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Scot Consultoria

Momento da cadeia de carne é raro


Quarta-feira, 8 de julho de 2015 - 14h31

Conforme dados oficiais, quase 30 plantas frigoríficas pararam de funcionar em 2015. A Associação Brasileira de Frigoríficos diz que 26 unidades fecharam as portas neste ano, em 12 meses, no entanto, o número chega a 40, segundo a Abrafrigo. As empresas afirmam que os motivos são a baixa oferta de animais e a diminuição do consumo de carne bovina. Nossa reportagem conversou com Edivar Vilela de Queiroz, do Sindifrio e Alcides Torres, da Scot Consultoria.


*As opiniões do Scot destacadas na reportagem foram transcritas de sua participação no programa Bancada Rural do dia 20/06. Vocês podem assistir o programa completo clicando neste link: https://goo.gl/pHstMz


Leia as entrevistas completas:


Canal Rural – De que forma você enxerga o fechamento dos frigoríficos? Por que isso está ocorrendo?


Edivar Vilela de Queiroz – presidente do conselho do frigorífico Minerva e presidente do Sindifrio – Os fechamentos estão ocorrendo em razão da diminuição do consumo do mercado interno. Essa é a base. Estão sofrendo mais nesse momento os pequenos, porque não exportam. Os maiores estão exportando, então estão conseguindo tocar as operações. 


CR – Nos últimos tempos, já tinham visto uma situação assim ou não?


Queiroz – Olha, faz tempo que a gente não tem passado por uma crise como essa. Mas o Brasil já teve essas situações.


CR – E que solução vocês encontraram para enfrentar essa crise? O que vocês estão fazendo?


Queiroz – Nós estamos diminuindo os abates e voltando mais para as exportações. O mercado externo está realmente restringido e o produtor brasileiro, ele quer comprar uma carne de menor custo, daí a razão pra ele tender mais pra carne que a gente chama de dianteiros, que essa carne tem menor custo do que a do traseiro, que é o filé, contrafilé e outras peças. Então, o que pesa no momento é a situação econômica do país, que deu uma impressão de declínio na nossa economia e isso está preocupando muito o pequeno consumidor e até mesmo o médio.


CR – Quanto ao fechamento de unidades, vocês tiveram que fechar alguma unidade por causa dessa situação econômica e como é que isso vai ficar daqui pra frente?


Queiroz – Nós já paramos as operações de duas empresas, de duas fábricas, uma em Minas Gerais, no Triângulo Mineiro, e outra em Mato Grosso. Essa parada provisória, sem dispensar os funcionários, é para, vamos dizer, diminuir um pouco da oferta no mercado interno. No mercado externo a gente está quase equilibrado, mas também com uma ligeira diminuição.


CR – Tem alguma expectativa para a reabertura dessas unidades?


Queiroz – Deve ser, assim, no momento em que as ofertas na região aumentarem e talvez a gente faça também uma outra troca, a gente feche em outro lugar e reabra essas que foram fechadas.  E aí você está diminuindo a oferta da carne no mercado interno.


CR – O que é preciso fazer pra mudar essa situação?


Queiroz – Precisa a economia melhorar, especialmente a gente ter mais ânimo, mudar a perspectiva econômica do país. Gente, isso é extremamente importante. As nossas autoridades precisam compreender isso. Se ocorrer isso, volta à normalidade de emprego, principalmente de emprego. Que a nossa população não pode ficar sem emprego. Você tem perspectiva e perigo de perder o emprego, o que ocorre? Você diminui o seu consumo.


Leia também a entrevista completa com Alcides Torres, da Scot Consultoria.


Canal Rural – A gente tem notícia de que, só em Mato Grosso do Sul, fecharam 40 frigoríficos. O que explica a quebra desses frigoríficos, por que isso está acontecendo? 


Alcides Torres, analista da Scot Consultoria – Os frigoríficos fecharam e, normalmente num momento de crise, fecham os frigoríficos que são mal administrados, ou que tiveram uma gestão “marca barbante”, ou que estavam numa situação difícil. Quando vem uma crise de oferta dessas, o preço da matéria-prima subindo, que são as boiadas, e um represamento do consumo, vamos dizer assim. Então, isso tudo acaba pesando, esse é um ano em que os frigoríficos, principalmente os que não exportam, precisam tomar muito cuidado.


Esses frigoríficos que fecharam, ou fecharam porque estavam com excesso de ociosidade, ou com problemas de gestão, mesmo, ou até mesmo eram frigoríficos bem administrados, mas que exportavam muito, e aí depende para quem exportavam. Se ele exportava pra Rússia ou pra Venezuela, um desses países que estão dando um calote global, então esse cara ficou numa sinuca, né?


E a gente sempre teve no Brasil uma ociosidade exuberante dos frigoríficos, sabe? Então, esse fechamento, do ponto de vista da pecuária nacional, ele não afeta muito o desempenho brasileiro em termos de carne bovina. Isso está acontecendo por uma série de razões, entre elas, por oferta de bois. Então, você pode fazer uma conta assim grosseiramente, para cada funcionário, um boi. Então, se você fizer a conta da quantidade de pessoas demitidas, você praticamente adivinha a quantidade de bois que deixaram de ser abatidos em função da falta de oferta.


Do ponto de vista de ajuste de mercado, até que não é tão ruim que esses frigoríficos fechem, porque nós vamos tornar as unidades sobreviventes muito mais eficientes. Isso é bom para o mercado.


CR – E o produtor, como é que fica nessa situação? Ele vai ter que, de repente, começar a negociar com frigoríficos mais distantes, tem mais o preço do frete. Isso vai ficar a cargo de quem? Vai melhorar o preço para o produtor, vai piorar o preço para o frigorífico? Ele vai acabar gastando mais, ou como vai ter mais oferta pra ele porque os outros fecharam, vai melhorar a situação?


Torres – Olha, é claro que sempre é ruim quando alguém sai do negócio, nunca é bom, vamos falar assim. As nossas pesquisas lá no nosso time, lá na Scot Consultoria, é que eu não vejo muito como cair o preço da arroba do boi para o pecuarista, sabe? Eu imagino ainda que nós vamos ter neste semestre o preço firme e o ano que vem também, talvez até em 2017. Sou bem otimista, sabe? Independente dos frigoríficos estarem fechando ou não. É claro que o Brasil é muito grande e tem as regionalidades de cada setor, então isso pode afetar aquela região, mas não o Brasil como um todo, não todo o Brasil pecuário.


CR – Esses frigoríficos que fecharam, tem alguma perspectiva de eles reabrirem no futuro, ou não?


Torres – Ah, isso tem. Alguns fechamentos foram estratégicos, né? Pra evitar concorrência de uma mesma empresa, o cara fechou, preferiu sair fora do negócio, esperando a situação de oferta melhorar. Então, a chance de eles voltarem a funcionar é real, é possível e vai depender da oferta de boiadas.


CR – Quem está lucrando mais neste momento dentro da cadeia?


Torres – Olha, sabe que nós estamos num momento especial, não é? Eu acho que toda a cadeia está indo mais ou menos bem, eu tenho que reconhecer que talvez os frigoríficos estejam perdendo margem. O varejo ainda está indo bem, o pecuarista está indo bem, e, numa situação de alinhamento dos astros, pela primeira vez ou raramente acontece, o frigorífico está numa situação não ruim, mas menos vantajosa, sabe? Estão numa situação um pouco prejudicada com relação aos outros componentes da cadeia. Isso é raríssimo.


Fonte: Canal Rural, por Caroline Kleinübing. Publicado em 06/07/2015 - http://www.canalrural.com.br/noticias/jornal-da-pecuaria/momento-cadeia-carne-raro-57473



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