O ataque de lagartas preocupa todo o Mato Grosso. Se na safra de soja a vilã foi a Helicoverpa, no milho o nome é outro: Spodoptera. Predominante nas lavouras, ela tem causado prejuízos a quem tenta colher o grão na safrinha.
A reportagem da Revista Globo Rural viajou a convite da Aprosoja pela região oeste do estado, seguindo o Circuito Tecnológico do Milho. Na ocasião, foi acompanhada pelo pesquisador da Embrapa Rafael Pitta, especialista em pragas. Durante a expedição, ele colhia informações direto das plantações, vendo in loco os danos causados pela lagarta.
Em conversa no último dia do Circuito, ele afirma que no oeste do MT a presença da Spodoptera está menor que em outras regiões, como a norte do estado. Ela está atacando o milho tipo BT, que antes era resistente à praga. Entretanto, a presença dela no milho não tem causado grandes danos à espiga.
"Percebi nas boletas de campo a presença da Spodoptera, mas em níveis menores que foram encontrados em outras regiões. Mas a sua presença já causa uma queda na produtividade", comenta. Há uma hipótese do porquê da região oeste ter tido menos prejuízos com a lagarta. "Em alguns municípios como Campo Novo do Parecis, há uma vasta plantação de milho pipoca, que por ter semente convencional, atua como refúgio na plantação e cria uma paisagem agrícola favorável". Ele afirma ainda que a tecnologia mais atingida foi a Herculex e houve, em média, três aplicações de inseticidas no milho safrinha.
O que preocupa é a falta de perspectivas em curto e médio prazo das empresas sementeiras para criar uma nova tecnologia resistente às pragas. Por isso, o pesquisador reforça a importância de plantar refúgio, dedicando de 5% a 10% da área total para este fim. "A resistência da lagarta pode ser retardada com um manejo integrado de pragas bem feito, como com a utilização de refúgio, plantando milho não-BT. Porém notamos que poucos fizeram na região oeste do Mato Grosso, mas que foram compensados pelas plantações de milho pipoca, por exemplo". Na região, apenas 5 propriedades visitadas (ao total de 24) fizeram refúgio, segundo dados da Aprosoja.
Na fazenda Dois Paranaenses 2, no município de Diamantino, o proprietário Leandro Christ ficou preocupado com o ataque da Spodoptera aos seus 400 hectares plantados. "Esse ano as lagartas judiaram da plantação de milho, sendo que ano passado não causaram danos. Coisa de louco, nunca vi igual", contou à reportagem. Para entenderem como age a lagarta e na tentativa de criar um refúgio em cima da hora, eles fizeram apenas uma aplicação de inseticida em oito hectares da propriedade, contra três aplicações feitas no resto da área.
Alguns proprietários têm desistido de reaplicar inseticida em áreas plantadas por afirmarem que não compensa o gasto, já que as perspectivas do preço do milho não são as melhores. Já algumas propriedades relataram aplicar mais de sete vezes o inseticidas. A fazenda São Jorge é uma delas. "A cada cinco dias entramos na plantação para colocar inseticida. Já entramos oito vezes, e devemos entrar mais, e ainda sem certeza de resultados", contou Telmo Roberto, encarregado da lavoura na fazenda.
A Embrapa possui diversas linhas de trabalho no sentido de ajudar o produtor a combater pragas com o manejo integrado de pragas. O pesquisador Rafael Pitta afirma que com esses estudos, foi possível achar uma forma de reduzir em mais de 50,0% as aplicações de inseticidas, levando em consideração a quantidade aplicada hoje. Com isso, há a redução de custos ao produtor e maior produtividade na lavoura.
Fonte: Globo Rural. Por Teresa Raquel Bastos. 12 de maio de 2014.
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