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Scot Consultoria

Frigorifico mais capitalizado não significa frigorífico “melhor pagador”


Terça-feira, 11 de outubro de 2016 - 14h00

A recente “explosão” das margens das indústrias trouxe, para alguns agentes do setor, “excesso” de otimismo em relação aos preços da arroba do boi gordo para os meses finais de 2016.


Depois de um período com forte arroxo para os frigoríficos, com resultados significativamente estreitos, abaixo da média histórica, com inclusive unidades de abate que não fazem desossa operando sem espaço em sua receita para os custos operacionais, a situação para o empresário do segmento melhorou, e melhorou muito.


Veja um resumo deste comportamento, desde o começo do ano, na figura 1.



Entre os meses finais do primeiro semestre e o início da segunda metade do ano, era claro a limitação que o resultado da indústria impunha à cotação da arroba do boi gordo.


E, talvez por essa constatação, foi natural que se especulasse que a partir de uma melhora dessa margem o caminho ficaria aberto para as altas nos preços da arroba, ainda mais com a entrada da entressafra e com o confinamento menor, fatores que dificultariam ainda mais a compra de boiadas.


Mas o que aconteceu ficou distante do esperado. Não houve alta forte no mercado do boi gordo a partir da melhora de margem da indústria. As valorizações foram comedidas. Em São Paulo, por exemplo, entre agosto e setembro, dois meses, os preços subiram R$2,00/@.


A explicação para isso.


O processo foi o seguinte: as compras de matéria prima estavam ruins no começo de agosto, as indústrias resistiam em pagar mais pela arroba. Então, as escalas de abate não andaram, a ociosidade das plantas cresceu, os estoques enxugaram e ficaram mais ajustados à demanda e isso trouxe a oportunidade de aumentar os preços dos cortes. Resultado, a diferença entre receita da indústria e o preço pago pela arroba subiu fortemente, ultrapassando a média histórica.


Mas, note que nesse processo não citamos a contribuição da demanda.


É aí que vem a segunda parte da historia. Tínhamos no começo do ano dois problemas. 1. Indústria sem poder de compra e 2. População sem poder de compra (crise econômica). E só o primeiro problema foi solucionado.


Diante disso, não tem porque se acreditar que os compradores pagariam mais pela arroba por estarem com mais folga no caixa. Ninguém compartilha sua margem com os outros agentes da cadeia produtiva por caridade. É o mercado. Só se paga mais por algum produto se realmente for necessário pagar mais, e isso quase sempre ocorre quando há aumento de demanda.


E não houve aumento.


Quando a margem das indústrias estava ao redor de 11,0%, no começo do segundo semestre, a do varejo batia quase nos 70,0%, a melhor em dois ou três anos. A partir daí, na medida que os frigoríficos elevavam o preço do seu produto, que elevou a margem para quase 25,0%, o varejo perdeu resultado, não houve como repassar isso ao consumidor, e a diferença entre o preço de compra a receita caiu para 50,0%.


Pense agora como o varejista que pagou mais para abastecer as gôndolas depois que os frigoríficos aumentaram os preços. Acho que não há dúvida de que o dono do açougue e do supermercado trabalharia para manter seus resultados. Mas isso não está sendo possível. Não houve repasse das altas, ele absorveu estes ajustes, certamente para não prejudicar as vendas (figura 2).



Diante de tudo que foi apresentado, é evidente que a alta imposta pelo atacado à carne bovina aconteceu independentemente da situação do bolso do consumidor, com o poder de compra da população.


A falta de sustentação deste movimento das indústrias ficou mais claro assim que começou o quarto trimestre do ano. Na primeira semana de outubro, em pleno período em que os salários são pagos, as contratações temporárias começam a ocorrer, se aproxima a primeira parcela do décimo terceiro – todos fatores de aumento de renda -, os frigoríficos passaram, depois de um período de alta, a reduzir os preços da carne (figura 3). E, o que ocorre historicamente, é alta de preços em outubro.



Em resumo. Não adianta o frigorífico ter mais poder de compra se a demanda não cresce.


Por fim, o cenário provável por vir, embora seja de valorização da arroba pela combinação de aumento de renda e entressafra no mercado do boi gordo, é de alta comedida.


As expectativas da economia começaram a melhorar, mas não se pode perder de vista que ainda passamos por uma crise econômica. Seus efeitos continuarão, no mínimo, até o final do ano e isso limitará o aumento de venda no varejo, em especial da carne bovina.



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