As dificuldades do Indicador Esalq

A situação do mercado físico de boi gordo não tem tido nenhuma alteração relevante nas últimas semanas. As escalas curtas e oferta apertada perduram na maioria das regiões pecuárias do Brasil e a tendência de preços em alta permanece, porém, as dificuldades com o escoamento da carne acabam atuando no sentido de segurar o ímpeto a alta, já que as indústrias tem relutado muito em subir as ofertas de compra frente ao aperto das margens atuais. Nesse cenário, o mercado futuro, que já vinha precificando altas para toda a entressafra, tem ficado literalmente às moscas, com baixos volumes negociados, sem volatilidade e também sem liquidez. Os vencimentos de jul/16, ago/16 e out/16 estão literalmente “travados” num pequeno intervalo de preços e sem conseguir romper nem pra cima e nem pra baixo os patamares de 161,00/@ e 162,00/@ no jul/16, 163,00 e 164,00/@ no ago/16 e 165,50 e 166,50/@ no out/16. Sem muito mais a acrescentar nesse cenário que já perdura há algumas semanas, usarei esse espaço para discorrer um pouco sobre a importância da comunicação dos preços negociados ao Cepea/esalq.

Poucos assuntos são tão polêmicos no meio da pecuária atualmente como a aderência e representatividade dos preços reportados pelo CEPEA e a realidade do mercado físico. As discussões muitas vezes acaloradas principalmente em relação ao Indicador à vista de São Paulo, que liquida os contratos do mercado futuro da BVMF, são recorrentes e quando ocorre alguma distorção de preços no entender de um ou outro participante o nível das discussões se aquece e o reflexo disso acaba sendo que muitos participantes deixam de operar no mercado futuro, resultando na queda de liquidez que enfrentamos atualmente.

Os desafios para se construir um indicador de preços que represente a realidade do mercado físico são enormes e nos últimos anos tem ficado ainda maiores, na medida que um maior número de animais a termo ou negociados através de contratos passam a compor a escalas dos frigoríficos, diminuindo assim o número de negócios na praça paulista. Além disso, muito do abastecimento dos frigoríficos de São Paulo acontece em estados vizinhos, diminuindo os negócios no estado, o aumento recente dos diferenciais de base veio agravar ainda mais esse problema.

Com um menor número de negócios sendo efetivado em São Paulo, a base amostral do indicador também diminui e esse acaba sendo o grande causador dos problemas e discussões atualmente. Com um universo de negócios reportados menor, um ou outro negócio realizado a preços distantes da média tente a ganhar representatividade e acaba distorcendo o indicador nesse determinado dia, dando vazão à onda de reclamações recorrentes.

O remédio para os problemas enfrentados é justamente o maior desafio do levantamento de preços atualmente, ou seja, aumentar de forma significativa a amostra de negócios realizados em São Paulo. Nisso o pecuarista tem uma grande responsabilidade e pode contribuir de forma importante ao criar e difundir o hábito de sempre que efetuar negócios, seja no boi gordo ou na reposição, reportar os preços e as características do negócio ao Cepea. É importante ter em mente que a melhor prevenção para distorções no indicador é justamente ter uma base amostral grande e representativa, onde os poucos negócios realizados longe da média não tenham representatividade para impactar o indicador.

Buscando atacar esse problema, o Cepea lançou na última semana um aplicativo para facilitar a informação dos preços negociados pelo produtor. A interface é bastante amigável, fácil de ser usada e após baixar o aplicativo em seu celular e se cadastrar como informante o processo de reportar o negócio não toma mais do que 30 segundos. Por enquanto o aplicativo está disponível apenas para “Android”, porém, logo estará disponível também na loja da Apple para download gratuito. No mundo cada vez mais informatizado que vivemos, esse é um passo do Cepea na direção correta. Faça seu download e incentive sua rede de contatos a fazer o mesmo, seja um informante do Cepea, essa é uma contribuição muito maior do que simplesmente reclamar e deixar de usar o indicador em seus negócios diários. A pecuária do Brasil agradece.