O biodiesel, consagrado no mercado de combustíveis brasileiro, tem contribuído para a sustentabilidade econômica, ambiental e social do agro.
Foto: Freepik
Segundo o levantamento do PIB do Biodiesel, realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA), a preços do primeiro trimestre de 2025 a renda do biodiesel na métrica de PIB renda é de R$17,8 bilhões, alta de 66,97% em relação a 2024. A renda da cadeia da soja e do biodiesel soma R$820,9 bilhões nessa mesma base. Com isso, o biodiesel representa 2,17% do valor da cadeia e equivale a cerca de 0,14% do PIB do Brasil, já que a cadeia corresponde a 6,4% do PIB nacional.
A contribuição no PIB tende a aumentar, estimulada pelo crescente consumo do biodiesel, que em 2025 registrou as máximas históricas em julho e agosto em volume de vendas, cujo desempenho foi de 902,3 mil metros cúbicos em julho e 896,7 mil metros cúbicos em agosto. Esses volumes de representaram um aumento de 6,3% e 7,0% em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao acumulado do ano, de janeiro a agosto, o volume das vendas foi de 6,3 milhões de metros cúbicos, aumento de 6,4% em relação a 2024 (figura 1).
Figura 1.
Volume de venda de biodiesel, de janeiro de 2017 a agosto de 2025, em mil metros cúbicos.
Fonte: ANP / Elaboração: Scot Consultoria
Para esse desempenho a capacidade de produção de biodiesel tem crescido ano a ano (figura 2).
Figura 2.
Produção de biodiesel de 2005 a 2025, em milhões de metros cúbicos por ano.
*Até agosto
Fonte: ANP / Elaboração: Scot Consultoria
Os aumentos em produção e em vendas evidenciam a demanda aquecida. No primeiro trimestre, o preço aumentou 57,88% em relação ao mesmo período de 2024 (ABIOVE).
Na agricultura, o PIB gerado por tonelada de soja, de formas direta e indireta, poderá ser de R$2.160,00, e na agroindústria o PIB gerado por tonelada de soja processada, de formas direta e indireta, poderá ser de R$7.269,00, resultando em um fator multiplicador do processo de 4,36. Sendo assim, o PIB total gerado por tonelada de soja produzida e processada (R$9.430,00) poderá representar 4,36 vezes o PIB gerado quando a soja for produzida e exportada diretamente (R$2.160,00).
E em termos de sustentabilidade ambiental, quais ganhos são possíveis com o uso do biodiesel?
Do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, avaliações de ciclo de vida mostram que o biodiesel de soja emite menos gases de efeito estufa do que o diesel fóssil. Na avaliação direta do Greenhouse gases, Regulated Emissions, and Energy use in Technologies (GREET) 2024, a intensidade de carbono do biodiesel de soja é de 20,2 g de dióxido de carbono equivalente por megajoule. Isso representa emissões 79,9% menores em relação ao diesel de referência de 100,5 g CO₂e por MJ, com os demais pressupostos constantes (Argonne, 2025; EPA, 2020).
Mudança de uso da terra (MUT) é o nome dado às emissões que acontecem quando uma área passa a ser usada para produzir matéria-prima para biocombustível.
A MUT pode ser direta quando a lavoura ocupa uma área que tinha mais carbono e pode ser indireta quando a lavoura desloca a atividade para outro lugar e isso leva à abertura de nova área. No cálculo da pegada de carbono, a MUT entra como uma parcela adicional que se soma à pegada direta do combustível. Quando a MUT é considerada, estudos internacionais mostram que a redução de emissões do biodiesel feito a partir de óleos vegetais fica entre 40,0% e 69,0%. No caso específico do biodiesel de soja, os resultados ficam entre 66,0% e 72,0%, próximos do valor obtido sem considerar a MUT de 76,0% (Xu et al., 2022; Chen et al., 2018).
No Brasil, um estudo com dados primários da indústria estimou valores entre 23,1 e 25,8 g CO₂e por MJ para biodiesel puro 100% (B100) em rotas domésticas. Isso corresponde a uma redução entre 65,0% e 72,0% em relação ao diesel europeu de referência, o que reforça a sustentabilidade climática do produto no país (Cerri et al., 2017).
Além do efeito climático, estudos mostram redução de material particulado em suspensão no ar, chamado de material particulado (MP), entre 18,0% e 35,0% e redução de monóxido de carbono (CO) e de hidrocarbonetos (HC) em testes com misturas de biodiesel. Já os óxidos de nitrogênio (NOx) podem variar de redução de 1,0% até aumento de 14,0%, dependendo do motor e do ciclo de ensaio. Esses resultados sugerem ganhos para a saúde pública, desde que exista controle veicular adequado de NOx e qualidade de combustível moderna a partir de 2010 (Kousoulidou et al., 2012; NREL, 1998).
E além dos ganhos ambientais e em saúde da população?
No lado social, o segmento de biodiesel registrou 17,2 mil pessoas ocupadas no primeiro trimestre de 2025, com aumento de 1,6% frente ao primeiro trimestre de 2024. Para dimensionar a sustentabilidade social associada ao processamento que inclui a produção de biodiesel, cada 1 mil toneladas de soja processadas geram 21 empregos diretos e indiretos, enquanto a exportação direta do grão gera 6,4 empregos, um fator multiplicador de 4,3 a favor do processamento. Isso mostra que o biodiesel tem contribuído com ganhos na econômicos e ambientais, e em ganhos sociais, contribuindo para aumentar a taxa de emprego brasileira.
O que esperar daqui para frente?
A perspectiva para a cadeira do biodiesel é positiva. A mistura obrigatória subiu para B15 e vale desde 1 de agosto de 2025 o que dá previsibilidade de demanda e favorece quem investe na produção (ANP, 2025).
Assim, é esperado um aumento nas vendas e consumo de biodiesel em 2025 quando em comparação a 2024. Considerando o B15, é esperado um aumento de pelo menos 7,0% em 2025 na produção de biodiesel em relação à 2024, um acréscimo estimado em 220 mil metros cúbicos. Se consolidada a expectativa, 2025 será o ano de maior produção e vendas da série histórica.
O Brasil conta com 1856 instalações, entre refinarias, terminais e instalações produtoras para armazenagem de biodiesel. A capacidade de tancagem está em 45,6 milhões de metros cúbicos para biocombustíveis e seus derivados. Assim, o Brasil tem capacidade de tancagem para uma demanda aumentada.
O biodiesel, desta forma, é um motor na valorização das oleaginosas e seus óleos e um impulsionador de crescimento econômico e social em equilíbrio com a sustentabilidade ambiental.
Bibliografia:
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. Revendedores de combustíveis: ANP divulga orientações devido à chegada do E30 e B15. Brasília: ANP, 2025. Disponível em: Revendedores de combustíveis: ANP divulga orientações devido à chegada do E30 e B15
CEPEA; ABIOVE. Cadeia da soja e do biodiesel: PIB, empregos e comércio exterior – 1º trimestre de 2025. Piracicaba: Cepea Esalq USP, 2025. Disponível em: PIB da cadeia de soja e biodiesel
CERRI, C. E. P.; YOU, X.; CHERUBIN, M. R.; et al. Assessing the greenhouse gas emissions of Brazilian soybean biodiesel production. PLOS ONE, 2017. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0176948
CHEN, R.; LIF, A.; WANG, M.; et al. Life cycle energy and greenhouse gas emission effects of biodiesel in the United States with induced land use change impacts. Bioresource Technology, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960852417321648
XU, H.; ZHANG, Y.; WANG, M.; et al. Life Cycle Greenhouse Gas Emissions of Biodiesel and Renewable Diesel. Environmental Science & Technology, 2022. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9228054/
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