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Carne na brasa


Segunda-feira, 23 de abril de 2012 - 09h56

O grupo que é exemplo da política do BNDES de formar campeões nacionais mantém mais emprego nos Estados Unidos do que no Brasil e deu prejuízo em três dos últimos cinco anos. O presidente do JBS, Joesley Batista, explica que as vantagens da globalização de grupos nacionais vão do prestígio à abertura de mercado. A companhia já fechou quatro das cinco empresas que comprou na Argentina.


O banco colocou uma montanha de recursos em frigoríficos. Fez isso de duas formas: emprestando dinheiro subsidiado, via BNDES, e virando sócio das empresas, por meio do BNDESPar. Desde 2005, o BNDESPar investiu quase R$12 bilhões em três frigoríficos - JBS, Marfrig e BRF - na compra de ativos, subscrição de ações e aquisição de debêntures. O JBS, escolhido para ser o campeão nacional, ficou com a maior parte, R$8,1 bilhões. Em empréstimos, a empresa recebeu mais R$2,5 bilhões. Os números mostram como o BNDES incentivou a compra de uns por outros e aumentou a concentração no setor.


Em uma controversa operação, o dinheiro público foi usado para comprar 99,9% de debêntures lançadas pelo JBS para financiar a compra da Pilgrim s Pride, nos Estados Unidos. A exigência feita pelo banco foi que a empresa abrisse capital no mercado americano. Veio a crise, e ela não cumpriu o prometido. O banco então converteu as debêntures em ações, e hoje é dono de 31% do JBS que, no ano passado, deu prejuízo exatamente pela compra da Pilgrim s Pride. O estado é o segundo maior sócio, depois da família Batista, que tem 44,6%:


- Uma coisa eu posso garantir a você, o BNDES nunca colocou dinheiro no JBS para salvar a empresa, ao contrário do que aconteceu com Aracruz, Sadia e outras na crise de 2008. O prejuízo é parte do processo de consolidação. Somos especializados em comprar empresas deficitárias, que administradas por nós dão lucro. No primeiro momento, o resultado é negativo mesmo - disse Joesley.


Em março de 2007, quando a empresa abriu capital, a ação valia R$7,9. Na sexta-feira, valia R$7,6.


O banco aumentou sua participação no momento em que o grupo adquiria mais ativos, como o frigorífico Bertin, e expandia para novas áreas. No mesmo período, as ações caíram. Chegaram a valer R$3,5 em outubro do ano passado. Joesley Batista acha natural que o banco público seja um dos donos da sua empresa:


- O BNDES é meu sócio há três anos e é sócio da Weg há 30 anos.


Os dados do JBS mostram uma evolução explosiva dos ativos e um crescimento grande da dívida.


Pelos dados da Economática, a empresa tem uma dívida líquida sobre patrimônio líquido de 65%. A dívida bruta sobre patrimônio líquido é de 95%. Em 2011, houve prejuízo de US$496 milhões com a unidade de frango nos Estados Unidos, e foi justamente isso que deixou o grupo no vermelho no ano.


Nos EUA, o JBS é uma potência. Segundo ele, lá o grupo tem um milhão de cabeças de gado em confinamento. Este ano, engordará 2,2 milhões de cabeças. Compra 1.300 carretas de milho por dia, é o maior comprador de milho americano. Tem 70 mil empregados, 10 mil a mais do que no Brasil. Abate oito milhões de frangos por dia:


- Quando o Mauro, embaixador brasileiro, pede uma audiência com o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, ele atende porque a nossa empresa é o que é na economia americana. De lá, eu consigo alcançar mercados que não recebem carne brasileira. Foi porque estamos nos Estados Unidos é que começamos a exigir a elevação do preço para a nossa carne.


Ele diz que a empresa aprende na comparação entre as duas economias:


- Lá, para abater 6,0 mil cabeças eu preciso de três mil funcionários; aqui, preciso de seis mil. A produtividade lá é o dobro. A nossa indústria é muito primitiva. Lá, eu tenho cinco advogados; aqui, tenho 50. Lá, eu tenho 37 causas, aqui eu tenho sete mil.


Há outras diferenças gritantes. Aqui, como contei na coluna de ontem, que pode ser lida no meu blog, a empresa tem sido acusada de comprar carne de produtores que cometem crimes ambientais. Há até um caso de compra de gado de fazenda acusada de trabalho escravo:


- Nos Estados Unidos existe o conceito do "Animal Welfare". Lá eles mandaram fechar outro dia um frigorífico por causa da acusação de maltratar uma vaca.


Além do Brasil e Estados Unidos, a empresa está na Austrália, México, Uruguai, Paraguai e Argentina, e tem escritórios em todos os continentes. A ida para a Argentina não deu certo. Eles compraram cinco empresas e já se desfizeram de quatro:


- A Argentina enfrenta problemas. Seu rebanho diminuiu em dez milhões de cabeças nos últimos anos.


A empresa está entrando em outras áreas. Este ano vai inaugurar a Eldorado, na área de celulose, para a qual ganhou novo empréstimo do BNDES: R$2,7 bilhões.


- Normalmente, o grupo não constrói empresas, mas compra ativos com problemas e melhora a gestão. A Eldorado está sendo uma experiência de vida - diz Joesley.


O JBS tem um banco, o Original, que recebeu R$850 milhões do Fundo Garantidor de Crédito para absorver o Banco Matone. Coincidentemente, logo depois, o banco fez uma aposta pesada na queda da taxa de juros. Foi naquele primeiro corte, em agosto de 2011, que surpreendeu o mercado. Mas não o Banco Original. Ele ganhou muito dinheiro na queda das taxas e deu lucro de R$158 milhões no ano. A CVM investigou e não encontrou sinal de informação privilegiada. Joesley credita o acerto à capacidade de análise da equipe.


Fonte: Globo. Por Mirian Leitão. 21 de abril de 2012.



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