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Scot Consultoria

Proibição dos russos à carne brasileira é pressão comercial, dizem especialistas


Quarta-feira, 8 de novembro de 2017 - 13h30

Fonte: www.dinheirorural.com.br


Não fosse o estigma criado pela Operação Carne Fraca sobre a imagem da carne brasileira no exterior, a proibição temporária da Rússia à importação de carne do frigorífico Mataboi, e a exigência de controles sanitários mais rígidos a outros exportadores (JBS, Frigoestraela, Frigol e Frigon), seriam apenas mais um capítulo de rotinas comerciais desse mercado entre os dois países. Este tipo de exigência sanitária e a proibição de exportação feitas pelos russos já aconteceram no passado, independente da Carne Fraca. Trata-se, dizem os especialistas, de uma estratégia comercial para pressionar por melhores preços ou vantagens comerciais, dizem os especialistas.


Cesar de Castro Alves, analista de mercado da MBAgro, lembra que antes mesmo da Carne Fraca -- operação deflagrada em março deste ano pela Polícia Federal contra fraudes na fiscalização de frigoríficos --, os russos sempre criaram, de tempos em tempos, barreiras à carne brasileira. Segundo ele, a exportação de carne bovina cresceu este ano para a Rússia e, depois de um fluxo forte nos embarques, estoques podem ter se acumulado, levando à decisão de impor mais barreiras ao produto brasileiro.


Na decisão anunciada sexta-feira, o Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Veterinária da Rússia alegou que foram identificadas substâncias fora dos padrões na carne bovina desses frigoríficos brasileiros. Mas não especificou que tipo de substância, ou quais lotes estariam com problemas.


-- Os russos sempre foram protecionistas e são um parceiro importante do Brasil. Eles já criaram barreiras para o produto brasileiro outras vezes, mesmo antes da Carne Fraca. Em 2011, por exemplo, proibiram a exportação de carne suína brasileira, o que criou um problema porque não havia como escoar o produto. Portanto, a decisão de proibir a exportação de carne do Mataboi e impor mais exigências sanitárias aos outros frigoríficos nada tem a ver com a Carne Fraca. É mais um movimento do jogo comercial entre os dois países -- diz Castro Alves, lembrando que os russos foram os únicos importadores que não impuseram nenhuma barreira ao produto brasileiro na época da Carne Fraca.


Segundo uma fonte que não quis se identificar, os russos agora estariam interessados em vender trigo e pescados ao país. Como um acordo com o governo brasileiro para suspender barreiras à importação desses itens não avança, os russos começaram a criar dificuldades às carnes brasileiras. A Rússia compra 11% da carne bovina nacional exportada, e 40% da carne suína.


As exportações de carne bovina para a Rússia cresceram 12% entre janeiro e setembro deste ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O que faz do país o terceiro maior destino da carne bovina brasileira, atrás de China (segunda colocada) e Hong Kong (o maior comprador). Até setembro, os russos compraram 116.831 toneladas, o equivalente a US$ 375,08 milhões.


Os russos costumam usar os embargos também como forma de negociar preços, diz Alex Santos Lopes, analista da Scot Consultoria. Não é uma ação declarada. Para Lopes, não há neste momento possibilidade de questionamentos da qualidade da carne brasileira por outros países, como aconteceu durante a Carne Fraca.


Esse tipo de questionamento dos russos era mais frequente quando eles eram os maiores compradores da carne brasileira, no início de 2010. Com a queda dos preços do petróleo, principal produto russo, além dos problemas na Ucrânia, os russos acabaram perdendo posições e a China ocupou este espaço. Mas, de vez em quando, voltam a usar esse expediente. Este anúncio de sexta-feira não é nada que preocupe. Não se trata de uma coisa sistêmica em relação à qualidade da carne brasileira -- afirma Lopes.


O problema é que, por causa da Operação Carne Fraca, as exigências sanitárias anunciadas pelos russos tomaram uma dimensão incomum, acrescenta o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic).


-- Esse tipo de pedido feito pela Rússia não é algo totalmente incomum no comércio de carne entre exportadores e importadores. De tempos em tempos, os importadores fazem questionamentos ou novas visitas aos frigoríficos de onde compram os produtos para atestar a qualidade dos mesmos. O problema é que Operação Carne Fraca acabou chamando a atenção para qualquer exigência sanitária feita pelos importadores do produto -- afirma Barral, observando que se a Rússia tivesse feito essas exigências em outro contexto, seria apenas mais um lance comercial entre os dois países.


Depois da Operação Carne Fraca, pelo menos 22 países e a União Europeia anunciaram algum tipo de restrição à carne brasileira. Alguns países suspenderam temporariamente as compras, como a China. Dias depois, contudo, os chineses reduziram as restrições aos frigoríficos investigados. Hong Kong suspendeu as compras, e ainda exigiu a retirada do produto do mercado local. Japão e África do Sul suspenderam apenas parcialmente as importações. As exportações diárias de carne brasileira, que movimentavam US$ 60 milhões diários em março, antes da Carne Fraca, caíram para US$ 74 mil um dia depois da operação tornar-se pública.


O reflexo da Carne Fraca foi sentido na balança comercial brasileira, já que o produto é um dos principais itens da pauta de exportações do país. Em abril, um mês após a operação, as exportações de carne tiveram queda de 25,63% (de 125 mil toneladas em março para 93 mil toneladas), e 24,60% em termos financeiros, para US$ 378 milhões frente aos US$ 501 milhões de março, segundo dados da Abiec.


Em maio, após a suspensão do embargo de vários países, o ritmo foi retomado. Naquele mês, foram vendidas ao exterior 115,3 mil toneladas (alta de 27% em relação ao mês anterior) resultado em US$ 463 milhões (alta de 28% em relação ao volume exportado em abril). Em março, antes da Carne Fraca, caíram para US$ 74 mil ao dia após a operação.


Procurada para falar sobre a suspensão temporária de suas exportações para a Rússia, a Mataboi informou que apenas sua unidade de Santa Fé de Goiás teve as suas exportações suspensas para a Rússia. A unidade de Araguari, em Minas Gerais, continua operando normalmente.


"Os detalhes da suspensão ainda estão sendo levantados para que em breve a empresa tenha sua situação regularizada", informou a empresa, lembrando que possui habilitação para exportar para mais de cem países.


O Mataboi ressalta que apesar da suspensão não haverá nenhuma alteração na sua produção diária, uma vez que já está redirecionando as vendas neste período para outros mercados. As demais empresas que estão sendo objeto de controle sanitário mais rígido pela Rússia também não comentaram a decisão.


O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, afirmou no final de semana que a suspensão temporária das importações de carne bovina do frigorífico Mataboi, de Goiás, anunciada pela Rússia, é uma medida normal. O ministro disse que a medida é "coisa do dia a dia". Segundo Maggi, o aumento de controle de qualidade pela Rússia não tem ligação com a Operação Carne Fraca.


Link da notícia: https://oglobo.globo.com/economia/proibicao-dos-russos-carne-brasileira-pressao-comercial-dizem-especialistas-22038813



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