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Scot Consultoria

Alta nos preços do algodão leva a descumprimento de contratos


Quarta-feira, 17 de novembro de 2010 - 09h09

Outra conseqüência da alta cotação do produto é o aumento de custo de produção para a indústria. O aumento no preço do algodão nos últimos meses causou efeitos negativos na cadeia produtiva. Não estão sendo cumpridos 30% dos contratos futuros. Segundo os especialistas, a inadimplência pode excluir do mercado produtores e traders tradicionais nos negócios. Outra conseqüência da alta cotação do produto é o aumento de custo de produção para a indústria. Por outro lado, produtores vivem agora o melhor momento da história. O produtor de algodão Itor Cherubino, de Campo Verde, MT, diz que nunca tinha visto uma situação como esta. Vender a arroba por mais de US$ 40 é tudo que ele queria. Pena que hoje ele tem pouco pra entregar neste preço. A metade ele já tinha vendido quando a cotação estava na faixa dos US$ 20 e US$ 30. Agora ele quer recuperar o perdido. – Os preços estão excelentes, mas onde vai parar esse preço do algodão? E agora nós estamos na dúvida, pois quando a gente achava que estava ótimo, ficou ruim o negócio. Mas agora é melhor esperar um pouquinho para ver aonde irá parar esses preços – explica Cherubino. Esta semana a cotação do algodão na bolsa de Nova York atingiu US$ 1,52 por libra-peso. No mercado interno, pelo levantamento do Cepea, o valor passou de R$ 2,80. A alta na cotação do algodão é histórica. Nestes níveis que se está vendo hoje só aconteceu durante a guerra civil americana, no século XIX. Naquela época, o preço subiu porque foi feito um bloqueio nos portos do sul dos EUA, que impediu o escoamento da produção. Atualmente, essa alta é causada pela especulação financeira, a falta de produto no mercado e a maior demanda de consumo também. Apesar de ser bom para o produtor, o efeito negativo desta situação é muito forte no mercado. Um exemplo é o que acontece na indústria têxtil. Em uma fábrica em Americana (SP), já tem máquina parada. A fábrica é uma das 500 na região, que é pólo de produção têxtil no Estado. Não houve demissão ainda, mas o empresário Douglas Quintal disse que teve que reduzir o turno de trabalho e substituir a matéria-prima. Ao invés do algodão, agora são usados poliéster e viscose na confecção dos tecidos de decoração, o foco da empresa. O faturamento da tecelagem caiu 20% nos últimos seis meses, desde que o preço do algodão começou a subir. – A gente vai fazer um fechamento no final do ano, ver os prejuízos e começar o ano meio com o pé atrás. Começar esperando uma definição, ou pelo menos uma diminuição do fio e uma estabilidade do dólar também – explica Quintal. A falta de algodão nos próximos meses pode provocar uma queda de até 15% na produção e no faturamento das empresas do pólo têxtil de São Paulo, um dos principais do Brasil. O prejuízo deve chegar a R$ 80 milhões, segundo o sindicato que representa as indústrias de tecelagens de Americana. De acordo com o presidente do Sindicato Têxtil do Estado, Rafael Cervoni Netto, as perdas só não são maiores porque o setor investe muito para compensar a instabilidade do mercado. Este ano o investimento do setor no Brasil vai chegar a US$ 1,5 bilhão. – Nós temos aumentado a produtividade, aumentado a nossa tecnologia, mas custo de matéria-prima é custo de matéria-prima e tem um impacto muito forte – explica Cervoni Netto. Outro grande impacto no mercado das commodities. A analista de mercado Maria de Lurdes Yamaguti diz que o problema é que a cotação em alta estimulou a inadimplência. Dos contratos fechados em 2007 e 2008, 30% não estão sendo cumpridos agora. – As pessoas, produtores e comerciantes não estão cumprindo seus contratos seja por falta de capital de giro ou por um lance de esperteza, de ganhar mais – avalia Maria de Lurdes. A conseqüência disso, alerta a analista, não é boa para ninguém. – Isso tem gerado uma insegurança muito grande até mesmo para fazer contratos futuros que não são cumpridos. Muitas pessoas dessas que não estão entregando, mesmo que o algodão esteja alto, vão ser marginalizadas da comercialização – diz. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha, explica o porquê e diz até onde vai o desequilíbrio do setor. – Não tem de onde vir algodão no mundo. A dificuldade é muito grande. Eu acredito que nada vai ser resolvido de uma maneira muito satisfatória antes do início da safra no ano que vêm – analisa Cunha. Fonte: Canal Rural. 16 de novembro de 2010.
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