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Scot Consultoria

Ruminante: uma máquina maravilhosa


por Otaliz

Sexta-feira, 29 de junho de 2007 - 14h40

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


Sob o ponto de vista histórico, os ruminantes têm estado estreitamente vinculados ao homem desde a formação dos primeiros agrupamentos humanos. O processo evolutivo que transformou o homem de caçador primitivo a agricultor sedentário, ocorrido há mais de 7.000 anos, no início do período neolítico, dependeu fundamentalmente de dois fatos intimamente relacionados: o cultivo de grãos e a domesticação dos ruminantes primitivos. O primeiro animal domesticado que forneceu leite para as sociedades primitivas foi a cabra. Apesar desse convívio milenar, ainda hoje uma parcela considerável da população deste País, incluindo produtores leiteiros, pouco ou nada sabe sobre o processo ruminatório que tanto tem fascinado os pesquisadores e fisiologistas. Não é para menos! A combinação harmônica de processos bioquímicos, mecânicos e biológicos que se alternam nos quatro compartimentos estomacais dos ruminantes é que dá aos bovinos a extraordinária capacidade de transformar alimentos grosseiros e fibrosos como os pastos, de difícil digestão para a maioria das espécies, em leite – um dos alimentos mais completos para a dieta humana. No curto espaço deste artigo não poderemos detalhar a dinâmica do processo ruminatório. Nos deteremos então ao aspecto extremamente interessante que é representado pela população microbiana que vive no rúmen dos bovinos. Trata-se do mais clássico exemplo de simbiose, posto que esses grupos microbianos vivem em perfeita harmonia com o hospedeiro, num bom acordo biológico, de tal modo que esses microrganismos são necessários aos bovinos e vice-versa. Entre os benefícios que essa micropopulação proporciona aos ruminantes, salienta-se a digestão da celulose – fibra dura dos vegetais que é de difícil digestão para a maioria das espécies, incluindo o homem. Esses grupos bacterianos atacam a celulose, hidrolisam-na e a transformam em importantes fontes de energia para o metabolismo do animal. Também no rúmen, o maior dos quatro compartimentos gástricos, ocorre a digestão e a síntese de proteínas, pois determinados grupos bacterianos são capazes de sintetizar aminoácidos de elevado valor biológico a partir de elementos nitrogenados mais simples e até mesmo não protéicos, como a uréia. Some-se a isso a enorme capacidade digestiva dos bovinos que faz com que uma vaca de 500 kg de peso vivo seja capaz de consumir aproximadamente 60 kg de forragem verde por dia, e estaremos diante de uma máquina capaz de transformar produto grosseiro em alimentos nobres. Por tudo isso é pouco recomendável a atitude de superestimarmos o valor dos alimentos concentrados na dieta dos ruminantes porque, ao fazê-lo, estaremos menosprezando a habilidade natural dos bovinos e aumentando de forma significativa os custos da produção leiteira. Se quisermos competir com vantagens no mercado internacional de lácteos temos que produzir leite com baixos custos e isto se consegue investindo na produção, manejo e conservação de boas pastagens.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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