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Scot Consultoria

Chifre em cabeça de cavalo


por Otaliz

Quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006 - 14h14

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


  • O processo de planejamento deve obedecer a seguinte cronologia: reconhecimento da situação atual (diagnóstico); definição da situação ideal desejada (futuro); identificação do que falta para chegar lá (problema); levantamento das soluções possíveis (alternativas). Em termos de planejamento, estes procedimentos são primários e essenciais. No entanto, observa-se com extraordinária freqüência, que diante de problemas importantes, é muito comum os interessados procurarem soluções onde elas não estão.
    EXEMPLO DA PECUÁRIA
  • Parece-me que é exatamente isto o que vem acontecendo com a pecuária de corte no Brasil e mais particularmente no RS. Mergulhados numa crise que já perdura há mais de três anos, com os preços do boi estagnados, ao invés de se debruçarem sobre o problema, identificar as causas da origem e da persistência do mesmo e desenvolverem alternativas para superá-las, preferem buscar soluções imediatas para amenizar a crise financeira, sem refletir sobre as conseqüências danosas que a solução encontrada poderá trazer para o futuro da própria atividade pecuária. É fruto do desespero, dizem alguns. Prefiro acreditar que se trata de uma manifestação evidente de falta de visão empresarial associada a um conservadorismo e tradicionalismo que oblitera a capacidade da análise e a disposição para as necessárias mudanças no processo produtivo.
  • É lógico, por uma questão geográfica, estou me referindo a situação da pecuária de corte do RS, mas, com talvez um pouco de pretensão, penso que alguns conceitos e exemplos citados se ajustam à exploração pecuária de outros Estados.
    O BONDE PASSOU
  • Em primeiro lugar, parece-me que os pecuaristas não avaliaram e por conseqüência, não se ajustaram às extraordinárias mudanças ocorridas no mercado de carnes do Brasil.
  • É certo que durante mais de um século, a carne bovina reinou absoluta no mercado de carnes brasileiro, praticamente livre de competição com carne de outras espécies. Levantamento realizado em 1975 mostrava essa realidade – do total de carnes consumida pelo povo brasileiro, o frango representava 7% e o bovino 62%. Já em 1995 o mesmo estudo mostrava uma outra realidade – do total de carnes consumida, o frango agora representava 42% e o bovino também 42%.
  • O fato é que os componentes da cadeia agroindustrial do frango agiram com profissionalismo – analisaram a situação, identificaram os problemas e implementaram alternativas para mudar a situação. Ocorre que, os produtores de carne bovina levaram muito tempo para se dar conta de que agora tinham pela frente um poderoso concorrente, muito bem organizado e altamente competitivo. Some-se a isto que as cadeias agroindustriais do suíno e do peixe também se organizaram e ganharam espaços importantes no mercado de carnes de tal modo que hoje o consumidor tem várias alternativas de escolha na hora de comprar carne.
  • Outro fato significativo é que as relações entre os elos que constituem a cadeia agroindustrial da carne bovina sempre foram conturbadas, conflitantes e eivadas de desconfianças. E este quadro ainda persiste hoje. É muito confortável procurar culpados desta situação neste ou naquele elo da cadeia. No entanto me parece que as falhas e os erros permeiam todos os elos da cadeia de forma igual, desde o setor produtivo, passando pela agroindústria, até o setor de varejo. Não há diálogo e nem entendimento. Cada elo da cadeia “puxa brasa para o seu próprio assado” enquanto os outros setores concorrentes se organizam e se tornam cada vez mais eficientes. Neste ambiente não consigo vislumbrar um porvir mais atraente para a pecuária de corte brasileira no curto prazo.
    EXEMPLO DO RS
  • A região da fronteira do RS, mais ao Sul do Estado, foi durante séculos o reduto da pecuária de corte, por se tratar de uma região amplamente favorável (solo e clima) à exploração pastoril. Por essa razão, a atividade pecuária sempre foi o carro chefe da economia dessa região, bem como teve papel importante na economia do Estado.
  • Mas por outro lado, por serem pouco profundos, os solos desta região não são favoráveis a cultivos anuais intensivos, como a cultura da soja. No entanto, como forma de contornar a crise da pecuária, os fazendeiros estão arrendando áreas de coxilhas para o plantio de soja. Trata-se de uma solução extremamente arriscada na medida em que compromete, segundo alguns técnicos, de forma definitiva a persistência daquilo que a região sempre teve de melhor – excelentes campos nativos. É como matar o doente ao invés de curá-lo.
  • Buscar soluções onde elas não estão é como procurar chifres em cabeça de cavalo. As chances de sucesso são remotíssimas e enquanto esperamos pelos resultados dessa procura, os problemas continuarão se avolumando. Até quando???
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