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Scot Consultoria

Testes de DNA ajudam pecuaristas a melhorar a carne e a rentabilidade


Quinta-feira, 8 de janeiro de 2015 - 15h56

Depois de ter o DNA de seus animais examinado por uma empresa de testes genéticos, Mark Gardiner, um criador de gado do estado americano do Kansas, já sabe quase desde o nascimento quantas arrobas de carne os bois deverão produzir.

As fazendas de gado dos Estados Unidos, usando tecnologias desenvolvidas por empresas como a Neogen Corp, de segurança alimentar, e a fabricante de medicamentos para animais Zoetis Inc., estão realizando testes genéticos mais sofisticados, como os feitos por Gardiner, para desvendar o futuro de seus animais.

Avanços na análise de DNA ajudam os veterinários e criadores a identificar animais mais valiosos, cujas crias fornecerão bifes maiores e mais suculentos - e preços melhores pagos por processadores como a Cargill Inc. Os testes também levam ao abate de animais com genes menos desejáveis.

Os criadores dizem que esses testes permitem estimar o valor genético de um boi com a mesma exatidão do de um animal que já tivesse gerado 20 bezerros. 

A Associação Americana de Angus estima que cerca de 20,0% dos bois de raça pura registrados na entidade em 2014 foram geneticamente testados, ante menos de 1,0% em 2010, quando os testes específicos para a raça angus se tornaram disponíveis.

As empresas especializadas em genética animal e ciência alimentar, como a NeoGen e a BeefTek Inc., se uniram à Cargill e à Zoetis para investir na tecnologia, apostando em uma mudança na forma de criação de gado nos EUA, o maior produtor de carne do mundo. Os criadores pagam até US$100,00 por animal na realização dos testes, que normalmente envolvem o envio de uma amostra de sangue para o laboratório.

Os preços em alta do gado estão ajudando a impulsionar os investimentos em genética bovina. O rebanho americano é hoje o menor em 60 anos, depois de anos de seca nas Grandes Planícies. A pequena oferta de bezerros também gerou preços recordes para a carne de vitela nos EUA, e os preços da carne bovina no varejo devem ter subido de 11,0% a 12,0% em 2014, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA.

Alguns produtores, antecipando preços melhores, querem animais com melhores genes em seus rebanhos, o que está ajudando a elevar os preços para animais de maior qualidade, diz Luke Bowman, porta-voz da Select Sires Inc., uma empresa fornecedora de sêmen de gado de leite e de corte. Segundo Bowman, alguns touros são cotados a US$250,00 mil, ante US$50,00 mil quatro anos atrás.

Por séculos, criadores selecionaram reprodutores para gerar crias de qualidade. Cerca de quarenta anos atrás, produtores e grupos do setor começaram a compilar estatísticas dos animais, como o peso no nascimento e a taxa de reprodução. Mas demorou anos para que fossem reunidos dados suficientes para saber se o animal estava passando genes favoráveis para sua prole.

Os bancos de dados genéticos construídos nos últimos dez anos permitiram que as empresas comparassem estatísticas sobre ganho de peso dos animais e qualidade de carne ao DNA e identificassem marcadores que pudessem indicar se outros animais compartilhavam as mesmas características.

A Pfizer Inc., que em 2013 desmembrou sua unidade de saúde animal, criando a Zoetis, vendeu em 2000 um dos primeiros testes comercialmente disponíveis, usado para prever o conteúdo de gordura na carne do animal. Testes mais detalhados surgiram há cinco anos, baseados em amostras maiores de informação genética para prever uma gama de características.

A Associação Americana de Angus possui o maior banco de dados do mundo de características de gado de corte específico para reprodução, com registros de cerca de oito milhões de animais, segundo Tonya Amen, diretora de serviço genético da Angus Genetics Inc., unidade da associação que avalia o DNA do gado. O banco de dados agora contém resultados detalhados do DNA de cerca de 100 mil cabeças de gado de corte.

A operação da Cargill começou em 2002, quando ela se uniu com a empresa de tecnologia genética MetaMorphix Inc. para estudar o genoma bovino. A Cargill - terceira maior processadora de carne dos EUA e responsável por 20,0% da produção do país - opera confinamentos e unidades de abate onde monitora dezenas de milhares de animais, fornecendo uma infinidade de dados que são comparados ao DNA para a construção de modelos genéticos.

O projeto identificou cerca de 6 mil marcadores genéticos que executivos da Cargill dizem ajudar a prever o desempenho de uma série de raças. Este ano, a Cargill licenciou a tecnologia patenteada para a Neogen e a BeefTek, que buscam atrair mais criadores para seus testes genéticos.

A Neogen processou cerca de um milhão de amostras genéticas, incluindo gado de corte, em seu ano fiscal de 2014, encerrado em maio.

Neste momento, os testes genéticos são usados principalmente por criadores de touros reprodutores para fazendas comerciais. Os animais criados nessas fazendas são vendidos para confinamentos, onde são engordados antes do abate.

Mas ter bons genes é apenas parte da história. Muito do ganho de peso do animal e da qualidade da carne depende de como o animal é criado e alimentado, e os marcadores genéticos são limitados na previsão de como os animais crescem, comportam-se e se reproduzem, diz Bob Weaber, professor associado de ciência animal da Universidade do Estado do Kansas.

O Brasil, mesmo tendo o maior rebanho comercial do mundo, de 200 milhões de cabeças, segundo o IBGE, ainda está na infância do desenvolvimento de testes genéticos. Apenas em 2006 a Embrapa começou a pesquisar estratégias genéticas para melhorar a qualidade da carne bovina. Essa pesquisa - realizada com 800 novilhos da raça Nelore - identificou características genéticas do animal, segundo um porta-voz da Embrapa. O próximo passo será a identificação dos marcadores moleculares - trechos de DNA responsáveis pelas características que são herdadas - para que testes de DNA possam enfim ser desenvolvidos. Os testes revelam a existência desses marcadores responsáveis por características específicas nos animais.

A Associação Brasileira de Angus, por exemplo, está pesquisando um marcador molecular para identificar animais resistentes a parasitas. "Já estamos fazendo testes no DNA de 300 animais para identificar por que alguns são resistentes aos carrapatos. Quando identificados, teremos um marcador molecular para a resistência bovina ao carrapato", diz Jennifer Teixeira, assistente técnica da associação. Os testes estão sendo realizados há cerca de um ano em parceria com a Embrapa e com a Unesp de Jaboticabal-SP.

Fonte: The Wall Street Journal. Por Kesley Gee, colaborou Eduardo Magossi. 8 de janeiro de 2015.


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