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Scot Consultoria

Exportações, certezas e incertezas


Terça-feira, 14 de abril de 2009 - 09h15

Administrador de empresas pela FAAP, mestre em Agribusiness Management pena SAK-UK e atualmente trabalha com trading de commodities agrícolas na Holanda


A retratação da demanda por carne nos grandes países consumidores já se traduz na sensível diminuição das margens e da produção pecuária. Desde novembro, a produção da Europa caiu em torno de 6% e nos Estados Unidos 5%. Em ambos importantes centros consumidores, os preços aos produtores ainda não atingiram seus níveis mais baixos. A situação é alarmante, sobretudo nos EUA, com o considerável declínio das vendas internas e das exportações à Ásia. Assim como em outros setores, os reflexos no mercado de carne revelam-se primeiro nos segmentos mais elevados e gradualmente atingem os mais baixos. Em geral, a Argentina, Uruguai e Brasil representam papel fundamental em atender à demanda orientada não à qualidade, mas ao preço. Caracterizam-se também por destinar-se ao segmento base para o mercado internacional, sobretudo o segmento de maior participação em volume. Veja na figura 1, que evidencia os fornecedores do mercado europeu. A segmentação da figura pode ser também interpretada com referência aos custos de produção, e a representatividade relativa de cada segmento em relação ao volume total do mundo. Desta forma, fica evidente que nos segmentos de base, o Brasil está menos suscetível a perder mercado à concorrência, pois é muito competitivo em preço. Além disso, conta com maior capacidade produtiva para atender principalmente a demanda por cortes nobres. Na agricultura, a regra é a mesma. O colapso da colheita argentina, reflexo da estiagem e a redução projetada na área plantada de soja nos EUA, além dos baixos estoques internacionais, coloca o Brasil em situação privilegiada. Com tais fundamentos, a China reagiu a queda de preços desde outubro passado e reforçou seus estoques de segurança para os próximos períodos com soja importada. A oleoaginosa é um dos poucos produtos agrícolas em que a China não é auto-suficiente. A atual cotação de soja entre USD9-10/bushel é sustentada em grande parte pelas compras daquele que é o maior importador do planeta. Alguns argumentam que o pior já passou, muitos não. O rápido detrimento do mercado financeiro antecipa-se aos efeitos colaterais da economia real, que são graduais e mais tardios. A maior parte da produção brasileira agrícola local é destinada ao mercado interno, o qual dificilmente irá crescer nos próximos períodos. A capacidade instalada de abate de bovinos e ampla disponibilidade de matéria-prima fortalece a competitividade brasileira no mercado internacional, de forma a preencher os vácuos deixados pelos menos eficientes como EUA e Europa em segmentos orientados a preço. Além da sorte (como na soja), a carne bovina dependerá, portanto, de maiores esforços de vendas ao exterior para ao menos manter o volume exportado em 2008. A habilitação para mercados perdidos, a realização de acordos bilaterais e a entrada em novos países importadores serão cruciais no ano de 2009. Entre todas as incertezas do atual cenário internacional, a única certeza é o um lento processo de seleção natural, onde vão prevalecer os mais eficientes em termos de produção, criatividade em marketing e agilidade a adaptar-se ao novo contexto. Aparte a questão comercial, restam os famosos entraves de cadastramento de fazendas, SISBOV e controle sanitário, que fecham o ciclo vicioso das importações brasileiras e certamente não serão solucionados por sorte ou acaso de condições de mercado. O tempo está custando caro... Leonardo Prandini - Administrador de empresas pela FAAP, mestre em Agribusiness Management pena SAK-UK e atualmente trabalha com trading de commodities agrícolas na Holanda.
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