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Scot Consultoria

Mercado mundial, volume x preço


Quarta-feira, 12 de março de 2008 - 16h13

Michael Pollan é jornalista, professor universitário e colaborador do New York Times. Seu último livro, “O Dilema do Onívoro”, faz uma verdadeira excursão pelas cadeias agroindustriais dos Estados Unidos, gerando uma série de reflexões. Exageros à parte, é uma boa leitura. Eu recomendo. Chama a atenção, no capítulo 5, que trata da questão dos alimentos processados nos Estados Unidos, o fato do ser humano apresentar uma certa limitação física no que diz respeito à ingestão de alimentos. Em geral, nosso organismo não suporta mais do que 680 quilos de comida por ano. Lógico que existe o “efeito gula”, as especificidades de cada organismo e as artimanhas da engenharia de alimentos, mas em média o número é esse aí. Explica-se, assim, porque a demanda pela maioria dos alimentos, principalmente em nações desenvolvidas, é inelástica, ou seja, não aumenta conforme ocorre melhoria de renda. Afinal, quem é rico já come o suficiente. Pollan destaca que os profissionais da indústria alimentícia taxam esse comportamento de “fenômeno do estômago fixo”. Na outra ponta, o consumo de alimentos cresce de forma mais significativa em nações emergentes. Não é só pelo fato da economia dos chamados países pobres, em termos proporcionais, estar crescendo de forma mais significativa do que a de países ricos. É porque boa parte da população da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio ainda não consome a sua cota de 680 quilos anuais de comida. Portanto, mediante a melhoria de renda, ela pode diminuir esse déficit. EXPECTATIVAS DE CONSUMO Acompanhe, na tabela 1, as expectativas da FAO (órgão das Nações Unidas para questões de agricultura e alimentação) e da OECD (grupo das democracias mais desenvolvidas do planeta) para o consumo mundial de carnes até 2016. Veja que os maiores aumentos tendem a ser registrados nos países em desenvolvimento, graças ao crescimento da população e, principalmente, à melhoria de renda. Nos países ricos, membros da OECD, os aumentos de consumo dependem muito menos da renda e muito mais do crescimento populacional, que também tende a ser menor em relação às nações emergentes. Várias considerações emanam dessa tabela. A primeira é que o pessoal menos endinheirado realmente não tem preconceito. Veja que as variações esperadas de consumo, entre todas as carnes, estão bastante próximas. O que vale é matar a fome. Já no mundo desenvolvido, o consumo de frango ocupa a dianteira do crescimento, talvez em função do apelo relacionado à saúde (carne branca), contando com a ajuda de campanhas de marketing bem elaboradas e de um bom mix de produtos. A carne de ovinos, por sua vez, não goza de muito prestígio. Derivações à parte, a tabela ilustra, claramente, que qualquer estratégia que busque promover um aumento significativo das vendas de carne precisa priorizar o acesso aos mercados emergentes. Pois é onde que o consumo cresce! Nesse sentido, pensando na carne bovina brasileira, parece que estamos no rumo certo. As exportações para a Rússia e para o Oriente Médio, por exemplo, cresceram 41% e 3% em volume e 30% e 12% em faturamento, respectivamente, entre 2006 e 2007. Mas e as nações desenvolvidas, são menos importantes? Pelo contrário, aí é questão de valor. Para se ter uma idéia, o Japão paga em média, de acordo com dados da FAO, US$6 mil por tonelada de carne bovina importada. Já preço médio da carne exportada pelo Brasil, que não tem acesso ao mercado japonês com produto in natura, ficou em 2,69 mil dólares a tonelada, em 2007. O único mercado desenvolvido que o Brasil atendia com carne in natura era a União Européia (UE). E assim como os seus pares abonados, os europeus pagam muito bem pelo que compram, como ilustra a figura 1. Fica claro, portanto, que a importância dos países em desenvolvimento está relacionada a volume, e a dos países desenvolvidos a preço. A melhor estratégia é manter essa equação, volume x preço, equilibrada. A maior dificuldade brasileira está, justamente, do lado do preço. Os países ricos, que pagam bem, são extremamente exigentes em qualidade de processo, ou seja, estão de olho na sanidade, na rastreabilidade, no controle de resíduos, etc. Nesse sentido, além de buscar atender as exigências dos clientes, é preciso que os nossos negociadores consigam alinhá-las à realidade produtiva brasileira. É justamente aí que temos falhado.
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