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Scot Consultoria

Sustentabilidade da pecuária brasileira. Os números não mentem


Sexta-feira, 24 de setembro de 2010 - 16h09

A pecuária brasileira é a bola da vez dos ambientalistas. Devido à pouca informação sobre o agronegócio brasileiro, os ambientalistas têm recrutado adeptos, desavisados, à atitude da moda: descarregar sobre a pecuária a culpa pelo aquecimento global, advindo de mais de duzentos anos de queima de combustíveis fósseis e revolução industrial. Isto quando as críticas não pregam o vegetarianismo ou mesmo extinção da atividade que, junto a outros setores do agronegócio, mantém a balança comercial positiva. Sem o agronegócio, a balança comercial brasileira estaria em déficit de mais de US$28,5 bilhões, considerando o período de janeiro a agosto deste ano (MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com dados compilados pela Conab, Companhia Nacional de Abastecimento). O fazendeiro segue trabalhando. Partindo do princípio que a produção de alimentos tem que aumentar, não apenas para gerar divisas, mas para alimentar uma população crescente, o caminho é a produtividade, uma vez que a tendência das áreas de pastagens é diminuir. Analisamos a evolução de alguns indicadores de produtividade da pecuária nacional. Veja como, apesar de muito a ser feito, a pecuária brasileira progrediu. Segundo estimativas da Scot Consultoria, em dez anos o rebanho bovino brasileiro cresceu de 164,6 milhões de cabeças para 197,1 milhões (2009). Aumento de 19,7%. Este incremento, no entanto, não foi feito à custa de aumento da área de pastagens. Ocorreu com aumento na taxa de lotação. Em 1999 o pecuarista brasileiro alocava 0,94 cabeça por hectare. Em 2009 este número passou para 1,15, melhoria média de 22,3%. Neste intervalo a pecuária brasileira cedeu quatro milhões de hectares a outras atividades, uma diminuição de 2,3%. A área total de pastagens caiu de 175,34 milhões de ha para 171,35 milhões em 2009. Fazendo um exercício, segundo a Conab, a área plantada com soja nos últimos dez anos, aumentou 8,7 milhões de ha, incremento de 67,3%. Na safra 2008/2009, a área plantada foi de 21,7 milhões de hectares. Se nos quatro milhões de hectares que deixaram de ser pastagens fosse plantada somente soja, considerando a produtividade média brasileira, a produção nesta área seria o equivalente a 18,3% da produção da safra 2008/2009 e supriria 36,7% das exportações brasileiras de soja em 2009. Seriam 174,8 milhões de sacas produzidas. O crescimento da pecuária brasileira não se deu apenas devido ao aumento do rebanho. Os abates aumentaram 35,8% entre 1999 e 2009. Segundo a Scot Consultoria, em 2009 foram abatidos 40,2 milhões de bovinos, ante 29,6 milhões em 1999. O incremento maior nos abates em relação ao rebanho resulta da melhoria no desfrute, que indica os abates sobre o rebanho. Ressalta-se que a melhoria do desfrute pode ocorrer em anos de liquidação de rebanho, com aumento do abate de fêmeas, como houve entre 2005 e 2006, devido aos baixos preços do boi gordo. Mas a tendência do desfrute brasileiro é de alta e traz implícita melhoria nos demais índices, como maiores taxas de prenhez e natalidade e queda na mortalidade. Entre 1999 e 2009 o desfrute passou de 18,0% para 20,4%, aumento de 13,3%. Com o aumento no número de animais abatidos, houve aumento na produção de carne, que passou de 6,4 milhões de toneladas equivalente carcaça (tec) em 1999 para 8,9 milhões em 2009, aumento de 38,7%. Em 2004 a produção de carne brasileira superou a produção da União Européia. Segundo a Scot Consultoria, foram 8,6 milhões de tec produzidas no Brasil, ante 8,2 milhões produzidas pelos 27 países da União Européia, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Desde então o Brasil é o segundo produtor de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos, que produziu 11,9 milhões de tec em 2009. Voltando à produtividade brasileira, note que o aumento da produção de carne foi maior que o do número de animais abatidos, fato gerado pelo incremento no peso médio de carcaça. Segundo dados IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 1999 a 2009, o peso médio de carcaça dos bovinos abatidos passou de 226,8kg (15,1@) para 238,6kg (15,9@). Assim como o desfrute, o peso médio de carcaça é influenciado pelo abate de fêmeas e a participação destas nos abates totais. Com isto, quando houve maior participação de fêmeas nos abates, como em 2005 e 2006, o peso médio da carcaça brasileira caiu. Isto porque as fêmeas, mais leves, ganharam maior participação na conta. Veja na figura 1 a relação da participação de fêmeas nos abates com o peso médio de carcaça. Apesar da oscilação no peso médio geral, por causa da variação na participação de fêmeas nos abates, tanto o peso dos machos quanto das fêmeas têm aumentado. Veja a figura 2. Vale ressaltar que os dados de peso de carcaça são de órgãos oficiais. Ao se analisar a pecuária, deve-se considerar também a informalidade. Embora tenha diminuído nos últimos anos, ainda é um problema no setor. Estima-se que em 2009 a informalidade nos abates brasileiros tenha sido de 30,6%. Em 1999 estima-se uma informalidade ao redor de 43,4%. Além das próprias, e necessárias, consolidação e profissionalização do setor, o aumento da participação das exportações no total produzido ajudou nesta tendência de diminuição da participação dos abates informais. Figura 3. A queda da informalidade é proveniente de uma série de fatores, mas a venda para o mercado externo tem sua participação. A eficiência reprodutiva e um melhor aproveitamento das matrizes são fundamentais para o incremento nas taxas de prenhez e natalidade. A utilização de genética melhorada também influencia na precocidade dos animais. Tais fatores culminam em incremento do desfrute, devido a uma maior eficiência produtiva. Entre 1999 e 2009, segundo a ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), as vendas de sêmen aumentaram 64,5%, passando de 5,6 milhões para 9,2 milhões de doses. Paralelamente ao avanço no uso de inseminação artificial, houve aumento no uso de tourinhos melhorados e IATF (inseminação artificial em tempo fixo). No campo da nutrição, observa-se aumento na suplementação, utilização de forrageiras melhoradas e, ainda em menor grau, integração com a agricultura. A soma de utilização de tecnologia e trabalho dos integrantes do setor gerou esta evolução, que tende a continuar. Se permitirem.
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