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Scot Consultoria

A banalização do ensino superior


por Otaliz

Terça-feira, 30 de janeiro de 2007 - 19h25

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


  • Pasme! Se você quiser se graduar em Administração de Empresas, freqüentando aulas apenas uma noite por semana, durante um período de pouco mais de dois anos, basta candidatar-se. E o vestibular?! Ah... uma simples prova de redação será o suficiente. Concluído o curso neste curto espaço de tempo, você receberá o diploma devidamente aprovado pelo MEC (Ministério da Educação).
  • Pronto! Você está apto para engrossar a fila dos desempregados ou subempregados ou, quem sabe, concorrer no mercado de trabalho com outros profissionais que “ralaram” durante quatro ou cinco anos em bancos universitários para obterem a mesma graduação. Claro... nesse momento, os donos dos cursos “caça-níqueis” estarão “nem aí” para você.
  • Este exemplo se reproduz aos milhares neste país, abrangendo diferentes cursos de nível universitário. A criação desmesurada de universidades particulares estabeleceu um clima de competição acirrada entre elas. Afinal, essas universidades precisam sobreviver economicamente e para isso necessitam de alunos pagantes. Como a oferta de vagas do conjunto dessas universidades é maior do que o número de candidatos em determinadas regiões, estabelece-se uma disputa feroz por vestibulandos.
  • Estratégia – oferecer “vantagens” especiais tais como vestibular de “mentirinha”, cursos suaves, sem maiores exigências quanto à freqüência e desempenho do aluno e mensalidades mais baratas.
  • Resultado – anualmente essas universidades despejam no mercado um enorme contingente de jovens despreparados tecnicamente para enfrentar os desafios impostos pelas comunidades ou empresas carentes de informações e de tecnologias.
  • Para sobreviver em termos econômicos essas instituições necessitam reduzir drasticamente os seus custos operacionais. Por aí se explica a preferência pela contratação de professores hora-aula, ou seja, profissionais que fazem “bico” nas faculdades, sem um comprometimento mais profundo com a instituição e seus objetivos. Isso faz com que essas universidades fiquem fechadas em si mesmas, limitando-se apenas a formar alunos e sem nenhuma influência no meio onde atuam. Ora, como não interagem com o ambiente, ignoram suas carências tecnológicas, bem como o tipo ou perfil do técnico a ser formado para atender essas demandas.
  • Mas por que as pessoas procuram esses cursos de terceira categoria, pagos e de eficiência duvidosa? Bem, aqui, por paradoxal que possa parecer, existe uma lógica. Egressos de um ensino básico e fundamental absolutamente deficientes (vide provas do ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio), um enorme contingente de jovens opta por essas faculdades porque, diante da grande concorrência, não se sente preparado para enfrentar vestibulares de universidades federais.
  • Fecha-se assim um círculo vicioso – jovens despreparados obtêm títulos de graduação em faculdades pífias e, ainda despreparados, vão enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Conseqüência – frustração do técnico recém formado ou de quem contrata seus serviços.
  • Na área de ciências rurais o problema não apenas se repete, como se avoluma. No momento em que o mercado mundial de alimentos se abre para o Brasil e em que precisamos potencializar nossa produção em termos de quantidade e qualidade, aproveitando as nossas enormes vantagens comparativas no que se refere a clima, solo e extensão de áreas cultiváveis, nos deparamos com um vácuo entre a geração de tecnologia e a sua aplicação prática no campo.
  • Tecnologia existe, mas a sua transferência para o campo é muito deficiente. Uma questão de assistência técnica profundamente alineada da real necessidade do campo.
  • Voltarei a este tema.
    Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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