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Scot Consultoria

Utilização de farelo de algodão de alta energia para vacas leiteiras


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Sexta-feira, 26 de dezembro de 2008 - 10h00


A pecuária leiteira vem passando por alterações substanciais nos últimos anos. Uma parcela significativa dessas alterações resultou das pressões econômicas decorrentes do custo elevado dos insumos, aumentando o custo de produção. ALTO CUSTO COM ALIMENTAÇÃO A alimentação é o item que mais pesa no custo de produção do leite, variando de 40% a 60% do custo total e influenciando destacadamente a margem de lucro do produtor. A evolução tecnológica da pecuária leiteira visa o aumento de produtividade e, principalmente, a redução dos custos de produção do leite. Essa evolução tem exigido do produtor a procura de alimentos alternativos, que possam melhorar as características qualitativas do leite a preços compatíveis com o produto final. Um dos grandes desafios da atividade leiteira, atualmente, é a eficiente produção de leite saudável, através de um sistema de produção calcado na conciliação de alguns fatores, como bons índices zootécnicos com rentabilidade econômica, que remunere o capital investido e que possibilite ao produtor expandir seu negócio. SUBPRODUTOS A utilização de subprodutos agroindustriais na dieta de vacas leiteiras não é prática recente. Mas atualmente, devido às questões ambientais e à oscilação dos preços de commodities e alimentos tradicionais, como dos grãos e cereais, esses resíduos têm merecido notada atenção dos produtores e dos nutricionistas. Tal fato é função, principalmente, das vantagens do fornecimento destes alimentos para ruminantes, destacando-se: menor dependência de cereais nas dietas, em virtude da sua utilização crescente na alimentação humana e de animais monogástricos e, ainda, a eliminação da necessidade de criação de práticas onerosas de manejo de resíduos. Os subprodutos da agroindústria são considerados uma alternativa interessante para alimentação de vacas leiteiras. Sua inclusão na dieta depende de vários fatores, como a disponibilidade, composição química, preço, custo do transporte, facilidade de armazenamento e a presença de compostos tóxicos e/ou antinutricionais, pontos importantes a serem avaliados para adquiri-los e incluí-los nas rações dos animais. O principal fator a ser considerado na utilização de subprodutos na alimentação de bovinos leiteiros é, sem sombra de dúvidas, a possível vantagem econômica, seja pela redução do custo de alimentação ou por melhorar a eficiência alimentar. O farelo de algodão é uma fonte protéica que pode substituir parcialmente ou totalmente o farelo de soja na alimentação de vacas leiteiras. No entanto, em virtude da grande variabilidade nos processos de extração do óleo do caroço (para obtenção do farelo do algodão), há grande heterogeneidade na sua composição bromatológica, características físicas e biológicas. Em relação à eficiência industrial, o beneficiamento de 100 kg de algodão em caroço para a produção de 39,00 kg de pluma e 7,29 kg de óleo refinado resulta em 61,00 kg de caroço, 26,23 kg de farelo, 7,93 kg de línter e 1,33 kg de borra. A composição bromatológica dos principais subprodutos do algodão utilizados na alimentação de bovinos está na tabela 1. Segundo o NRC (2001), o teor de proteína não degradada no rúmen (PNDR, % da proteína bruta, PB) do farelo de algodão é de 35%, bem menor que do farelo de soja, que é de 48%, para vacas leiteiras consumindo 4% do peso vivo em matéria seca (MS). O farelo de algodão também possui teores de PB e energia líquida para lactação inferiores às do farelo de soja e valores mais elevados de fibra (FDA e FDN). Além disso, o valor biológico da proteína do farelo de algodão é pior, pois apresenta perfil de aminoácidos (lisina e metionina, % da PB) menores que do farelo de soja. Nesse sentido, a substituição total do farelo de soja por farelo de algodão para vacas em início de lactação deve ser vista com ressalvas. A utilização do farelo de algodão na dieta de vacas leiteiras pode manter a produção nos mesmos patamares que o farelo de soja, quando o teor de proteína da dieta é maior que 16%, podendo ainda reduzir os custos de produção do leite, em virtude do menor custo por kg de PB do farelo de algodão na maioria dos meses do ano no mercado brasileiro. ATENÇÃO AOS NÍVEIS UTILIZADOS Vale salientar que os problemas provocados pelo uso de farelo de algodão e caroço são atribuídos ao gossipol e aos ácidos graxos ciclopropenóides, que são encontrados nas sementes em formas de grânulos. Eles causam diminuição da fertilidade do touro e da vaca. Deve-se ficar atento para o nível máximo de gossipol livre. Nos subprodutos advindos do algodão, ele deve estar entre 0,10 e 0,12%. Com relação ao farelo de algodão de alta energia (tabela 1), existem poucos relatos da sua utilização em dietas de vacas leiteiras. No entanto, em virtude de suas características, principalmente o maior teor de extrato etéreo (26%), é um alimento que pode trazer bons resultados. EXPERIMENTO Recentemente, ALVES (2008), em trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Mato Grosso, avaliou o efeito da inclusão de níveis crescentes de farelo de algodão de alta energia – FAAE (0,0; 8,7; 17,4; 26,1 e 34,8%, na MS) em substituição ao farelo de soja, no concentrado para vacas no terço final de lactação. Foram avaliados os efeitos sobre a produção e a composição do leite, além da análise de viabilidade econômica. As dietas foram formuladas para conter 60% de silagem de milho e 40% de concentrado na MS, com 14% de PB. A produção de leite, a produção de leite corrigida para 3,5% de gordura, a produção de gordura e a proteína do leite não foram influenciados pelos níveis de FAAE na dieta. RESULTADOS A produção de leite foi de 14,73; 13,78; 14,14; 14,55 e 13,69 kg/vaca/dia, respectivamente, para os níveis de 0,0; 8,7; 17,4; 26,1 e 34,8% de inclusão do FAAE em substituição ao farelo de soja no concentrado de vacas leiteiras. Com relação à viabilidade econômica, segundo o mesmo autor, a inclusão de níveis crescentes de FAAE reduziu a participação do concentrado nos gastos com alimentação (35,49% para 29,18% na dieta, com 34,8% de FAAE no concentrado), o que contribui para o aumento na margem bruta da atividade produtiva (tabela 2). No entanto, o autor salientou que a decisão da utilização deste subproduto deve ser sempre pautada, basicamente, em três pilares mestres: disponibilidade, preço dos insumos e desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. FINAL Por fim, é importante lembrar que associada a estas informações, há a necessidade de acompanhamento da alimentação dos animais por um profissional especializado, pois deve-se considerar os aspectos relacionados ao manejo da alimentação, formulação da ração, características da ração e custos. É em função dessas variáveis que o pecuarista terá a melhoria dos índices de produtividade e competitividade da atividade de pecuária de leite. ricardo dias signoretti é engenheiro agrônomo, doutor em produção animal, pesquisador científico/ apta colina-sp e consultor da coan consultoria.
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