• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Uma nova pecuária com ILP


Quarta-feira, 15 de outubro de 2008 - 09h00

Fernando Penteado Cardoso* Informou o prestigioso periódico O ESTADO DE S.PAULO, em sua edição de 14 de maio, que o preço da carcaça alcançou R$80 por arroba, o bezerro R$620 cada um e que o desmatamento na Amazônia caiu 60% em 3 anos. Haveria correlação entre as 3 notícias? Segundo o IBGE, nos últimos 30 anos o rebanho de bovinos, nos estados de MT e PA em conjunto, passou de 4,5 para 32,4 milhões, com acréscimo de 27,9 milhões de cabeças. Essa notável evolução é responsável pelo auspicioso aumento das exportações de carne vermelha, sem prejuízo do abastecimento do consumo interno. Lembrando que os bovinos vivem de capim, pelo menos na fase da pecuária de cria e na maior parte do setor de engorda, investigamos a evolução da área de pastagem ocorrida no mesmo intervalo de tempo. Verifica-se, segundo o IBGE, que os dois estados em conjunto, sejam PA e MT, tinham 10,2 milhões de ha em 1975, e 36 milhões em 2006, seja um acréscimo de 21,8 milhões de hectares. Lembrando que os pastos nativos dos cerrados ralos, campos e varjões já eram pastoreados desde muitos anos, é lícito admitir que todo o acréscimo foi feito a partir de floresta primária, geralmente de mata alta. Comparando os acréscimos da população bovina nesses dois estados e com o aumento da área de pastagem, nota-se que os pastos formados a partir de 1975 suportam uma pressão de pastoreio de 1,28 cabeças por ha, valor esse dentro das previsões para a média entre áreas novas e as de vários anos. A evolução da área de pastagem representou uma abertura média de 730.000 ha/ ano, ritmo que, ao que se notícia, está em declínio. Paralelamente tem havido uma redução da capacidade de suporte devido à natural queda da fertilidade do solo, que ocorre após os primeiros anos de vegetação exuberante. Ao mesmo tempo, as pastagens decadentes estão sendo substituídas por lavouras mais rentáveis do que a pecuária em pasto degradado, sendo questionável tanto o retorno dessas áreas para pecuária, como o prazo para que isso venha a acontecer. Não seria exagero concluir, então, que a pecuária de corte acha-se em processo de contração, principalmente quanto à fase de criação, pois a etapa de engorda pode, em tese, ser substituída pelo confinamento, apesar de que os bois assim alimentados representarem menos de 10% do abate nacional. Não existem milagres. Pastos em decadência ao lado de menor entrada de pastagens novas resultarão na redução do rebanho de cria e na menor oferta de bezerros. Teremos, por conseguinte, menos bois a engordar, seguido de menor disponibilidade de carne vermelha a consumir e a exportar. Não será de estranhar se viermos a limitar as exportações para assegurar o consumo interno. Onde e como poderíamos aumentar a oferta de forragem natural, digo de capins, como alternativa aos pastos novos em terra virgem de mata alta? O custo dos pastos recuperados se distância cada vez mais do custo dos pastos novos face aos preços crescentes dos fertilizantes, sem os quais a renovação é impraticável. Somente os pastos de inverno, no intervalo entre duas culturas de verão, poderão vir a ser uma solução. Está comprovado que as braquiárias, sejam consorciadas ao milho ou arroz, sejam sobre-semeadas na soja, podem oferecer forragem suficiente para um ganho de peso vivo acima de 200 kg /ha (7,5 @ de carcaça) durante 3/4 meses de intervalo entre dois plantios de verão. É o que vem se chamando de integração lavoura pecuária-ILP, sistema adaptável às variadas situações climáticas do país e condicionado a deixar resíduos em quantidade satisfatória para o plantio direto subseqüente. O procedimento é passivo de aperfeiçoamento, seja introduzindo uma leguminosa no sistema, seja oferecendo grão a ser consumido diretamente da planta consorciada. Forragem mais barata que essa somente aquela produzida na terra fértil de mata alta recém aberta, fator básico da estrondosa expansão mencionada inicialmente para os estados do Pará e Mato Grosso. Nesses sertões, graças à diligência dos pioneiros, a floresta cedeu lugar a verdejantes capinzais forrageiros, dando origem uma pecuária pujante, de baixo custo, que trouxe indiscutível riqueza e prosperidade ao país. Teremos que superar alguns entraves para que o pastoreio de inverno venha a se tornar uma rotina de grande escala, principalmente na fase de engorda, quando os bois acabados seguem para os abatedouros sem retornar aos criatórios originais, assim poupando frete. Os grandes chapadões são quase sempre carentes de água que precisa ser transportada seja por encanamentos seja por carros tanque. Há necessidade de currais móveis para recebimento, manejo e carregamento dos animais. Há que organizar o comércio, quer baseado na aquisição de animais pelo próprio produtor, ou quando este oferece a forragem para ser consumida por bois capões de terceiros. São dificuldades superáveis para tirar vantagem de nosso clima favorável que oferece luz, umidade e calor no fim de verão e inicio de outono, possibilitando, assim, o estabelecimento de forrageais de inverno para uma nova pecuária. *Eng. Agr. Sênior (ESALQ-1936), fundador e ex-presidente da Manah S.A., atual presidente da Fundação Agrisus - Agricultura Sustentável.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja