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Scot Consultoria

Fazendo contas


Quinta-feira, 6 de setembro de 2007 - 17h46

A no intrigante para o mercado do boi gordo. As cotações da arroba subiram na safra, e agora estão querendo derrubá-las num período em que, tradicionalmente, elas alcançam o pico. Não bastasse isso, o mercado futuro aponta preços praticamente estáveis para setembro, outubro, novembro e dezembro. Alguém já viu isso? O foco dessa análise é a entressafra, mais especificamente os próximos meses: setembro, outubro e novembro. Para tanto, vou lançar mão da matemática. BOI A TERMO Esse negócio pegou mesmo. Para o produtor, um hedge de preços. Para o frigorífico, um hedge de matéria-prima. O que atrai o produtor? A possibilidade de assegurar um valor para o seu produto de forma simples, sem necessidade de depósito de garantia, sem precisar acompanhar ajustes diários, etc. Inegável, porém, que ele garante à indústria uma previsibilidade de escala que ela nunca teve, e aí é fácil deduzir o que acontece. Mas vamos lá. Hoje (6 de setembro de 2007), no mercado futuro de boi gordo, a posição vendida do tipo de participante denominado “pessoa jurídica não financeira”, onde estão inseridos os frigoríficos, soma perto de 26 mil contratos. Se o frigorífico está vendido, provavelmente é boi a termo. Se estivesse fazendo hedge, teria que estar comprado. Vamos supor que todos os contratos vendidos são de frigoríficos e que tudo se refere a boi a termo, ou seja, estamos superestimando a conta. Um contrato equivale a aproximadamente 20 animais de 16,5@. Portanto, 26 mil contratos equivalem a 520 mil bois. O Brasil abate, por ano, cerca de 46 milhões de cabeças. Isso equivale a 3,83 milhões de cabeças/mês, ou 158,60 mil cabeças/dia, considerando 290 dias úteis no ano. Portanto, o boi a termo (superestimado) equivale a apenas 3,3 dias de abate no Brasil. Tudo bem, ele está concentrado em SP, MS, MG, MT e GO. Estados que abatem, por ano, 27,73 milhões de cabeças, ou 95,60 mil cabeças ao dia. O boi a termo, portanto, responde por 5,4 dias de escala nesses Estados. E aí? O boi a termo tem força para mexer tanto assim com o mercado? Essa conta eu já havia feito, para a seção de notícias do nosso site: www.scotconsultoria.com.br. Agora vamos desenvolver outro raciocínio. CONFINAMENTO A Scot Consultoria estima que o volume de bovinos confinados no Brasil alcance 2,53 milhões de cabeças neste ano. Vamos arredondar para 3 milhões de cabeças e considerar que 50% desses animais sejam comercializados em setembro, outubro e novembro. Para essa proporção, tomei como base as estimativas de abate dos associados da Assocon - Associação Nacional dos Confinadores. Na verdade, em junho, a Assocon estimava que 46% dos animais reunidos pela associação seriam disponibilizados no mercado em setembro, outubro e novembro. Portanto, com os 50%, eu estou superestimando, de novo, a conta. Com base no que foi descrito, nos próximos três meses serão comercializados 1,50 milhão de animais confinados. Se cada animal pesar, em média, 17@, esse rebanho produzirá 382,50 mil toneladas equivalente carcaça de carne bovina em três meses, ou 127,33 mil toneladas ao mês. Mas de quanta carne o Brasil precisará no período? No ano passado, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os brasileiros consumiram 8,16 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne bovina. Ao mês, portanto, seriam algo em torno de 679,58 mil toneladas. Em três meses, quase 2,04 milhões de toneladas, tudo em equivalente carcaça. Vamos manter esse consumo para 2007. Bom, o mercado interno está dimensionado. E as exportações? Em setembro, outubro e novembro de 2006 o Brasil exportou, respectivamente, 189,23 mil, 207,90 mil e 221,61 mil toneladas equivalente carcaça. A soma desses três meses, portanto, chega a 618,74 mil toneladas equivalente carcaça. Vamos manter, também, as exportações de 2007 no mesmo nível de 2006. Subestimando a demanda para setembro, outubro e novembro de 2007, considerando-se mercado externo e mercado interno, o Brasil precisará produzir 2,66 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne bovina. A estimativa de produção para esse período, levando-se em conta somente o confinamento, é de 382,50 mil toneladas. Um déficit de 2,27 milhões de toneladas, que terá de ser suprido pelo boi não confinado. Boi de pasto. Acompanhe a síntese desse raciocínio na tabela 1. O déficit total, de mais de 2,27 milhões de toneladas equivalente carcaça, equivale a 9,48 milhões de cabeças de 16@, que se não estão nos confinamentos, terão que ser terminadas a pasto. São 3,16 milhões de cabeças a pasto por mês, no período de setembro a novembro. Com essa seca toda, mais o ajuste de oferta inerente ao ciclo pecuário, será que o mercado vai disponibilizar esse volume de boi de pasto? CONSIDERAÇÕES FINAIS Os números são esses. Naturalmente eles não podem ser analisados isoladamente, outros fatores precisam ser considerados. O principal deles é que o mercado não obedece à matemática. Ele é regido por fatos, mas também por expectativas. Em outras palavras, se todo mundo achar que o boi vai despencar, ele despenca mesmo! Não importa o que apontam os números.
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