Falta veterinário para criação orgânica de gado

A ausência de produtos químicos na produção orgânica criou um desafio para os agricultores tratarem seus animais: poucos veterinários têm treinamento para tratar o gado bovino sem usar antibióticos ou outras drogas modernas. A falta de veterinários treinados em práticas orgânicas torna-se mais perceptível com o forte crescimento do setor nos Estados Unidos. Havia cerca de 3,35 mil fazendas de gado orgânico em 2007 nos Estados Unidos, de acordo com o Departamento de Agricultura do país (USDA), que realizou a contagem dos tipos de fazendas orgânicas pela primeira vez naquele ano e planeja outra para este. Os EUA tinham 14,54 mil fazendas orgânicas de todos os tipos em 2007, 20% a mais do que em 2002. Embora ninguém acompanhe o número de veterinários que tratam gado orgânico, especialistas concordam que há um número relativamente pequeno no país. "A menos que se viva em certas partes do país, é um mercado bem de nicho", disse Gatz Riddell, veterinário e vice-presidente da Associação dos Veterinários de Gado Bovino dos EUA, com sede em Auburn, Alabama. "Apenas uma minoria dos membros pretende trabalhar com produtores orgânicos porque a vasta maioria [das fazendas] é de produção convencional." Riddell disse que a maioria dos veterinários provavelmente venha a trabalhar com uma ou duas fazendas orgânicas, e que "é pedir muito deles que realmente conheçam duas formas diferentes de tratar algo". Também é difícil agregar temas a currículos veterinários "já transbordando", afirmou Riddell. A Iowa State University e outras faculdades atualmente oferecem cursos sobre terapias alternativas, mas o foco costuma ser em terapias chinesas e herbáreas, não necessariamente orgânicas, afirmou Jim McKean, professor de veterinária da universidade. Mike Chaddock, vice-diretor da Associação de Faculdades Veterinárias dos EUA, considera improvável que as instituições ofereçam um curso apenas sobre tratamentos orgânicos. Também há a questão do dinheiro. Poucos veterinários se dedicam à medicina orgânica porque é vista como uma área difícil de ganhar a vida, lembra McKean. Tony Azevedo, de 60 anos, que cria cerca de 800 vacas leiteiras, perto de Stevinson, Califórnia, diz que seria melhor se houvesse mais veterinários praticantes da medicina orgânica, mas que a procura é menor porque os animais criados organicamente tendem a ser mais saudáveis. "É preciso entender que, uma vez que os animais são colocados de volta em seu estado natural ou para pastar, eliminam-se 98% das doenças que os fazendeiros convencionais têm [em seu gado]", afirmou Azevedo. Um exemplo citado pelo fazendeiro são os problemas no abdome como resultado da alimentação excessiva, segundo Azevedo. Os animais orgânicos costumam comer menos que os criados de forma convencional, afirmou. Os animais criados sem confinamento também tendem a ter menos doenças ligadas ao estresse do que os mantidos sob concreto ou presos a máquinas, acrescentou. McKean, no entanto, ressalta que as práticas orgânicas também trazem riscos à saúde. Por exemplo, animais ao ar livre têm mais chance de contrair doenças da vida selvagem e de parasitas, como triquinose ou toxoplasma. O professor também critica o que descreve como relutância dos agricultores orgânicos em buscar tratamento médico. A regulamentação orgânica proíbe os fazendeiros de - apenas para manter a certificação - não tratar os animais doentes com antibióticos. Uma vez que recebem antibióticos ou hormônios, contudo, os animais precisam ser excluídos do rebanho orgânico. "Uma de meus problemas com o movimento de gado orgânico é que por causa do aumento no valor do animal orgânico em relação aos que receberam tratamento para suas doenças, é que eles protelam o tratamento de doenças por um período extenso", afirmou McKean. Fonte: Valor Econômico. Por Michael J. Crumb do AP, de Des Moines (Iowa). 16 de janeiro de 2012.
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