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Scot Consultoria

Pecuaristas não querem vender gado pra JBS


Terça-feira, 23 de maio de 2017 - 13h50

Foto: Ernesto de Souza / Editora Globo


O escândalo gerado pelas delações dos empresários Joesley Batista e Wesley Batista, proprietários da JBS, companhia que possui no Brasil 36 unidades de abate de bovinos, gerou um clima de apreensão e especulação entre os pecuaristas. Muitos se negaram a fechar novos negócios com a empresa ou simplesmente não entregaram nesta semana o gado que já havia sido vendido antecipadamente, com o objetivo de vender para outros frigoríficos. Especialistas do setor aconselham o criador, neste momento, a ter cautela.


Nesta sexta-feira (19/5), em todas as praças brasileiras, as vendas estavam mais lentas que o usual. A sexta-feira, segundo o consultor Alcides Torres, da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP), é um dia em que as negociações, tradicionalmente já são mais paradas e, hoje, elas ficaram “praticamente paradas”. “Em algumas praças, como Norte do Tocantins e Goiânia, por exemplo, a maior parte dos frigoríficos ficou fora das compras”, disse Torres. “Escalas confortáveis estão dando aos compradores a possibilidade de aguardarem o mercado responder mais claramente aos recentes acontecimentos. Quem seguiu no mercado, testou preços menores.”


As vendas de gado para os frigoríficos da JBS começaram a diminuir na quinta-feira pela manhã. Na noite anterior, o jornal O Globo divulgou com exclusividade que Joesley e Wesley Batista estavam envolvidos em um esquema de delação premiada que envolvia o Presidente da República Michel Temer, o presidente do PSDB, Aécio Neves, e outros políticos. A denúncia ainda levou ao conhecimento público vídeos e áudios que teriam sido feitos pelo empresário durante o pagamento de propina e encontros com o presidente.


Grande parte dos pecuaristas brasileiros estão receosos em vender gado para as unidades da JBS, com medo de sofrer calote. Pecuaristas afirmaram à Globo Rural que estão evitando fechar novos negócios com frigoríficos da empresa e muitos afirmaram que não entregaram os bois negociados antecipadamente.


A JBS tem 36 unidade de abates espalhadas pelo Brasil, com capacidade de abater 45 mil cabeças de gado por dia. No ano passado, de acordo com relatório da empresa, foram abatidos 2,2 milhões de cabeças durante o ano e, desse volume, 15,0% vem de “boi a termo”, tipo de negociação antecipada.


Na região do Pantanal (MS), segundo o pecuarista A.H, a classe está ‘dividida’. “Muitos estão tirando bois da escala e há aqueles, uns poucos, que acreditam que eles [a JBS] continuem pagando. Eu tirei o meu gado que estava escalado para eles”, declarou o criador. “Fiz frigoríficos pequenos”, disse ele. “Estamos mortos”.


O medo – disseminado pelas redes sociais e pelos aplicativos de mensagens instantâneas no smartphone - reflete no fato de a JBS concentrar frigoríficos em todo o país. Uma das estratégias da empresa, ao longo dos anos, foi comprar empresas do setor, deixando poucas opções de negociação para quem quer vender. “É uma concentração dos frigoríficos deles em todas as regiões”, disse.


Atílio Gusson, diretor geral do frigorífico Mercúrio, que tem duas unidades de abate no Pará (Xinguara e Castanhal) diz que na região, há quatro frigoríficos JBS e, desde quinta-feira, os criadores de gado da região também estão receosos em vender gado para eles, assim como no Pantanal. “Eles [vendedores] estão com medo de vender gado para as empresas deles [da JBS] e nos procuraram”, contou. “Só que, por precaução, nós não embarcamos nada”.


O executivo diz que o Mercúrio ficou fora das compras nesta sexta-feira e só vai retoma-las na próxima terça-feira (23/5). “O mercado está cauteloso com os últimos acontecimentos e precisamos aguardar”. O receio da parte de quem compra é que, com a maior oferta no mercado, os preços caiam, o que já vem acontecendo desde março deste ano, quando foi deflagrada pela Polícia Federal a Operação Carne Fraca.


“Por outro lado, sem os abates da JBS, o mercado consumidor vai sentir a falta de carne e a demanda pode aumentar”, disse. “Mas o que temos que fazer agora é esperar, tentar enxergar o mercado com mais clareza e estabilidade e acompanhar o comportamento do dólar”, afirmou.


De acordo Alcides Torres, também em São Paulo, uma quantidade considerável de indústrias também não negociou gado nesta sexta-feira. “A pressão de baixa existe”, reforçou. “Não há terrorismo no mercado”.


Para analistas de economia, apesar da gravidade das denúncias que envolvem as empresas da holding J&F, dona da JBS, a companhia tem “conforto” para honrar seus pagamentos a fornecedores em um curto prazo, principalmente porque a maior receita da companhia vem do exterior. A JBS atua em pelo em pelo menos 56 países.


Por Viviane Taguchi.



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