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Leite é leite...ora!


por Otaliz

Terça-feira, 29 de maio de 2007 - 14h47

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


Numa assembléia de produtores leiteiros, um exaltado líder sindical vociferava contra o fato das indústrias de laticínios pagarem preços diferenciados para produtores de uma mesma região. Na lógica desse sindicalista, se a indústria estava pagando R$0,52/litro para alguns produtores, teria que obrigatoriamente pagar o mesmo valor para todos os produtores porque “afinal, leite é leite, ora...não há porque privilegiar apenas alguns produtores”. É claro que se trata de uma visão obtusa, na medida em que ignora que, ao valorizar o leite pela sua qualidade, a indústria está se ajustando às demandas do mercado consumidor cada vez mais exigente no que se refere à qualidade e sanidade dos alimentos, bem como às questões de rendimento industrial dos produtos e, ainda mais, às exigências do mercado externo que está se abrindo para os alimentos produzidos no Brasil. Padronizar o leite através de “discursos” é uma questão temerária, para não dizer irresponsável. A indústria nacional ainda recebe, mas não o fará por muito tempo, leite com elevado teor bacteriano, índices de acidez acima do desejável e composição inadequada aos interesses industriais e sanitários. A instrução normativa 51, na prática, ainda não está em pleno vigor, mas é necessário que esteja em curto espaço de tempo. Trata-se de um avanço considerável, no sentido de valorizar o produtor consciente e competente, contemplando também os interesses vinculados à saúde pública. Postar-se contra medidas que visam valorizar a qualidade de produtos alimentícios é andar na contramão do progresso. E, é bom lembrar que, estamos apenas nos pródromos da qualificação do leite, posto que a questão da qualidade, por enquanto, está restrita a aspectos higiênico-sanitários. Mais cedo do que possam esperar esses líderes sindicais alienados da realidade, o leite não mais será valorizado apenas pela qualidade sanitária, mas sim pela qualidade composicional, como já ocorre em vários países, onde o preço do leite não é estabelecido por litro do produto, mas sim por quilos de sólidos totais como gordura, proteína ou lactose. É lógico que o papel dos sindicatos que representam os produtores rurais é defender os interesses dessa classe. Mas é imprescindível que esses interesses estejam claramente definidos e focados na viabilização e sustentabilidade desses produtores dentro da cadeia produtiva, ao longo do tempo, e com uma visão ampla de agronegócio. Há neste país um enorme contingente de produtores leiteiros que carecem, antes de tudo, de um processo educativo que os tornem capazes de absorver tecnologia e, por conseqüência, ajustarem-se às exigências de um mercado cada vez mais seletivo e excludente. Parece-me ser esta uma importante bandeira de luta a ser levantada pelos sindicatos rurais. Por outro lado, lutar pela manutenção de práticas produtivas ineficientes ou sistemas de produção inadequados às atuais exigências do mercado, é tentar viabilizar o inviável.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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