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Scot Consultoria

Silagem pré-secada para vacas leiteiras


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Sexta-feira, 22 de dezembro de 2006 - 12h40


A utilização da ensilagem como técnica de conservação de forrageiras tropicais é uma prática que vem sendo adotada com freqüência no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, em substituição a fenação que, invariavelmente, é prejudicada pela ocorrência de chuvas durante o processo de secagem, acarretando perdas à forragem conservada. Diversas espécies forrageiras têm sido estudadas no sentido de se encontrar alternativas para a conservação na forma de silagem, e entre elas destaca-se os capins tropicais: Estrela Roxa, Coast-Cross e Tifton-85, pertencentes ao gênero Cynodon e as plantas de clima temperado, como Aveia, Triticale, Azevém e Alfafa. De maneira geral, estas plantas apresentam limitações ao processo de ensilagem, pois apresentam baixos teores de matéria seca, de açúcares solúveis e elevados valores de poder tampão no estádio de maior valor nutritivo, justificando, assim, o uso de técnicas que promovam a redução da umidade no momento da ensilagem e evitem fermentações secundárias, com perdas significativas na qualidade do produto final. Uma das técnicas que vem sendo utilizada para este propósito é a pré-secagem, que promove a redução do teor de umidade das forrageiras pela exposição direta da forragem (após corte) ao sol por períodos de 4 a 6 horas. Este processo é uma opção interessante, por proporcionar condições ideais para o crescimento de bactérias produtoras de ácido lático e acético, que promovem o abaixamento do pH e, assim, permitem que o excedente da forragem produzida nas pastagens ou em áreas de cultivo exclusivas para o corte, possam ser armazenadas e utilizadas na alimentação dos animais durante o período de escassez (seca). Outra característica importante refere-se ao menor tempo de exposição às intempéries climáticas e no caso específico da alfafa, reduz em grande quantidade a perda de folhas, que refere-se ao principal fator a comprometer a qualidade do feno dessa forrageira. Fases do Processo de Pré-Secagem O corte das plantas forrageiras destinadas à ensilagem deverá ser realizado quando as plantas estiverem no estádio vegetativo, ocasião essa em que a planta se encontra no “ponto de equilíbrio”, entre a produção de matéria seca e a qualidade nutricional. A forragem cortada é espalhada no campo para secar e a perda de umidade é intensa nas plantas ainda vivas. Uma vez que o caule e as folhas foram separados das raízes e a umidade perdida não é reposta, iniciando assim a secagem ou murchamento, que consiste na primeira fase do processo. As plantas forrageiras no momento do corte apresentam teor de umidade entre 80% e 85%, que se reduz rapidamente para 65%. A secagem é rápida envolvendo intensa perda de água. Numa segunda fase de desidratação o metabolismo da planta continua e pode se prolongar quando a forragem é densa na leira, a umidade relativa do ar é baixa ou a circulação do ar é pequena entre o material cortado. Uma terceira etapa tem início quando a umidade da planta atinge cerca de 45% a 50%, sendo esta etapa mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente a umidade relativa do ar e a incidência de radiação solar. É nesta etapa, ou próximo a ela, que a forragem é recolhida e na seqüência ensilada, reduzindo, assim, os riscos de perda da forragem ensilada em relação ao feno. O produto final apresenta então ao redor de 50 % de matéria seca (MS) e é denominado de pré-secado ou haylage (em inglês tem-se: hay = feno, silage= silagem), uma mistura de silagem com feno. Fatores que Interferem na Desidratação Fatores Ambientais – radiação solar, temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento. A umidade relativa do ar, juntamente com a incidência de sol, são os principais fatores ambientais que exercem influência na perda de água da forragem desidratada no campo. A secagem da forragem cortada continua se processando enquanto a umidade relativa do ar for menor que a umidade de equilíbrio da forragem. A umidade de equilíbrio é importante para determinar se o material que está sendo desidratado perderá ou ganhará umidade. Fatores Inerentes à Planta – a superfície das plantas é coberta por uma camada cerosa, relativamente impermeável, chamada cutícula, que exerce funções de prevenção de danos físicos e/ou mecânicos, diminui perdas de componentes da planta por lixiviação (vitaminas, açúcares, etc.) e excessiva perda de umidade. Fatores de manejo – as práticas de viragem e revolvimento com ancinhos enleiradores e espalhadores são de importância fundamental no processo de secagem, principalmente nas primeiras horas após o corte, a fim de reduzir a compactação e proporcionar maior circulação de ar dentro das leiras, acelerando a transferência de umidade das plantas para o meio ambiente. A altura da forragem remanescente deve permitir a circulação de ar na porção inferior da leira, de modo a diminuir o tempo de permanência da forragem no campo. Controle de Perdas no Processo As perdas que ocorrem no momento do corte são devidas, principalmente, ao dilaceramento de folhas e caules e, geralmente, estão associados a equipamentos inadequados ou carentes de manutenção, com facas não afiadas e desajustadas. No caso das leguminosas, deve-se tomar uma atenção especial pela maior susceptibilidade a perda de folhas que ocorre em resposta a manipulação da forragem. O condicionamento mecânico, com a maceração do caule, pode melhorar a taxa de secagem de maneira mais consistente, sendo mais evidente em espécies que possuem caules mais grossos e com baixa relação folha/caule. Para a adequada manutenção da qualidade da forragem ensilada é importante que o enchimento do silo seja rápido, estabelecendo condição de anaerobiose o mais rápido possível. A compactação da silagem pré-secada em silos de superfície ou trincheira deve ser feita exaustivamente durante todo período de enchimento do silo, utilizando-se de trator pesado (4 a 6 toneladas). A ensilagem da forragem pré-secada em fardos retangulares ou redondos, os chamados “Bags” (400 a 600 kg), tem sido adotada com freqüência por diversos produtores. A silagem produzida é revestida com filme plástico especial e apresenta as seguintes vantagens, quando comparado ao feno: • Permite o uso de alguns equipamentos empregados no processo de fenação; • Possibilita o transporte de pequenas quantidades de forragem conservada sem abertura dos silos; • Redução do tempo de secagem e dos riscos de perdas no campo; • Preserva melhor a qualidade da forragem colhida com níveis mais elevados de umidade; • Facilidade de armazenamento (ao ar livre); • Menores perdas por deterioração do material. Como desvantagem desse processo, pode-se citar: • Investimento elevado na compra de máquinas e implementos específicos para ensilagem, bem como elevado preço do filme utilizado no processo; • Baixa estabilidade aeróbia (fermentação indesejável) da silagem após abertura do silo, implicando em deterioração da silagem resultante. A silagem pré-secada, quando adequadamente obtida, apresenta elevado valor nutritivo, sendo comum valores entre 60% a 64% de NDT e 10% a 16% de proteína bruta (% matéria seca), dependendo do material de origem utilizado. No entanto, o grande problema na adoção deste recurso forrageiro refere-se ao custo de aquisição. De maneira geral, uma tonelada deste alimento custa entre R$140,00 e R$160,00 (45% de matéria seca). Se realizarmos uma comparação deste alimento com a silagem de milho (34% MS) custando R$62,80/tonelada, veremos que o custo por tonelada de matéria seca do pré-secado é de R$333,33 e da silagem de milho igual a R$187,70. Ou seja, o custo por tonelada de matéria seca do pré-secado é 77,58% maior que da silagem de milho. Pelo exposto, fica evidente que o uso de plantas forrageiras destinadas ao processo de pré-secagem permite a obtenção de silagem de alta qualidade. No entanto, ressalta-se que por melhor que seja a silagem obtida, o produtor deverá levar em consideração os fatores relacionados ao custo de produção e/ou fornecimento aos animais, uma vez que a negligência nesse aspecto pode comprometer todo o sucesso ou rentabilidade do sistema de produção pecuário, principalmente em situações de remuneração do kg de leite à R$0,58.
rogério m. coan é zootecnista - doutor em produção animal - diretor da coan consultoria e coordenador da divisão técnica da scot consultoria
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