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Scot Consultoria

Confinamento: uma necessidade gerencial


Terça-feira, 14 de julho de 2015 - 15h03

Mesmo em meio às oscilações da arroba do boi gordo em 2015, de janeiro até junho, os preços acumulam valorização. Em São Paulo, a alta foi de 2,1% no valor referência do macho terminado neste período. Porém, a variação positiva de 24,8% de janeiro a dezembro de 2014 surge como um dos motivos pelo qual a arroba não teve força para subir tanto em 2015. Quem faz a constatação é a engenheira agrônoma e consultora da Scot Consultoria (Bebedouro/SP), Maisa Módolo.


Ela completa: "Os frigoríficos vêm pagando mais pela arroba e os preços foram repassados para a carne. Embora não na mesma proporção, a carne teve alta na ponta final da cadeia e o consumidor recuou diante desse cenário. A conjuntura econômica e a percepção do brasileiro sobre a situação do País não é otimista, e confirma o cenário de queda no consumo".


Quem corrobora tal afirmação é o consultor da Coan Consultoria (Jaboticabal/SP), Rogério Coan. Segundo o zootecnista, a crise econômica instaurada no País impacta negativamente na atividade no que tange investimentos em produção, visto a inexistência de uma estimativa real do mercado para os próximos meses. "É como querer ampliar uma fábrica de peças automotivas em um momento em que o mercado não está receptivo à compra de carros. Na pecuária intensiva não é diferente".


Além disso, aliado ao preço elevado em comparação às outras proteínas animais nas gôndolas dos supermercados, as exportações não vêm colaborando para o escoamento da produção, ressalta o consultor. Seguindo este raciocínio, Módolo completa: "Embora as expectativas para 2015 fossem boas, a Rússia iniciou o ano com a economia fragilizada pela queda no preço do petróleo e reduziu as compras da carne brasileira".


Quanto à China, a consultora não acredita que as comercializações com este país sustentarão o mercado brasileiro neste ano: "Embora seja importante reabrir o mercado chinês para reafirmar o status de qualidade da carne brasileira e ampliar o número de clientes, impactos na demanda ocorrerão somente daqui a alguns anos". E ela argumenta: "Em 2012, ano em  que esse mercado mais comprou carne do Brasil, os negócios representaram pouco mais de 1% do total embarcado pelas nossas indústrias".


Outra aposta de muitos para a recuperação da demanda são os Estados Unidos. Módolo opina: "Embora tenham acabado de firmar um acordo para compra de carne in natura brasileira, deve levar mais alguns meses para que as regras de processo e produto exigidos sejam acertadas entre os dois países e, somente a partir daí, o primeiro contêiner será liberado".


Com este cenário configurado, Coan é taxativo ao afirmar: "As expor tações ditarão o humor do mercado e a permanência de muitos frigoríficos na atividade". Ele argumenta: "O consumo interno per capita/ano (41 kg) não tende a evoluir, pelo contrário, tende a regredir". E mesmo as vendas externas representando pouco se comparadas ao consumo interno, cerca de 80 a 85% da produção, são necessárias para o escoamento, principalmente em momento de consumo em baixa. "Com exportações e consumo em baixa, é de se esperar que parte da carne bovina anteriormente exportada permaneça no mercado, com isso, a tendência é de uma diminuição da margem da indústria frigorífica, correndo até mesmo riscos de operar em negativo", projeta o consultor.


Voltando as atenções ao consumo, Coan analisa a situação: "Com a menor precificação dos grãos, as atividades  avícolas e  suinícolas  tendem  a  apresentar  custo de  produção  mais baixo, implicando  em oferta  de  produto  no  mercado  a  preços reduzidos e mais competitivos em comparação com a carne bovina. Além disso, outros componentes do orçamento familiar tem aumentado substancialmente, como energia  elétrica, combustíveis,  alimentos, água, etc., sobra menos capital para o bife nosso de cada dia. Assim, vejo como natural a migração do consumo da carne bovina para as carnes de frango e de suínos".


A consultora da Scot Consultoria cita a Pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF, abaixo), desenvolvida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), como uma tradução do sentimento do consumidor a respeito da situação do País, das perspectivas econômicas, mercado de trabalho, perspectiva de consumo e renda, entre outros indicadores. "Mais do que apontar se a inflação desceu ou subiu, se a taxa de juros está maior ou menor, ou qual o nível de recessão que teremos, o ICF retrata, em termos práticos, em que medida a situação do País tem sido sentida pela população".


Intenção de Consumo das Famílias (ICF)


Valorização tímida


De volta ao parágrafo inicial da reportagem, mesmo em meio a essa situação complicada pela qual o País atravessa, o preço da arroba encontrou condições de se manter firme, muito pela baixa disponibilidade de animais. "A fase é de alta do ciclo pecuário, o que confirma a expectativa e preços firmes este ano, ainda que com alguns momentos de oscilação e de quedas reguladas pelo comportamento sazonal no mercado da carne", explica a engenheira agrônoma, e completa: "O preço da dieta está mais competitivo este ano, outro fator positivo ao confinador".


De qualquer maneira, é imprescindível ao confinador avaliar seus custos e redobrar a cautela, sugere Módolo: "O custo com a aquisição do boi magro representa cerca de 70% do total e há incertezas quanto ao comportamento dos preços do boi gordo no momento da venda, já que o mercado futuro vem apresentando oscilações negativas".


Com expectativas de valorização da arroba entre 3,5 e 5% em relação ao preço vigente, Coan analisa como uma necessidade gerencial a adesão dos pecuaristas ao confinamento: "Este método permite ajustes no sistema de produção, tanto na capacidade de suporte da propriedade como ferramenta para estoque de arrobas da safra para entressafra. Nenhuma outra tecnologia permite a liberação dos pastos e estoque de um grande volume de animais em uma pequena área. Além disso, com a necessidade de aumento de produtividade, o confinamento se torna peça fundamental para alcançar tal objetivo".


E, quanto ao boi magro, o consultor acredita na manutenção da precificação, uma vez que o abate de matrizes de anos anteriores e o maior aporte de tecnologias em nutrição animal "eliminaram esta categoria do mercado", afirma Coan. "Hoje, abate-se animais com 18 a 22@ com 19 a 24 meses. O boi magro no médio prazo tende a diminuir". Módolo confirma: "Tivemos participação das fêmeas nos abates crescentes entre 2011 e 2013. Os bezerros que elas deixaram de produzir são os animais de reposição que fazem falta hoje. Assim, a  alta dos  animais de reposição foi maior que a do boi gordo em todos os estados pesquisados pela Scot Consultoria, o que prejudicou o poder de compra do pecuarista, mas não quer dizer que tornou inviável a relação de troca".


O mercado, contudo, já aponta para preços do boi magro próximos de uma estabilidade, não só pela recente perda de firmeza do boi gordo, o que acaba desestimulando a demanda pela reposição, mas também pela resistência dos compradores aos preços vigentes. "Já há relatos de negociações a preços menores do que a referência", esclarece a consultora.


Coan ainda acrescenta: "Se o preço da reposição permanecer nos patamares atuais, acredito em uma diminuição dos custos de produção, uma vez que as dietas tendem a ficar mais competitivas a partir da primeira quinzena de julho. A segunda safra de milho tende a superar as expectativas, o que traz um cenário diferente para as dietas de confinamento, uma vez que tal insumo apresenta  destacada  participação nas dietas intensivas".


A visão da Assocon


"Por este conjunto de motivos, os preços da arroba apresentam resistência em subir", esclarece Módolo e encerra: "Por outro lado, a baixa oferta limita desvalorizações expressivas, o que leva a expectativa de que os preços não oscilem expressivamente em médio prazo".  E, como conclusão, Coan sugere: "Para aquele pecuarista que não possui um planejamento na propriedade, com reserva estratégica de forragem para o período seco (diferimento de pastagens) ou o uso do confinamento, a saída é mesmo vender o produto no mercado, principalmente no atual momento, onde as pastagens do Centro-Oeste brasileiro cessam o crescimento em virtude da restrição de chuvas, menor fotoperíodo e menor temperatura".


Fonte: Revista Feed&Food, edição no. 99 (julho/2015), texto de João Paulo Monteiro - http://www.revistafeedfood.com.br/pub/curuca/



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