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Scot Consultoria

Crise financeira no momento certo


Terça-feira, 20 de janeiro de 2009 - 13h12

A crise está aí. A sorte da pecuária, sob o ponto de vista do pecuarista, é que ela chegou num período de escassez (falta de gado) e não de abundância (excesso de gado), o que confere certa sustentação aos preços. De toda forma, não é prudente esperar demais do mercado. Mesmo que, num cenário otimista, o boi retome o movimento de alta, dificilmente repetirá o corrido em 2007 e 2008, quando subiu, respectivamente, 38% e 12%, em termos nominais, em São Paulo. Veja a figura 1. Portanto, se os preços podem não colaborar (na melhor das hipóteses, colaborarão menos do que no passado recente), é preciso olhar com mais atenção para dentro da fazenda. Avaliar se ela está bem posicionada para atravessar esse período menos favorável. É preciso identificar eventuais gargalos e, dentro do possível, eliminá-los. Comece pelo inventário “Quem não mede não gerencia”. Esse é um dos fundamentos da administração, que deve ser levado ao pé da letra. É preciso medir desempenho técnicos (índices zootécnicos) e econômicos. Aqui vamos tratar da parte econômica, ou seja, de custos e resultados. Se você ainda não começou a controlar as entradas e saídas da fazenda, comece agora, sabendo que já o está fazendo tarde. Se você até controla os números, mas apenas no estilo “de um lado vai tudo que entra, de outro tudo que sai”, passe a organizá-los. Primeiro, faça o inventário da empresa. Levante todos os bens: terra, culturas, máquinas, equipamentos, instalações, reprodutores, etc. Organize-os e, agora, dê uma boa avaliada na estrutura de que dispõe. É preciso ver se não existem excessos. No caso de máquinas, equipamentos e reprodutores, por exemplo, os excessos podem ser negociados, gerando economia de custos fixos (depreciações) e variáveis, além de proporcionar uma entrada extra de caixa. Se for diagnosticado um “superdimensionamento” de instalações e benfeitorias, aí já não há o que fazer. De toda forma, essa mera constatação irá evitar que se imobilize mais capital em construção, por exemplo, de um novo barracão. Esse dinheiro será preservado em caixa, evitando também o aumento desnecessário de custos fixos (depreciações) e de variáveis indiretos (manutenções). Agora os custos variáveis Tratemos agora dos desembolsos. Além de anotá-los, passe a agrupá-los em centros de custo como: sanidade, alimentação, reprodução, mão-de-obra, administrativos, etc. Nada muito complicado. Depois, aloque cada centro de custo dentro de dois grandes grupos: o dos “Custos Variáveis Diretos” e o dos “Custos Variáveis Indiretos”. Os diretos, como o nome diz, são aqueles que estão diretamente relacionados à escala de produção, ou seja, se a escala aumenta, eles aumentam. Mas se a escala diminui, eles também diminuem. Sanidade, alimentação e identificação animal, por exemplo. Já os custos indiretos não acompanham a escala. Tem até quem prefira classificá-los como custos fixos. São, a mão-de-obra, as consultorias, os administrativos, a água, a luz, as manutenções, etc. Com esse mínimo de organização, já é possível encontrar subsídios para decisões de extrema importância. Desde que, seja dedicado tempo para a análise dos números. Exemplos Muitas vezes, quando a situação aperta, o produtor pensa logo em cortar ou reduzir o uso de insumos. No entanto, o “problema” pode estar nos custos indiretos. Dê uma boa olhada neles, veja se tem algo que lhe chama a atenção. Vamos supor que os gastos com mão-de-obra lhe pareçam elevados. Nesse caso, será que a sua equipe está bem dimensionada? Como parâmetro, pode-se usar 1 vaqueiro para cada 900 a 1000 cabeças ou 1 funcionário (em qualquer função) para 500 animais. Se não houver excesso de colaboradores, será que a remuneração é adequada? Muitas empresas rurais criam sistemas de bonificação atrelados à receita, ou ao valor da arroba. Mas nem sempre um aumento de preço, ou de receita, é sinônimo de lucro. E os custos? As bonificações, quando existirem, devem estar atreladas aos resultados e à produtividade. Suponha que as manutenções é que estão muito elevadas. Nesse caso, qual é a origem delas? Se for de máquinas e equipamentos, por exemplo, veja se a equipe está bem treinada para o uso dos mesmos. Se não estiver, contate o fornecedor ou o fabricante para instruí-los melhor, normalmente eles disponibilizam esse serviço. Pode ser também que o parque esteja superdimensionado. Nesse caso, volte ao inventário, confirme a suspeita e venda o que estiver em excesso. Proceda com o pente fino e, caso esteja tudo certo com os custos indiretos, aí é hora de dedicar atenção aos custos diretos. Mas é preciso muito cuidado, pois são esses desembolsos que garantem o resultado da produção. Antes de cortar o uso de qualquer insumo, ou optar por um produto de qualidade inferior, avalie se realmente ele tem uma participação significativa nos custos e quais os resultados que ele proporciona. Nesse caso é preciso um mínimo de conhecimento sobre os índices técnicos da fazenda. Os programas sanitários, por exemplo, normalmente respondem por 3% a 4% dos custos totais de produção, quando também são incluídas as depreciações (custos fixos). É uma participação relativamente pequena, mas muitas vezes é na vermifugação ou em algumas vacinações que o pecuarista decide economizar, comprometendo ainda mais a rentabilidade do sistema. Trocar sal mineral por sal branco também é outra atitude relativamente comum. Mas só quem não tem a mínima noção dos números da fazenda acredita que se trata de uma boa estratégia. Se os gastos com algum insumo ou alguma técnica estiverem parecendo realmente exagerados, verifique, primeiro, se não está havendo desperdícios, ou seja, se não existem problemas na aplicação e/ou no armazenamento. Depois, verifique com o fornecedor se não existem formas de pagamento que comprometam menos o fluxo de caixa da fazenda. Se necessário for, invista numa renegociação e, por fim, procure opções mais em conta, desde que não comprometam a produtividade. Aqui foram apresentados alguns exemplos. Mas a recomendação geral é: levante e analise o inventário e os custos, identifique eventuais gargalos, vá até o campo atrás da origem dos mesmos e, por fim, adote as medidas necessárias para eliminá-los ou minimizá-los. Mas sempre buscando evitar que a produtividade seja comprometida. Outras sugestões 1. Primeiro é preciso ter consciência que o controle de custos deve se manter em constante evolução. Comece com o simples e depois vá aperfeiçoando. Quanto mais detalhado (número de centros de custo), estratificado (por atividade e/ou etapa de produção) e preciso, melhor. 2. Acompanhe os mercados, ou seja, se mantenha bem informado, pois boas oportunidades surgem a toda hora. Hoje, por exemplo, o mercado do boi gordo encontra-se ligeiramente frouxo, mas os preços de vários insumos também estão em queda, em alguns casos proporcionando aumento das relações de troca. 3. Dedique um tempo para o estudo das ferramentas de proteção contra oscilação de preços (hedge), entenda como funcionam, quais as vantagens e quais as desvantagens do mercado futuro, do mercado de opções e do mercado a termo. Com custos precisos e detalhados, acompanhamento de mercado e conhecimento das ferramentas de hedge, está formada a base para decisões do tipo: Vendo agora ou seguro mais alguns meses? Minha etapa de cria está sendo eficiente ou é melhor adquirir os bezerros no mercado? Qual o resultado que irei garantir se “travar” os preços agora? 4. Cuidado com os programas de gerenciamento, ou melhor, cuidado com o que você espera deles. Normalmente os programas são bons, mas é preciso ter informações para alimentá-los. Se a fazenda não gera informação nenhuma, o programa não tem o que organizar. Também é importante que, antes da compra, o pecuarista verifique o tipo de relatório que o programa gera e se é isso mesmo que falta para orientar as decisões da fazenda. 5. Aproxime-se dos fornecedores. Empresas de insumos têm disponibilizado uma série de serviços técnicos e de gestão atrelados à compra dos produtos. Se possível, utilize-os, pois os resultados normalmente são muito bons. 6. Aproxime-se dos compradores. Alguns frigoríficos vêm trabalhando com bonificações. Outros, em parceria com empresas de insumos, têm oferecido pacotes tecnológicos subsidiados, buscando promover a melhoria da qualidade da matéria-prima que adquirem. Informe-se, veja se o que propõem se encaixa ao seu sistema de produção. As percepções entre bom ou ruim, caro ou barato e lucro ou prejuízo normalmente mudam quando se passa a conhecer os números da empresa. O “achismo” perde espaço para decisões tomadas com base em fatos e dados, promovendo melhoria quase imediata de resultados e preparando a empresa para crescer de forma sustentada. É isso aí.
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