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Alta do milho em agosto, quem sofreu mais?

por Felipe Fabbri
Segunda-feira, 14 de setembro de 2020 -09h00


Em agosto o principal insumo da cadeia de proteína animal, o milho,
aumentou 27,5% ante o fechamento de julho. Desde a virada do ano a cotação do milho subiu 32,7% e, se comparado ao fechamento de agosto de 2019, a alta é de 66,7%.

Enquanto a cotação média do grão teve bom desempenho, as cotações dos animais terminados na cadeia de proteína animal tiveram altos e baixos e foram influenciadas direta ou indiretamente pelo insumo.

Mas afinal, ao compararmos a relação de troca de avicultores, bovinocultores e suinocultores, como foi o desempenho no primeiro semestre e como a atual elevação de preço afetou o produtor?


Como andava a relação de troca até então?


Figura 1. Comparativo da relação de troca com o milho do avicultor (corte e postura), suinocultor e bovinocultor no primeiro semestre dos últimos três anos, em São Paulo.



A figura 1 mostra a média da relação de troca do quilo de carnes e caixa de ovos (30 dúzias) com o milho nos primeiros semestres dos três últimos anos. No primeiro semestre de 2020 todos os setores foram afetados negativamente ante igual período em 2019, exceto o produtor de ovos, que viveu o auge do setor neste ano, no período considerado.


O movimento negativo no semestre relaciona-se, principalmente, com a pandemia de gripe (novo coronavírus). A súbita retração do consumo por causa da restrição de atividades e a incerteza quanto às exportações – temor que se revelou infundado no decorrer dos meses - derrubaram os preços dos animais terminados no mercado interno.

De março para abril, o preço médio pago ao avicultor de corte recuou 10,3%, ao suinocultor 27,2% e ao pecuarista 1,9%, enquanto o avicultor de postura recebia o melhor preço médio pago até o momento, com incremento de 2,9%. No mesmo período a cotação média da saca de milho recuou 2,3%.


Poder de troca do avicultor despenca em agosto


Passado o solavanco inicial da pandemia, descartadas as expectativas negativas com relação às exportações, ajustada a oferta no mercado interno e com melhora da demanda pela reabertura gradual do comércio, os setores produtivos se recuperaram e viveram momentos distintos no fechamento de agosto.


Os preços pagos dispararam, e na média, o frango, suíno e boi gordo registraram altas de 22,6%, 44,15% e 14,30%, respectivamente. O avicultor de postura foi o maior prejudicado no período, cuja cotação caiu 20%.


A figura 2 mostra a relação de troca de agosto ante a média semestral. O produtor de ovos sentiu forte o impacto, abrindo mão de 14,34 caixas por tonelada de milho, retração de 38,7%.


O poder de compra do suinocultor melhorou 27,5%. O preço do animal terminado disparou entre julho e agosto, dado a manutenção do cenário exportador firme do primeiro semestre (confira mais) e a boa competitividade no mercado doméstico. O avicultor de corte e o bovinocultor tiveram incrementos nesta relação mais modestos, de 8,53% e 1,24%, respectivamente.


Figura 2. Relação de troca com o milho ao avicultor, suinocultor e bovinocultor considerando os preços médios de agosto, ante preços médios vigentes no primeiro semestre, em São Paulo.



Considerações finais


Para o curto e médio prazos, a expectativa é de manutenção do desempenho de exportações, principalmente de carne suína e bovina e, somado ao avanço da abertura do comércio e proximidade das festas de fim de ano, os preços devem ficar sustentados. Já para o milho, o dólar e o avanço da colheita da safra norte-americana são fatores que devem ser monitorados, pois podem pressionar a cotação.