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Scot Consultoria

Na Bahia, um leite com DNA neozelandês


Quarta-feira, 5 de janeiro de 2011 - 09h35

Por 18 meses, entre 2001 e 2002, o neozelandês Simon Wallace visitou 300 propriedades de leite em diferentes áreas de produção do Brasil para identificar qual região teria o melhor clima para a criação de gado de leite alimentado apenas com pasto. Foi em Jaborandi, uma cidade com apenas 9 mil habitantes no sudoeste da Bahia, perto da divisa com Goiás, que Wallace, produtor de leite na Nova Zelândia, e outros seis investidores encontraram o que queriam e fundaram a Leite Verde, também chamada de fazenda Leitíssimo.. Quem conta essa história, em português quase perfeito, é Craig Bell, também neozelandês, que está há 13 anos no Brasil e trabalhou por 16 anos na Fonterra, a cooperativa gigante de lácteos da Nova Zelândia. Atualmente ele é diretor da Leite Verde. Oito anos depois de sua fundação, a empresa tem 12 acionistas: três neozelandeses residentes no Brasil - entre eles, Bell -, seis que moram na Nova Zelândia e três brasileiros. O rebanho é de 3.200 fêmeas, sendo que 1.850 estão em lactação, isto é, produzindo leite. A maior parte dos animais é da raça kiwicross, um cruzamento entre as raças jersey e a holandesa friesian. Os demais são jersey e girolando. Hoje, a produção da Leitíssimo é de cerca de 20 mil litros de leite por dia, ou o equivalente a 7 milhões de litros por ano. Os volumes ainda são pequenos, mas o projeto é alcançar, em seis anos, uma produção de 100 mil litros por dia - 35 milhões de litros anuais -, segundo Bell. Então, serão 8,4 mil animais em lactação, prevê o plano da empresa. Além de produzir leite, desde o fim de 2009 a empresa também está processando a metade de sua produção em laticínio construído na própria fazenda. O leite, integral, é envasado em embalagem pet longa vida com a marca Leitíssimo e é vendido principalmente em Salvador e em Brasília. Há pouco mais de um mês o produto chegou à capital paulista, onde está sendo comercializado em 40 varejistas. O restante da produção de leite cru é vendido pela Leite Verde principalmente para a DPA, joint venture entre Fonterrae Nestlé na captação de leite no Brasil. Se possível fosse, Bell passaria o dia falando sobre o projeto dos neozelandeses no país. Mas essa disposição para falar é algo recente. Os donos da Leitíssimo fizeram tudo sem alarde nos últimos anos e, até pouco tempo, mantinham discrição sobre o projeto. "Achávamos que tínhamos que fazer antes de falar", justifica Craig Bell. Ele afirma que o grande atrativo do Brasil foi a oportunidade de implementar um sistema de produção baseado no sistema neozelandês - animais 100% bos taurus, isto é, de origem europeia, adaptados para produção de leite a pasto-, mas com pequenas adequações ao clima tropical (ver matéria abaixo). Na Nova Zelândia, além do pasto, os animais recebem silagem de milho e um subproduto do óleo de palma como alimento. O clima em Jaborandi foi fundamental para a escolha da Leite Verde, mas a perspectiva de um mercado expressivo para o produto final na Bahia também contou na hora de definir onde se instalar. "A Bahia importa 700 mil litros de leite por ano", argumenta Bell. Ainda que se trate de um produto de nicho - rastreado e sem retirada de gordura, proveniente de animais alimentados só com pasto e milho triturado -, Craig Bell diz que o plano é ampliar as vendas para outras regiões no futuro e lançar também leites semidesnatado e desnatado. Com crescimento anual de 25% nos últimos três anos, a Leite Verde já investiu R$ 100 milhões desde 2002 entre área para produção, rebanho, indústria e terras para grãos no oeste da Bahia. A previsão para o próximo ano é de uma receita de R$ 15 milhões, segundo o diretor da Leite Verde. Ao mesmo tempo em que colocaram em prática um projeto para produzir leite a pasto, os neozelandeses implementaram em Jaborandi uma escola bilíngue para crianças e programa de educação de jovens e adultos. Além da escola, há na fazenda 22 casas para os trabalhadores. No total, são 50 funcionários, incluindo os do laticínio. Um percentual de 75% da área de 5 mil hectares da fazenda é preservada, segundo Bell. Fonte: Valor Econômico. Por Alda do Amaral Rocha. 4 de janeiro de 2011.
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