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Scot Consultoria

O descarte de matriz e a seleção do rebanho


Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008 - 10h21

Zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.


Anualmente o produtor deve decidir os animais (touros e matrizes) que deverão compor o plantel de reprodutores. Esta é uma decisão importante para o melhoramento genético do rebanho, principalmente quando os objetivos de seleção e o acompanhamento dos ganhos são bem definidos e avaliados. O ideal seria que a análise dos animais que devem ser descartados, retidos e, principalmente, a porcentagem de renovação de reprodutores, fosse baseada tanto no aspecto econômico como da incorporação de ganhos pela seleção. Podemos dizer que quanto maior a taxa de renovação do rebanho, maior a possibilidade da incorporação de uma genética superior visando melhores resultados zootécnicos. O desafio é conciliar a estratégia de descarte com a economia do processo produtivo, ou seja, buscar conhecer o melhor momento e taxa de renovação. HABILIDADE DE PERMANÊNCIA A característica de habilidade de permanência é exemplo prático de critério de seleção que visa avaliar a relação entre a estratégia de descarte e a preocupação com o lucro do sistema de produção. A habilidade de permanência avalia a capacidade de uma matriz permanecer produtiva (crias consecutivas, sem falhas) a uma idade específica (4, 5 ou 6 anos). A idade representa o período de retorno da matriz, assumindo que seus custos de investimento e manutenção foram quitados com a venda de suas crias e seu próprio descarte. De fato, o conceito da habilidade de permanência pode ser considerado antagônico com a taxa de renovação do rebanho, principalmente quando selecionada para idades mais avançadas. Em suma, conciliar a otimização do retorno econômico e genético pode não ser tarefa fácil. DISSEMINAÇÃO GENÉTICA Vale lembrar também que até pouco tempo estávamos condicionados a pensar na disseminação de genética superior a partir do uso exclusivo de touros. Fazíamos isso com certa razão, uma vez que o material genético dos machos pode ser mais facilmente disseminado entre e dentre rebanhos e, o mais importante, com a possibilidade de produzir maior número de descendentes comparado às fêmeas. Vejamos o simples exemplo de um animal com período de vida útil estimada de 5 anos e uma taxa de acasalamento de 30 matrizes por estação de monta. Considerando a hipótese de 90% de fertilidade, espera-se que esse animal produza algo em torno de 130-140 descendentes diretos ao longo de sua vida reprodutiva. Isso sem dizer que esses indicadores podem variar positivamente, principalmente caso esse animal fosse utilizado para coleta de sêmen. Por outro lado, uma matriz, em condições naturais pode produzir um número de filhos que, na média, dificilmente supera a 5 ou 6 animais. O relevante é que a contribuição genética das matrizes é igualmente importante quando pensamos em melhorar geneticamente o rebanho. Metade do patrimônio genético das progênies é atribuída às matrizes. REBANHOS COMERCIAIS No entanto, nos rebanhos comerciais é improvável que um produtor invista em matrizes de elevado valor genético. Tarefa essa fica para programas especializados em coleta de óvulos, identificação de matrizes sexualmente precoces ou longevas, mas bastante restrito a rebanhos com propósito comercial de venda de animais para reprodução. Assim, a seleção de matrizes nos rebanhos comerciais fica por conta do descarte voluntário. Os critérios de descarte de vacas são inúmeros e particulares, mas representam a parcela de matrizes que será substituída por falhas reprodutivas, desmamarem bezerros leves ou mal-conformados, problemas de aprumos, etc. Há seleção de matrizes para o descarte voluntário. Muitas vacas podem ser descartadas por razões que independem da decisão do produtor ou técnico. São os chamados descartes involuntários, decorrentes de enfermidades severas ou situações que podem levar o animal à morte. Mas, quando a decisão de descarte é voluntária, essa passa a ser encarada como uma decisão de seleção e deve ser baseada em critérios bem definidos. DETALHES IMPORTANTES Desse modo, o produtor deve estar atento e buscar informações de produção das matrizes e, não menos, às questões de ambiente que pode influenciar o desempenho desses animais. Por exemplo, seca severa, pasto degradado somado a uma suplementação deficiente pode afetar a reprodução dos animais. Nesse caso, o descarte de animais que falharam na estação de monta não irá implicar necessariamente na substituição de fêmeas com baixo potencial genético para fertilidade. Um detalhe importante no descarte é conhecer os custos e riscos envolvidos na reposição de matrizes, o que depende da qualidade do material genético do animal, mercado e região de origem da fêmea. Quando a reposição não é interna (do próprio rebanho), deve-se conhecer o histórico do vendedor e sua idoneidade na tentativa de minimizar riscos.
Ivan B. Formigoni é zootecnista, doutor pela Fzea/USP e colaborador da Scot Consultoria.
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