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Scot Consultoria

Parar de comer carne?


Quarta-feira, 2 de maio de 2007 - 08h11

Novamente informações veiculadas na mídia relacionam o consumo de carne com o desmatamento da floresta amazônica e do aquecimento global. Desta vez foi a Revista Época, de 23 de abril, que trouxe matéria nesse sentido, assinada pela jornalista Juliana Arini. É um desafio criar meios de preservar as florestas e evitar as queimadas em pastagens. Mas, é possível afirmar, não há necessidade de se derrubar uma árvore sequer na Amazônia para atender as perspectivas de demanda futura de alimentos. A demanda por alimentos no mundo aumentará em função do crescimento da população mundial nos próximos 35 anos. Em algum momento entre 2008 e 2015, a população urbana mundial terá ultrapassado a população rural. A maior parte do aumento no volume da produção virá do ganho constante de produtividade e inovações tecnológicas. As áreas que serão integradas à produção rural brasileira serão de 90 milhões de hectares desflorestados, localizadas em regiões de cerrado. Em algum lugar, ainda será necessária a expansão em terras de reserva para a produção rural, no futuro. É isso ou a fome. Antes disso, contudo, deverão ser incorporados, cerca de outros 80 a 90 milhões de hectares degradados, fruto da pecuária e da agricultura de baixa tecnologia e de pouco critério técnico que foram abertas na segunda metade do século XX. Essas áreas deverão ser transformadas em reservas ou retornar ao sistema de produção. Enfim, quem de fato, está derrubando as florestas brasileiras? Por que estão desmatando? Como fazer para evitar isso? Estudo recente, realizado pela Scot Consultoria, mostra que a área de pastagens no Brasil encolheu 1,54% entre 2001 e 2006. A pecuária e a agricultura vêm trocando áreas entre si ao longo dos anos. Observe, na tabela 1, que em 2004 foi o ano de menor área de pastagens cultivadas no Brasil. Era o bom momento da agricultura. A tabela 1 apresenta a evolução das áreas de pastagens no Brasil e nos estados da região da Amazônia Legal. No período houve uma redução de 2,75 milhões de hectares de pastagens, que foram ocupados com agricultura, ou com integração lavoura-pecuária. No mesmo período, as pastagens nos estados amazônicos aumentaram 1,59 milhão de hectares. Houve uma economia de 1,16 milhão de hectares que de outra forma, provavelmente teriam sido ocupados com a derrubada da floresta caso essa relação fosse direta. No mesmo período, estima-se que o rebanho bovino brasileiro aumentou 17%, cerca de 30,7 milhões de cabeças. O abate aumentou mais ainda; em 2001 o país havia abatido cerca de 33,29 milhões de cabeças, em 2006 o abate atingiu 44,77 milhões. Um aumento de 34,48%. Houve aumento da produtividade da pastagem, permitindo maior lotação animal, e também houve aumento da produtividade do próprio animal, que tem ficado pronto para o abate mais cedo. Os números sugerem não haver relação linear entre a redução de área de pastagens nos estados do sul, o aumento da produção de carne bovina no Brasil e a expansão do cultivo de terras da Amazônia. A pecuária de corte está no caminho certo. Agrega tecnologia e tem produzido mais por unidade de área. Produzir carne não é sinônimo de desmatamento ou de destruição. Os fazendeiros buscam a pecuária moderna, de alta tecnologia, parceira do meio ambiente e geradora de emprego. O pecuarista, na medida que seus recursos permitem, vem fazendo a sua parte. A tendência de tecnificação da produção precisa ser compreendida, incentivada e difundida. Isso é que é sócio-ambiental. Embora a reportagem tenha tido o cuidado de apontar que é possível produzir sem desmatar, a mensagem que ficou foi que o consumo de carne tende a destruir a floresta. Um engano. Mas esse engano tem-se proliferado. A prova do impacto negativo está numa pesquisa realizada no site da revista. Até a manhã do dia 27 de abril, cerca de 4.708 leitores haviam respondido a uma enquete que perguntava “Você deixaria de comer carne se isso salvasse a Amazônia?” Nas respostas, 72% dos leitores responderam que sim, deixariam de comer carne se fosse comprovado que a pecuária destrói a Amazônia. O público, que lê e usa a internet como fonte de informação é uma minoria. Devem ser jovens, com idade inferior aos 40 anos, formadores de opinião, público importantíssimo para a formação cultural no mercado de alimentos. Por isso, essas meias verdades serão tomadas como realidade criando má vontade em relação à pecuária brasileira. Mesmo que apenas parcela da classe média, com acesso a informações, reduzisse o consumo de carne, já haveria uma queda considerável na demanda. Nem é preciso ser vegetariano, bastaria reduzir o consumo. Embora o país seja o maior exportador mundial de carne bovina, cerca de 80% da produção nacional destina-se ao mercado interno. Uma redução na demanda de carne bovina provocaria a imediata queda nos preços pagos aos produtores de boi. O consumo de carne continuará, prova disso são os 28% que na pesquisa responderam continuar comendo carne mesmo que isso signifique o sacrifício da Amazônia. Se os preços entram num ciclo de baixa constante, e as perspectivas de resultados na pecuária se reduzem, os produtores substituirão a atividade. Os mais profissionais tendem a migrar para atividades que permitem maior rendimento por hectare. Quem adota tecnologia, passará a produzir outro tipo de alimento. A produção bovina, provavelmente, voltaria a ser conduzida com pouco ou nenhum aporte tecnológico. A tendência de profissionalização, modernização e investimentos seriam substituídos por uma produção predatória, extrativista. Ficará uma pecuária diferente da que está sendo construída por um Brasil profissional. Mas felizmente isso não deverá acontecer. Observe na tabela 2, a simulação entre os custos variáveis de produção num modelo de produção predatório e em um de alta tecnologia. Mesmo que os custos variáveis de produção da arroba sejam praticamente os mesmos em ambos os cenários simulados, o desembolso de capital da pecuária predatória é muito inferior à produção tecnificada. O desembolso de capital na pecuária tecnificada é 4,5 vezes superior, dando a impressão de que o custo de produção é mais alto. O investimento nos pastos é quase o dobro também. Na pecuária predatória, a produção de pasto é moto-serra, correntão, fogo e semeadura, geralmente aérea. Na produção tecnificada, o pecuarista investirá em formação dos pastos, correção do solo, controle planejado de invasoras e assim por diante. O mesmo raciocínio vale para a manutenção das pastagens e a criação dos próprios animais. Artigos de pseudo-ambientalistas trazem sempre jargões do tipo “o lucro a qualquer preço”, “em nome do lucro”, “tudo pelo lucro” e coisas assim. São frases de efeito, comuns quando há ausência de razão. No entanto, mesmo lançando uso dessas expressões, dificilmente eles analisam o que representam. Se os preços e as perspectivas caem, reduzindo a capacidade de desembolso do produtor, a alternativa será a busca da sobrevivência, talvez através do lucro a qualquer preço, ou a qualquer custo mesmo. No caso da pecuária, e por que não da agricultura, o qualquer custo significa crescimento horizontal, a produção baseada na expansão, degradação e avanço sobre novas áreas. É a situação ressaltada na pecuária predatória da tabela 2. Para solucionar os problemas ambientais é preciso uma diversidade de ações práticas e objetivas. Necessariamente passam por conscientização, treinamento, rastreamento do rebanho, informação correta à sociedade e aos compradores de carne, enfim, estabelecer um círculo virtuoso de progresso. Não é porque o boi veio de regiões amazônicas que necessariamente tenha sido produzido sem responsabilidade ambiental. O que deve ser evitado é a derrubada de novas áreas e as queimadas. É preciso amparar o pecuarista responsável. Definitivamente não é a forma proposta pelos “especialistas” entrevistados pela revista que preservará a floresta amazônica. E ainda, é preciso combater outras fontes de problemas nas regiões norte do país; corrupção, extração ilegal de madeira e minérios, tráfico de animais, entorpecentes, etc. A pecuária moderna é parceira do ambiente e não inimiga. O contrário é um erro conceitual que pode resultar em grandes problemas futuros ao ambiente. É hora da temática ambiental ser debatida com critérios técnicos, baseados em conhecimento científico. Não dá mais para aceitar raciocínios de profissionais sem conhecimento de causa.
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