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Scot Consultoria

Produtores de algodão dos EUA entram em briga com Cargill


Terça-feira, 30 de outubro de 2012 - 15h23

Numa batalha tipo Davi e Golias, um pequeno grupo de produtores de algodão nos Estados Unidos está partindo para cima da gigante de commodities Cargill Inc., alegando que as práticas de negociações da empresa já lhes custaram US$35 milhões e deixaram alguns cotonicultores perto da ruína.


A Associação do Algodão Autauga Quality, a cooperativa dos produtores, entrou com pedido de arbitragem para tentar recuperar o dinheiro, alegando que a Cargill praticou "um sistema de comportamento imprudente que corresponde à negligência flagrante", segundo a queixa.


A briga, que está sendo arbitrada pela Bolsa de Algodão de Memphis, oferece um raro vislumbre do mercado de algodão, que é dominado por uns poucos grandes nomes como Cargill, Louis Dreyfus Holding BV e Noble Group. Ela ilustra a dependência que pequenos produtores têm em relação a essas empresas, que agem como intermediários, encontrando compradores para o algodão.


Essas empresas também negociam nos mercados futuros em nome dos produtores, ajudando-os a se proteger contra variações no preço do algodão. Fortes oscilações de preço nos últimos anos puseram esse relacionamento à prova. Ano passado, os futuros de algodão subiram 51% em pouco mais de dois meses, para um recorde de US$2,1515 a libra, ou pouco menos de meio quilo, em março. Então, caíram cerca de 60% até o fim do ano.


A Autauga, sediada no estado de Alabama, alega que a Cargill deveria ter feito proteções, ou hedges, nos mercados futuros em nome dos agricultores para ajudá-los a obter bons preços pela produção. Em vez disso, afirma a Autauga, a Cargill fez os hedges a princípio, mas depois os removeu, deixando os cotonicultores expostos a quedas de preços.


A Cargill nega tais alegações.


"Acreditamos que a alegação é infundada e que vamos prevalecer nessa questão", disse o porta-voz da Cargill, Mark Klein, num e-mail. A empresa não quis comentar mais, citando confidencialidade do processo de arbitragem.


A Autauga, que tem 700 membros, vinha fazendo negócios com a Cargill e sua predecessora por 45 anos. Muito embora pequena, a cooperativa era a maior cliente de algodão da Cargill. Em fevereiro deste ano, depois de perdas, a cooperativa parou de fazer negócios com a Cargill, mostra o processo.


A Autauga alega no processo que em setembro de 2011 a Cargill removeu hedges sem sua permissão, deixando os produtores expostos a quedas repentinas de preço. Como resultado, os produtores receberam só 77 centavos por libra de seu algodão, em vez dos US$1,10 a US$1,20 que vinham esperando. No total, a discrepância custou cerca de US$35 milhões para os produtores, alega a Autauga.


"O algodão da Autauga não estava mais protegido em preço nenhum e a Autauga e seus membros ficaram totalmente sujeitos a um mercado em queda", diz a queixa.


"Em vez de garantirem um lucro, eles fizeram uma aposta", disse Jay Minter, um produtor de algodão de Tyler, Alabama.


Produzir algodão naquele ano custou cerca de 85 centavos por libra, dizem os produtores, o que significa que muitos produtores ficaram no prejuízo.


A Autauga afirma que a Cargill tampouco agiu para corrigir a situação quando os preços do algodão continuaram a cair, como deveria fazer. Nos documentos da arbitragem, a Autauga alega que as ações da Cargill constituíram "má conduta proposital ou, pelo menos, negligência e/ou incompetência flagrante."


A Autauga diz que a Cargill não alertou a cooperativa e ainda não lhe deu registros contábeis que documentem as operações. A Cargill tem até amanhã para responder à Autauga. A bolsa de Memphis vai, então, arbitrar, segundo pessoas a par do caso. Representantes da bolsa não quiseram comentar.


Entre documentos a que o The Wall Street Journal teve acesso estão cartas cada vez mais tensas entre a Autauga e a Cargill, conforme os agricultores tentavam descobrir por que de repente se viam presos a preços tão baixos.


Numa carta de maio para o diretor de algodão da Cargill, Doug Christie, o presidente da Autauga, James Sanford, disse: "A Cargill passou [...] de um papel de mercado tradicional para uma mentalidade de Las Vegas de [...] pôr o dinheiro dos outros em risco sem que estes saibam."


Numa outra carta para o diretor-presidente da Cargill, Gregory Pega, Sanford disse que as ações da Cargill "literalmente levaram [a cooperativa] e vários de seus membros à beira da ruína".


Em resposta, Christie escreveu a Sanford em maio, dizendo que ele estava muito insatisfeito com a maneira como a cooperativa estava "descrevendo com equívoco os atos e motivos da Cargill". Christie não pôde ser contatado para comentar.


A Cargill também argumentou nessas cartas que ela tinha remunerado a Autauga em excesso em 2010 e estava buscando compensação por isso. A Cargill também pediu compensação por perder os negócios da Autauga, segundo a correspondência a que o WSJ teve acesso na documentação da arbitragem.


Os lucros da Cargill estão ligados aos de seus membros. Não ficou claro se e quanto a Cargill pode ter perdido como resultado nas operações com a Autauga. Perdas da Autauga coincidiram com um ano ruim para Cargill.


A Cargill, que é de capital fechado, divulgou uma queda de 56% no lucro, para US$1,17 bilhão, no ano fiscal encerrado em maio, citando perdas com negociações de algodão.


Cerca de 200 produtores ficaram tão descontentes com os preços que receberam que saíram da Autauga, deixando a cooperativa com cerca de 500 membros, segundo agricultores envolvidos com a entidade.


O cotonicultor Dalton Fortenberry diz que foi um dos que saíram. Ele diz que perdeu US$500.000 nos últimos dois anos devido a preços baixos da Cargill.


Este ano, Fortenberry, de 65 anos, decidiu vender ele próprio seu algodão. "Provavelmente, posso fazer um trabalho melhor do que eles fizeram", diz ele.


Fonte: The Wall Street Journal. Por Carolyn Cui. 29 de outubro de 2012.



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