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Scot Consultoria

Carta aberta


por Otaliz

Segunda-feira, 23 de janeiro de 2006 - 20h12

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


  • Carta aberta, escrita por Polan Lacki, aos professores das escolas fundamentais rurais, das escolas agrotécnicas, das faculdades de ciências agrárias e aos extensionistas rurais.
  • No Brasil, já realizamos suficientes estudos e promovemos longas discussões para identificar as múltiplas causas da pobreza e do subdesenvolvimento rural.
  • Finalmente, estamos chegando ao consenso de que, a mais importante de todas elas é a inadequação e insuficiência dos conhecimentos que possuem os habitantes rurais. Este consenso indica que existe pobreza rural, não tanto porque aos pobres lhes faltem recursos produtivos, e sim porque não possuem as competências necessárias - conhecimentos, aptidões, habilidades, valores e atitudes - para que saibam, possam e queiram corrigir as suas próprias ineficiências e utilizar os recursos disponíveis, com maior racionalidade, eficiência e produtividade.
  • Isto significa que a pobreza e o subdesenvolvimento rural são conseqüências diretas das inadequações e "disfuncionalidades" do nosso anacrônico sistema de educação rural. - Com honrosas exceções:
  • As escolas fundamentais rurais estão outorgando uma formação divorciada das mais elementares e imediatas necessidades de vida e de trabalho imperantes no campo. Ensinam às crianças muitos conhecimentos irrelevantes, em vez de ensinar-lhes conteúdos mais pragmáticos que elas possam utilizar e aplicar na correção das suas ineficiências e na solução dos seus problemas cotidianos. É impressionante o divórcio existente entre o que estas escolas deveriam ensinar e o que realmente estão ensinando.
  • As escolas agrotécnicas e as faculdades de ciências agrárias estão "perpetuando" currículos obsoletos e formando técnicos e profissionais muito teóricos. Estes, ao egressar, simplesmente não estão em condições de solucionar os problemas mais elementares dos produtores rurais.
  • A inadequada formação nos três níveis da educação formal recém mencionados é a principal causa da ineficácia dos serviços de extensão rural, porque os extensionistas não estão preparados, nem técnica nem metodologicamente, para ensinar aos agricultores; estes, por sua vez, não estão preparados para assimilar os ensinamentos que os extensionistas lhes transmitem.
    INEFICIÊNCIAS
  • São tantas, tão graves e tão óbvias as ineficiências e distorções do referido sistema e é tão negativa a sua incidência no futuro desempenho dos educandos (como agricultores, como empregados rurais, como pais e mães de família, como cidadãos e como membros das comunidades), que é difícil acreditar que ainda continuem vigentes, pois elas são simplesmente inaceitáveis; também é difícil entender as razões pelas quais a sociedade continua, durante décadas e décadas, aceitando passivamente estes anacronismos.
  • Portanto, é necessário adotar medidas que assegurem maior realismo, objetividade e funcionalidade aos conteúdos curriculares, aos métodos pedagógicos e à administração das escolas. A tarefa é urgente, não há mais tempo a perder.
  • O esforço que os educadores continuam dedicando a formular justificativas, reais ou imaginárias, do "porquê" o sistema ainda não adotou as medidas corretivas, deve ser aplicado em adotá-las.
  • É necessário eliminar estas ineficiências e distorções, mesmo que as escolas estejam empobrecidas e mal equipadas e que os seus orçamentos sejam exíguos. É necessário fazê-lo de imediato, com ou sem decisões políticas de alto nível, com ou sem recursos externos adicionais.
    QUEM DEVE PROTAGONIZAR ESTAS MUDANÇAS: O MINISTRO DA EDUCAÇÃO, OS PARLAMENTARES OU OS PRÓPRIOS PROFESSORES?
  • Embora reconhecidamente existam fatores externos ao sistema educativo, que dificultam o seu melhor desempenho, muitas das suas "disfuncionalidades" se originam nas próprias escolas e nos próprios professores; idem nas próprias agências de extensão rural e nos extensionistas. Por esta razão, são os próprios professores e extensionistas os que, em boa medida, podem eliminá-las ou corrigí-las, por mais adversas que sejam as suas condições de trabalho e de salários e por mais desejadas ou desejáveis que sejam as ajudas externas.
  • Graças às atuais políticas de descentralização, delegação e desconcentração educativa, o melhoramento da qualidade da educação rural não necessariamente deve ocorrer por iniciativa, decisão e ação do Ministro da Educação, do Secretário Estadual de Educação, dos legisladores do Congresso Nacional ou das assembléias legislativas, do governador do Estado, do reitor da universidade, do diretor da faculdade ou do diretor estadual do serviço de extensão rural.
  • Além do mais, sejamos objetivos e realistas, os professores e extensionistas não têm maiores motivos para continuar esperando que o Ministro da Fazenda faça uma generosa injeção de recursos financeiros no referido sistema, porque, ante a evidente insuficiência de recursos públicos, tal injeção é altamente improvável, para não dizer que é simplesmente impossível que tal generosidade possa ser generalizada. Nestas condições, a introdução de modificações deve depender muito mais dos próprios professores e extensionistas que das autoridades do País. Muito mais, da vontade e decisão pessoal de cada educador, que da vontade e decisão política dos governos.
  • Em base a estes antecedentes, se propõe que os próprios professores e extensionistas assumam como seu o desafio de corrigir aquelas muitas distorções que são "corrigíveis" por eles mesmos. Em vez de continuar reivindicando, infrutiferamente, durante anos e décadas, que o governo federal promova uma macro-reforma elaborada e executada de cima para baixo e de fora para dentro do sistema educativo, é necessário e possível que os professores e extensionistas efetuem as suas próprias "reformas", de baixo para cima e de dentro para fora do referido sistema (1).
  • A estratégia de começar de baixo para cima e de dentro para fora, é uma maneira pragmática e eficaz de romper a inércia e o imobilismo que atualmente imperam na maioria das instituições do sistema de educação rural.
  • A estratégia de reduzir a importância/status da eterna justificativa de que "faltam recursos e decisões políticas" possui a seguinte vantagem adicional: permite identificar quais são os educadores que realmente desejam realizar as modificações possíveis e quais preferem continuar procurando boas excusas para não executá-las.
  • O que se propõe é que os educadores façam aquilo que se deve fazer quando as escolas são pobres e os governos estão desfinanciados: "produzir mais e melhores resultados educativos com menos recursos".
  • No mundo contemporâneo, os educadores, aos quais está dirigida esta mensagem, são os profissionais que podem oferecer a mais significativa e decisiva contribuição à superação da pobreza e do subdesenvolvimento rural. Muito maior que a ajuda que podem oferecer os planejadores, os economistas, os assistentes sociais, os médicos ou os nutricionistas.
  • Nesta denominada era do conhecimento, do eficiente ou ineficiente desempenho dos professores e extensionistas dependerá o êxito ou o fracasso de todas as iniciativas em prol do desenvolvimento agrícola e rural; e, conseqüentemente, o maior ou menor bem-estar de dezenas de milhões de pobres do nosso país. (1) Textos que respaldam tecnicamente esta proposta estão disponíveis na seção "Artigos", em http://www.polanlacki.com.br. Lá também estão descritas as medidas internas que os professores, extensionistas e suas respectivas instituições podem introduzir, mesmo que não contem com ajudas externas. Críticas a esta proposta e contribuições para melhorá-la, serão bem-vindas, através do e-mail Polan.Lacki@uol.com.br - Nota: POLAN LACKI – é Engenheiro Agrônomo, durante 23 anos atuou na Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – FAO-ONU.
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