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Scot Consultoria

São Pedro não pode continuar governando o campo


Terça-feira, 7 de fevereiro de 2012 - 15h27

A estiagem que castiga os campos gaúchos e que coloca em alerta hídrico a economia, a política e o bem-estar social não surpreende. O que talvez ainda possa surpreender é o tamanho do prejuízo. Ninguém sabe ao certo de quantos bilhões serão as perdas. Análises conservadoras apontam até agora que a economia do Rio Grande do Sul deixará de ser irrigada por algo em tornos de R$2,9 bilhões este ano só com a quebra das lavouras de milho, soja, arroz e feijão. Recursos que certamente farão muita falta a um Estado que precisa retomar com urgência sua curva de desenvolvimento. Que precisa investir em estradas, em saúde, em segurança, em ensino e em tantas outras vertentes aceleradoras do crescimento. Ao longo dos anos, governos após governos administraram os ciclos de estiagem com rezas e benzeduras, confiando sempre em que os deuses da chuva se compadeceriam de nossos produtores na hora de plantar e de colher. Os últimos anos têm demonstrado que não basta sentar, olhar para o céu, fazer oração ou dançar a dança da chuva. O clima se mostra inclemente em todo o mundo. Ou chove demais em alguns lugares ou simplesmente não cai uma única gota de água por longos períodos em outros. Pois chegou a hora de se tratar o assunto com mais vontade e comprometimento. O Rio Grande do Sul tem abundância de água em seus rios, lagos, lagoas e subsolo. As tecnologias disponíveis permitem o armazenamento de água nos períodos de abundância e seu aproveitamento nos períodos de escassez. Vários países resolveram o drama da distribuição irregular de chuvas com sistemas de irrigação inteligentes. Para não ficarmos no exemplo batido de Israel, basta atravessar a fronteira e visitar Mendoza. Na província argentina não chove além de 300 milímetros por ano. Nem por isso falta água para os parreirais que produzem o melhor Malbec do mundo. Toda a produção agrícola é irrigada com água recolhida do derretimento das geleiras andinas. Ou seja, solução há. Se não temos geleiras, temos uma bacia hidrográfica muito mais generosa do que a de Mendoza. Basta que arregacemos as mangas e que façamos mais - muito mais - do que tem sido feito. Não dá para deixar de reconhecer que no governo Yeda Crusius o Estado teve pela primeira vez em sua história uma Secretaria de Irrigação - um voto claro de desconfiança em São Pedro, entidade que segundo a crença popular controla as torneiras do céu. O governador Tarso Genro não desdenhou da ideia, mas agregou a pasta a outra secretaria, algo que, parece, retira importância do programa de irrigação iniciado no governo anterior, embora não se possa falar expressamente em descontinuidade. Não se pode perder de vista, evidentemente, que a solução é cara e que os recursos são escassos, mas, se computarmos tudo que se perdeu em riquezas ao longo dos anos, certamente foi muito mais do que o investimento necessário para represar futuros prejuízos. O dinheiro surge quando se tem vontade e projetos. O Rio Grande do Sul, que por ironia já foi chamado de Província de São Pedro do Rio Grande, foi por muitos anos o celeiro do Brasil. O gaúcho ensinou o País a plantar. Levou tecnologia agrícola a todos os recantos do território nacional. Por tudo isso e pelo alinhamento do governo Tarso Genro com a quase gaúcha Dilma Rousseff, é impossível supor que um projeto de irrigação bem elaborado e consistente não sensibilize Brasília. Fonte: Jornal do Comércio. Pela Redação. 6 de fevereiro de 2012.
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