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Scot Consultoria

A importância de reportar seus preços


Terça-feira, 22 de março de 2022 - 15h00

É do conhecimento de todos que o trabalho do CEPEA depende em grande parte da comunicação voluntária de preços de compradores e vendedores para a confecção de seus indicadores. Portanto, não é difícil imaginar que haja quem reporte preços apenas quando é de seu interesse, ou seja, compradores reportando apenas seus menores preços de compra e vendedores reportando apenas seus maiores preços de venda.


No caso do Indicador do Boi Gordo, essa dificuldade aumentou muito com a chegada do chamado “boi China”, que tem preços bem acima do chamado “boi comum”. Na tentativa de direcionar suas compras apenas para animais menores de 30 meses, aptos à exportação, muitas indústrias estão impondo deságios enormes para animais não exportáveis. Está ficando cada vez mais comum os preços negociados aparecerem como um valor base extremamente baixo, somado a um enorme prêmio para os animais exportáveis.


Usando números de negociações efetivamente fechadas nesta semana em São Paulo, os valores chegam até R$305,00/@ de preço base, mais R$45,00/@ de prêmio para o “boi China”. Nesse caso, qual é o valor correto a ser reportado, R$305,00/@ ou R$350,00/@? Poderia acontecer de o comprador reportar o preço base e o vendedor reportar o preço cheio, havendo dois preços para o mesmo negócio?


O deságio embutido nesse exemplo real é muito maior do que o pago pelas indústrias de mercado interno no boi paulista, que hoje está entre R$330,00 e R$340,00/@, levando a crer que quem se sujeita a vender nessas condições é porque tem certeza de que a imensa maioria dos seus animais são abaixo de 30 meses e receberão a premiação. Se não fosse esse o caso, com certeza faria muito mais sentido dividir o lote e vender os animais abaixo de 30 meses para um frigorífico exportador e os acima de 30 meses para um frigorífico de mercado interno. Além do mais, antes do abate não há como saber com certeza quantos animais serão “premiados”, de modo que informar apenas o preço base da negociação não refletirá o preço real do negócio.


No último dia 16/3 o preço mínimo divulgado no indicador foi de R$312,98/@, valor esse bem abaixo das negociações reais para o boi comum em São Paulo, o que nos leva a crer que esse preço pode ter sido apenas o preço base de uma negociação com premiação. O Indicador é ponderado por volume e dependendo do volume de animais nessa negociação isso pode ter impacto relevante no indicador final, causando oscilações no mercado que não correspondem à realidade dos preços.


O Indicador Esalq/B3 melhorou muito nos últimos anos e, em média, tem refletido de maneira correta a situação do mercado físico. Essa nova modalidade de precificação trará mais ruído e dificuldades para o levantamento de preços. Esperamos que tanto CEPEA quanto B3 estejam atentos a isso e evitem impactos negativos na confiança e credibilidade do indicador. Enquanto isso, o pecuarista pode e deve fazer a sua parte e reportar preços de todos os seus negócios, não apenas ao CEPEA, mas a todos os levantamentos de mercado, como o da Scot Consultoria. Uma amostra mais robusta e com maior número de negócios estará sempre mais blindada a qualquer tentativa de “direcionamento” de preços.


Tabela 1. Mercado futuro do boi gordo na B3 - R$/@, à vista.

Fonte: Cepea/Esalq - B3



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