicioso perverso: funcionários com baixa ou nenhuma qualificação profissional – salários baixos – insatisfação dos funcionários – desempenho medíocre dos mesmos – baixa rentabilidade da empresa – dificuldade para contratar mão-de-obra qualificada e assessoria técnica – centralização das decisões. E assim, cada vez mais vai se consolidando o preceito de que “é o olho do dono que engorda o boi”. Mas é imperioso que este círculo vicioso seja rompido sob pena de, em persistindo, manter as empresas rurais brasileiras num patamar de estagnação incompatível com os desafios da globalização que, se por um lado abre mercados, por outro eleva o nível de competição. E cabe ao produtor rural através de seus órgãos de representação, sindicatos e associações, a iniciativa de romper este círculo. O caminho para uma melhor qualificação da mão-de-obra rural passa necessariamente por uma profunda reforma no sistema básico de ensino no meio rural. Este tema que já foi abordado nesta coluna deveria merecer uma atenção especial dos empresários e das instituições que os representam. A existência e a qualidade das escolas rurais deveriam estar na pauta das preocupações maiores dos produtores. É tarefa árdua qualificar trabalhadores analfabetos ou semi-alfabetizados. Ações neste sentido trarão consequências benéficas no médio e longo prazo. No curto prazo, seria interessante que os órgãos de assistência técnica institucional atuassem de forma mais educativa, transferindo a informação técnica ao invés de executá-la. Por fim, mas não menos importante, devem os empresários rurais se aproximar cada vez mais de instituições como o SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que há anos vem promovendo o treinamento e a profissionalização do homem do campo. Por oportuno, é interessante registrar que tanto quanto os empregados, também os empresários rurais necessitam de profissionalização. Há ainda no meio rural brasileiro uma pesada carga de conservadorismo que dificulta a implantação de novas tecnologias tanto na área produtiva como na administrativa.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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