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Scot Consultoria

Reflexões sobre o "boi a termo"


Sexta-feira, 30 de julho de 2010 - 17h20

Uma das grandes evoluções na comercialização de boi gordo nos últimos anos no Brasil foi o advento do chamado “boi a termo”. Conjuntamente com o desenvolvimento do mercado futuro de boi gordo da BVMF, essa nova ferramenta de negociação, que possibilita a negociação de bois com entrega futura, foi um dos grandes catalisadores para o desenvolvimento da atividade confinadora nos últimos anos no Brasil. As discussões a respeito dessa forma de comercialização são muitas vezes acaloradas e defensores e críticos muitas vezes apresentam as razões para seu ponto de vista de forma mais “apaixonada” do que racionalmente. O objetivo desse artigo não é defender nem criticar essa importante ferramenta de comercialização, mas apenas tentar analisar da forma mais isenta possível suas conseqüências nos preços. A afirmação que mais se ouve em relação ao boi a termo é que ele é o grande culpado pela queda de preço na entressafra nos últimos anos. O argumento é que com a escala de abate garantida, os grandes frigoríficos teriam força suficiente para derrubar preços dos demais pecuaristas que vendem no mercado “spot”. A meu ver, tanto a afirmação quanto a justificativa são simplistas demais e merecem uma análise mais detalhada. A comercialização a termo é uma ferramenta extremamente difundida nas mais diversas commodities, sendo inclusive muito mais antiga e amplamente utilizada em outros mercados que no do boi, como soja e café por exemplo. Analisando isoladamente, o impacto de maior número de animais comprados a termo seria nulo, já que seria exatamente igual à diminuição dos animais disponíveis para venda no mercado spot. Porém pelas características do mercado de boi gordo, principalmente na entressafra, onde o custo de confinamento inviabiliza o carrego de estoques de animais prontos, o fato de grandes indústrias já terem sua programação de abate fechada poderia, em teoria, exercer uma pressão adicional baixista no mercado. Ao analisar o mercado nos últimos 4 anos, a conclusão mais lógica a que se chega é que o termo amplifica a importância da demanda por carne na precificação do boi gordo. Se imaginarmos que as duas principais influências na precificação são a demanda por carne e a oferta de animais, e que elas teriam forças iguais sobre o preço, num ambiente com grandes frigoríficos com boa parte da escala comprada a termo, a influência da demanda se amplifica. Explico-me: num ambiente de demanda fraca, como observado no segundo semestre de 2008 e 2009, o impacto do termo é realmente baixista, já que as grandes empresas saem das compras e com a demanda fraca, os demais participantes não têm incentivo suficiente para subir preços e absorver a oferta disponível no spot, pagando preços mais baixos, e ampliando a queda. O contrário também é verdadeiro: num mercado de demanda aquecida, como foi 2007 e está sendo 2010 até o momento, o efeito do termo é o inverso do esperado, exacerbando a alta dos preços. Num cenário em que os grandes frigoríficos estão com as escalas completas por boi a termo e, portanto, não comprando no mercado spot, eles saem da base de cálculo do Índice ESALQ, que passa a ser composto em sua maioria pelas indústrias menores, que com boa demanda, pagam mais pelos bois disponíveis, subindo o Índice ESALQ à vista, amplificando a alta e potencialmente causando alta nos mercados futuros. O comportamento do mercado em 2007, 2008, 2009 e 2010 até o momento, reforça a viabilidade dessa hipótese e se for esse mesmo o caso, ao ampliar a importância da demanda na precificação, o boi a termo não tem a conseqüência sempre baixista que a maioria aborda, mas ele pode amplificar movimentos de alta ou de baixa conforme a variação da demanda, agregando volatilidade aos preços, e não tirando como seria o esperado. Independente do impacto, essa modalidade de comercialização é mais uma ferramenta à disposição dos pecuaristas e é uma realidade que tende a aumentar à medida que a cultura de gerenciamento de risco se aprofunda na pecuária. É bom conhecer e estudar para poder tira proveito disso.
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