O abate de fêmeas é um indicador fiel do investimento na pecuária.
Uma participação alta de fêmeas nos abates indica desinvestimento na atividade.
Com preços do boi gordo em alta, e dos animais para reposição também, o fazendeiro retém matrizes para produzir bezerros.
O inverso também ocorre, com desinvestimento e abate de matrizes em épocas de “vacas magras”.
A retenção de matrizes causa, em determinado prazo, aumento da produção de bezerros , que serão bois gordos anos depois. Isto tende a culminar em sobreoferta e, conseqüentemente, em queda de preços.
A este fenômeno dá-se nome de ciclo pecuário, gerado pelos ciclos de oferta de animais para o abate.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a participação de fêmeas nos abates no primeiro trimestre deste ano foi de 37,7%.
Em 2009 a participação de fêmeas no abate do primeiro trimestre foi de 41,1%, mas durante o ano caiu e a participação anual foi de 36,3%.
O abate de fêmeas tende a ser maior no primeiro trimestre do ano, com o descarte das fêmeas que não emprenharam, ao fim da estação de monta.
Evolução da participação dos abates de fêmeas
Vamos comparar os preços nos primeiros semestres, de 2005 a 2010.
Em 2005 os abates de fêmeas representaram 43,8% dos abates totais, em função dos preços deprimidos, influenciados pela fase do ciclo e o foco de aftosa em outubro.
Em 2006, a gripe aviária que eclodiu na Ásia fez com que o consumo mundial de carne de frango caísse, afetando as exportações. Essa carne foi desovada no mercado interno, concorrendo com a carne bovina, e derrubou os preços internamente.
Em junho de 2006, o valor deflacionado da arroba em São Paulo atingiu o menor patamar em mais de 30 anos.
Foi um ano de forte participação de fêmeas nos abates, mesmo patamar de 2005, 43,8%.
As vendas de sêmen, por sua vez, refletem o nível de investimento em reprodução. Segundo a ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), em 2005 e 2006 houve, respectivamente, queda de 6,0% e 4,2% nas vendas de sêmen, em relação aos anos anteriores. A queda do rebanho de matrizes pôde ser observada já em 2007, com o mercado de reposição em alta.
No primeiro semestre de 2007 o bezerro de doze meses no Mato Grosso do Sul subiu 29,4%. O boi gordo em São Paulo subiu 7%.
A participação de fêmeas nos abates em 2007 foi de 40,1%, uma queda de 3,6 pontos percentuais frente a 2006. As vendas de sêmen subiram 11,3% em 2007, indicando uma expansão da base de matrizes e confiança do pecuarista.
No primeiro semestre de 2008, o boi gordo em São Paulo subiu 23% e o bezerro de doze meses no Mato Grosso do Sul, 54,5%. Foi mais um ano de retenção de fêmeas, com 38,6% de participação fêmeas nos abates. Nova queda.
No final de junho a arroba em São Paulo chegou aos R$93,00, a prazo, livre de imposto.
Essa progressão nos preços foi interrompida pela crise global.
O ano de 2009 “viveu” a crise e foi atípico para a pecuária.
Foi um ano chuvoso, com bom índice pluviométrico inclusive na entressafra, permitindo pastagens em boa qualidade na maior parte das praças pecuárias. O preço no segundo semestre foi mais baixo que no primeiro. Uma inversão. As vacas compuseram 36,3% dos abates em 2009 e as vendas de sêmen aumentaram 11,7% em relação às de 2008.
Situação em 2010
No primeiro trimestre de 2010 a participação de fêmeas nos abates foi menor que nos anos anteriores.
Foram seis meses de mercado firme para o boi gordo, que registrou 8,9% de valorização de janeiro a junho em São Paulo.
Os preços dos animais para reposição subiram mais que o boi gordo. O boi magro subiu 17,4% em São Paulo, e o bezerro de ano subiu 21,9% no Mato Grosso do Sul.
Aliás, as valorizações firmes para a reposição, sem trégua, indicam que, apesar de 2010 ser o quarto ano com participação do abate de fêmeas em retração, ainda não é encontrado excesso de oferta das categorias mais novas. Em algum momento a maior quantidade de vacas em reprodução resultará em sobreoferta de bezerros e, posteriormente, bois gordos. Mas ainda não há sinal desta inversão.
Se não há excesso de animais mais novos, é improvável um aumento expressivo na oferta de bois em curto prazo, uma vez que os bois de amanhã são, indubitavelmente, os bezerros e garrotes de hoje.
Outro fator interessante na atual conjuntura é a valorização mais intensa das categorias mais jovens em relação às mais eradas e ao próprio boi gordo.
Tomando por base os preços do Mato Grosso do Sul, devido à representatividade do mercado de reposição no estado, comparou-se algumas variações. No primeiro semestre de 2010 o boi gordo subiu 11,6%.
Os bois magros e garrotes anelorados subiram 12,4% e 12%, respectivamente. Quando a análise é feita com os bezerros, temos valorização de 22% para o de doze meses e 29,4% para a desmama anelorada.
Existe a sazonalidade no ano, com maior oferta de bezerros após a desmama. Maior demanda por bois magros antes dos confinamentos, dentre outras peculiaridades.
Então fez-se a comparação com anos anteriores. Na figura 1 estão as variações dos preços da desmama, do bezerro de doze meses e do boi magro, no primeiro semestre de cada ano.
Pode-se observar que a variação de preços no primeiro semestre foi semelhante à de 2007 e apenas inferior à de 2008.
A variação de 2007 refletiu a menor oferta de animais gerada pelos abates em 2005 e 2006. A pouca oferta, no ano seguinte, causou valorização expressiva de todas as categorias.
A semelhança com 2007 não é promessa de alta semelhante à de 2008, em 2011. De lá para cá foram mais dois anos de retenção de matrizes e a conjuntura da pecuária mudou bastante, incluindo forte concentração dos compradores, devido às fusões e recuperações judiciais, ocorridas desde o início de 2009.
No entanto, a desvalorização de bois tende a ser precedida pela desvalorização das categorias mais jovens.
Quando a relação de troca diminui, cenário recente, é porque a reposição se valorizou mais que os animais terminados, pois faltam bezerros.
Segundo semestre
Esta será a primeira entressafra após a onda de aquisições e fusões pela qual passou o setor frigorífico.
Com oferta enxuta, o foco das atenções quanto à precificação do boi gordo se volta à intensidade de uso das ferramentas de garantia de matéria prima pelos frigoríficos.
A quantidade e distribuição dos confinamentos e animais negociados a termo vão determinar o tamanho da pressão que os frigoríficos imporão sobre as cotações nos próximos meses.
Mas é bom lembrar que boa parte do gado comprado a termo na entressafra vem de confinamento e não dá para somar um ao outro.
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