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Scot Consultoria

Novos tempos?


Quarta-feira, 20 de setembro de 2006 - 12h49

Os preços pecuários vinham em queda desde meados de 2000. Era a fase de baixa de um ciclo iniciado em 1996. Ao final de 2005, depois de mais de quatro anos de abate de matrizes e redução de investimentos, acreditava-se no início de um novo ciclo pecuário, com preços em recuperação. A febre aftosa, no entanto, alterou os rumos do mercado. O “fundo do poço” foi registrado em junho deste ano: R$50,00/@ em São Paulo. Em julho, na entrada da entressafra, a cotação da arroba começou a reagir. Atualmente (terceira semana de setembro) o boi em São Paulo é negociado a R$60,00/@, a prazo, para descontar o funrural. No Mato Grosso do Sul, vale R$58,00/@, nas mesmas condições. Mas nas duas praças, como na maior parte do País, já ocorrem negócios diferenciados. A oferta reduzida levou ao aumento do poder de barganha do produtor. Nos últimos 10 anos o produtor só havia sido agraciado, com um movimento de alta tão forte, em 2002. Mas naquele período a desvalorização do real, em função das especulações em torno da eleição presidencial, sustentou o aumento dos preços das commodities agrícolas. Hoje, é a reduzida disponibilidade de animais terminados que responde pela firmeza do mercado. Sinal, finalmente, de virada de ciclo. A crise irá deixar sequelas. Rentabilidades baixíssimas, por vezes negativas (principalmente para cria), expulsaram alguns produtores da atividade. Muitos dos que ficaram foram praticamente obrigados a dizimar plantéis e/ou sucatear os bens de produção, a fim de sustentar o caixa. Boa parte foi tentar a sorte na agricultura, de olho nos bons resultados obtidos pelos sojicultores em 2003. Mas os mercados agrícolas, todos eles, são cíclicos. Vale, portanto, a máxima de “entrar na baixa e sair na alta”. Quem faz o contrário corre o risco de colher prejuízo. Foi o que aconteceu. Em meados de 2005 era possível observar o retorno de alguns pecuaristas, que haviam se aventurado na produção de grãos, à atividade de origem. O pensamento que reinava era o seguinte: “crise por crise, é melhor enfrentar uma no terreno que conheço”. Alguns, porém, não encontraram recursos para reinvestir na atividade, e deixaram de vez a lida no campo. Nesse “troca-troca” de atividades, se saiu bem quem apostou na cana-de-açúcar, ou no reflorestamento. A crise, porém, também produziu avanços importantes. O conceito de “gestão”, por exemplo, finalmente se desgarrou dos limites dos livros e das academias e veio bater na porteira das empresas rurais. Controle de custos, manualização de processos, provisionamento de recursos e até o “tal do hedge” do boi gordo na BM&F deixaram (ou estão deixando) de ser instrumentos de poucos. Se nas últimas décadas o que chamou a atenção foi o avanço produtivo/tecnológico, nas próximas deverá ser a vez da gestão, no sentido mais amplo da palavra. Novos serviços passaram a ser disponibilizados aos produtores rurais. Nesse caso, ponto para as indústrias de insumos. Mais do que fornecedores de matéria-prima, as empresas do setor incorporaram de vez a função de multiplicadores de conhecimento, auxiliando no manejo, no planejamento e na gestão das empresas rurais, dando um passo importante para o desenvolvimento sustentado da pecuária de corte no Brasil. As associações de raças, por sua vez, têm adotado, cada vez mais, posturas pró-ativas. A seleção ainda é o carro-chefe dos trabalhos, porém as ações de coordenação, difusão de informação, promoção e marketing da carne bovina ocupam cada vez mais tempo e recursos dessas entidades, alcançando resultados cada vez mais consistentes. Nessa linha, destacam-se algumas ações pró cadeia da carne. Tomemos como exemplo os programas Nelore Natural e Carne Angus Certificada. Os produtores (por meio de suas associações), as indústrias frigoríficas e o varejo trabalham integrados, propiciando aos consumidores produtos de qualidade diferenciada, e aos agentes da cadeia melhor remuneração, por meior de agregação de valor. As indústrias frigoríficas – algumas mais, outras menos – têm buscado uma aproximação junto aos produtores. Ganham força algumas ações de parceria, de fidelização de fornecedores e de premiação por qualidade. Avanços importantes também são registrados nas áreas de bem estar animal, preservação do meio ambiente, desenvolvimento social, rastreabilidade e certificação. A crise trouxe à tona novas necessidades, novas exigências. E a cadeia se mobilizou para atendê-las. “Com crise se cresce”, diz o bordão. Nada mais verdadeiro. No entanto, o que esperar dos períodos de bonança? O perigo é deixar as rédeas afrouxarem. A recuperação das margens pode produzir uma amnésia coletiva, e apagar da memória o período difícil que, ao que tudo indica, está chegando ao fim. Nesse sentido, vale a pena reproduzir um trecho do editorial da revista Agroanalysis, de agosto de 2005: “ A crise atual da agricultura brasileira nos lembra uma importante passagem da Bíblia. Ao interpretar o sonho do faraó, José não apenas antecipou a grande tragédia que afligiria a humanidade com a escassez de alimentos, como mostrou o movimento cíclico da agricultura. Na visão administrativa, isso mostra a importância de se preparar nos períodos de bonança para enfrentar os momentos de agruras.” Essa é a grande lição para os próximos anos. Enquadre a frase e coloque em seu escritório. Bem à vista. Leia todos os dias e reflita. A inversão do ciclo é uma injeção de ânimo. Logo o mercado deve perceber a retomada dos investimentos em pecuária. O produtor volta a reter matrizes e a aplicar tecnologia, realimentando toda a cadeia. Mas é preciso aproveitar o ensejo para dar prosseguimento aos trabalhos descritos ao longo do texto. Ainda há muito a ser feito. Com aporte financeiro, fica mais fácil trabalhar. Os resultados, portanto, tendem a ser melhores. A cadeia ganha mais corpo, mais eficiência e, principalmente, mais competitividade. Vale reforçar: o mercado é cíclico. Mais dia, menos dia, a fase de baixa volta a dar as caras. As bases para enfrentar o período já foram construídas. Agora, com recursos, é hora de reforçar as estruturas.
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