• Domingo, 28 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Manejo de cocho em confinamento


Terça-feira, 10 de junho de 2008 - 16h19

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


por Eduardo Telles Marques da Silva INTRODUÇÃO Existem inúmeras vantagens em se utilizar o sistema confinado na produção de bovinos de corte. Dentre essas vantagens podemos citar algumas, como a possibilidade de obtenção de um melhor controle sobre os custos e o ganho de peso, a retirada de uma geração do gado das pastagens e a utilização do potencial de crescimento da forrageira durante as águas para ensilagem, resultando em um material de alta qualidade e baixo custo (Mello, 2000). Segundo Neill, os custos com alimentação representam de 70 a 80% do custo total do ganho em confinamento. Por isso, devemos aproveitar as disponibilidades regionais de certos alimentos para tentar reduzir os custos de produção (Mello, 2000). O COCHO Um bom dimensionamento de cocho é fundamental para o sucesso do confinamento, pois assim evitamos que os animais dominantes comam mais ou não permitam que os demais deixem de comer por falta de espaço. Dessa forma, o tamanho de cocho deve ser determinado em função do tipo de dieta que será fornecida, ou seja, se ração completa (volumoso e concentrado fornecidos em mistura homogênea) ou não (volumoso e concentrado fornecidos separadamente). Se a ração não for completa deve-se utilizar de 50 a 70 cm lineares de cocho por animal; se a ração for completa, essa medida pode ser menor (Neto, 1994). Essa diferença é por conta das vantagens que a ração completa oferece: controle efetivo da quantidade fornecida, restrição da seleção de alimentos pelos animais e estabilidade da população microbiana ao longo do dia, devido a menores oscilações de pH acarretadas pelo fornecimento irregular do concentrado. Segundo Martin (1987), o cocho para confinamento pode ser de dois tipos: 1. Aquele ao qual os animais têm acesso pelos dois lados, localizado no centro do curral, cuja vantagem é um maior número de animais podendo se alimentar ao mesmo tempo; ou 2. Aquele ao qual os animais têm acesso à ração apenas por um dos lados. O segundo exemplo possibilita que o fornecimento da ração seja feito externamente ao curral, proporcionando a vantagem da facilidade de manejo, pois evita a entrada de máquinas na área dos animais. Nos dois casos o cocho deve estar localizado na parte mais alta do curral, a fim de evitarmos o acúmulo de água junto ao mesmo (Bürgi, 1991). Recomendamos a construção de uma faixa de concreto de aproximadamente 2,00 m de largura e 0,07 m de espessura ao longo da linha de cocho, internamente ao piquete, para evitar formação de lama ou erosão na área de maior acúmulo dos animais (Bürgi, 1991). As medidas corretas das diferentes partes do cocho estão indicadas na Tabela 01. Os cochos de alimentação para bovinos confinados podem ser de diversos materiais, tais como concreto (pré-moldado), tijolos revestidos de cimento liso, madeira ou fibra de vidro, sendo que os dois últimos geralmente são desmontáveis (Peixoto et al., 1987). Para evitar o trânsito dos animais por cima do cocho, colocamos um cabo de aço (cordoalha) envolto por tubo ou mangueira de plástico resistente que reduz o risco de possíveis ferimentos provocados pelo metal ou arame liso, a 0,60 m da borda superior do comedouro. Outros dois arames lisos devem ser instalados acima da cordoalha, com aproximadamente 0,15 m de distância entre eles (Neto, 1994). Segundo Neto (1994), a decisão de se construir cobertura para o cocho ou não vai depender das condições climáticas da região. O telhado pode ser dispensado em confinamentos realizados no período seco. PERÍODO DE ADAPTAÇÃO Animais recém chegados ao sistema de confinamento devem passar inicialmente por um processo de adaptação à dieta e ao ambiente. Segundo Loerch et al. (1999), os animais recém confinados tendem a reduzir a ingestão de matéria seca (IMS) nas primeiras duas semanas de cocho, por preferirem dietas com umidade e textura similar aos alimentos que estavam acostumados antes de chegar ao confinamento. As rações fornecidas para bovinos confinados costumam ser ricas em concentrado, pois uma maior densidade na dieta resulta em maior ganho de peso com menor demanda de tempo e espaço de cocho. O aumento na quantidade de concentrado na dieta desses animais deve ser feita de forma gradual, evitando assim distúrbios digestivos como acidose, timpanismo, abscessos hepáticos e laminite. Segundo Owens et al. (1998), acidoses clínicas e subclínicas podem ser causadas pela introdução de amido de rápida fermentação na dieta de bovinos. Com isso, aumenta a disponibilidade de glicose livre, estimulando o crescimento de bactérias no rúmen e consequentemente aumentando a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) e diminuindo o pH ruminal. No início é comum certos animais estranharem o ambiente, refugando o cocho, mas após o período de adaptação essa rejeição pode representar uma redução no consumo, que pode levar a graves distúrbios metabólicos e até à morte. Assim, o ideal é que se reservem boxes com alimentação diferenciada para induzir esses animais a se alimentarem (Dutra, 2001). Em casos extremos, os animais deverão ser retirados do confinamento e conduzidos novamente ao pasto. FREQÜÊNCIA DE ALIMENTAÇÃO Bovinos são animais que se adaptam às rotinas do dia-a-dia. Por essa razão faz-se necessário um bom planejamento da freqüência com que serão alimentados. O número de vezes que será fornecida a ração diariamente aos animais deve ser constante e os horários desses fornecimentos devem ser fixos. Muitas são as possíveis variações de manejo de alimentação, sendo que a freqüência de arraçoamento pode variar de uma a seis vezes por dia. O aumento na freqüência dos tratos por dia é vantajoso, pois, segundo Peixoto et al. (1987), o desempenho dos bovinos aumenta através de uma melhor eficiência na utilização dos nutrientes absorvidos, além de evitar o desperdício de alimento, proporcionar aos animais maior conforto por estarem sempre ingerindo quantidades razoáveis de ração, possibilitar o fornecimento de alimentos frescos, aliando todos esses fatores à economia em mão-de-obra, pois nesse caso não haveria necessidade de utilizá-la na limpeza dos cochos de alimentação. Oscilações diárias no consumo dos ruminantes tratados com dietas contendo de média a alta quantidade de concentrado, aliado à escassez de fibra efetiva, podem afetar negativamente seu desempenho, causando problemas digestivos e comprometendo toda a economicidade da operação (Vasconcelos, 2005). Segundo Pitchard (1998), um simples atraso de 15 minutos poderá afetar o desempenho do animal confinado. O quanto será afetado irá depender da freqüência e extensão da irregularidade. Antecipar o fornecimento de ração fará com que os animais consumam menos do que consumiriam se o trato fosse dado no horário em que estão acostumados. Isso acarretaria sobras no cocho, o que não é bom, pois com o calor e a umidade, fermentações secundárias (indesejáveis) prejudicariam a qualidade dos alimentos, principalmente se o volumoso dessa ração for constituído por cana-de-açúcar, bagaço hidrolisado ou silagem (Martin, 1987). Atrasar o fornecimento de ração também seria problemático, pois ocorreria um consumo exagerado, acarretando problemas digestivos (Vasconcelos, 2005). O ideal é fazer com que os animais se acostumem com uma rotina. Segundo Horton (1990), no momento da chegada do veículo tratador, 25% dos animais devem estar alinhados no cocho esperando o trato; 50% deles devem estar em pé caminhando em direção ao cocho e 25% do rebanho se levantando. Esse comportamento é reflexo de uma alimentação correta, ao contrário de uma situação em que os animais estejam todos alinhados no cocho aguardando o trato, impacientes e estressados por fome. Outra atitude a se tomar no intuito de otimizar o manejo e o alimento é manter o cocho de alimentação limpo entre uma refeição e outra. Isso pode ser facilmente atingido realizando-se o ajuste do montante de ração que será oferecido em cada refeição, de modo que a sobra não ultrapasse uma pequena porcentagem da quantidade que foi fornecida (Galyeran, 1999; Schwartzkopf- Genswein and Gibb, 2000). Contudo, pode-se concluir que o sucesso em um confinamento bovino depende de diversos fatores que, juntos, proporcionam um ambiente confortável aos animais e funcionários, além de possibilitar uma redução nos custos totais da produção, acelerando o processo de engorda no período total de confinamento. Eduardo Telles Marques da Silva
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja