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Scot Consultoria

Como a nutrição pode contribuir para a sustentabilidade da avicultura


Quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021 - 11h30

Foto: Freepik/Shutterstock

 


Introdução

A busca por uma produção animal sustentável é essencial, devendo-se produzir mais racionalizando os recursos renováveis, com mínimo impacto ambiental e valorizando o bem-estar animal.


Neste contexto, a nutrição pode contribuir para uma produção sustentável, seja para produção de carne e/ou de ovos. Discutiremos a seguir com base em resultados científicos.


Três pontos serão abordados na contribuição para uma nutrição sustentável relacionados à oferta da dieta, ao aumento da disponibilidade dos nutrientes e à escolha dos insumos utilizados na ração.


Ofertar na dieta, com precisão, o que o animal necessita

Quando se é ofertado uma dieta balanceada, em quantidades suficientes que supram as exigências nutricionais das aves, há um desempenho satisfatório e sem perdas desnecessárias.


Por exemplo, a proteína, além de ser o componente mais oneroso na ração de aves, é o nutriente que é depositado na carcaça como tecido muscular. Quando se é ofertado um excesso de proteína bruta na dieta, resulta-se em um gasto adicional para excreção desse excesso, além de uma maior quantidade de nitrogênio excretada no ambiente.


A formulação com base na digestibilidade dos aminoácidos, o surgimento do conceito de proteína ideal e a produção de aminoácidos sintéticos possibilitaram maior precisão no atendimento das exigências nutricionais. O conceito de proteína ideal parte da premissa que os aminoácidos precisam estar em uma proporção ideal para que sejam aproveitados pelos animais.


Dietas com redução de proteína bruta contribuem para uma menor excreção, sem prejuízos ao desempenho animal. Oliveira et al. (2011), avaliando diferentes níveis de proteínas brutas (de 17,6% a 21,6%) em dietas de frangos de corte, não observou influência sobre o peso absoluto de carcaça e pesos relativos de cortes (peito, coxa e sobrecoxa), apesar de piorar a conversão alimentar.


Além disso, Mendonza et al. (2013), avaliando dietas formuladas a partir da proteína bruta em relação às formuladas partindo do conceito de proteína ideal, concluíram que foi possível reduzir o custo da ração de R$691,00/t para R$669,00/t para machos e de R$665,00/t para R$652,00/t para fêmeas. Isso representa uma redução de custo por ganho de 2,5% e 2,6% para machos e fêmeas, respectivamente.


Otimizar o aproveitamento dos nutrientes ofertados na dieta

Fisiologicamente, as aves têm um aproveitamento “X” dos nutrientes que são disponibilizados devido à capacidade enzimática e/ou às características antinutricionais de certos ingredientes da ração. Porém, com a utilização de aditivos, esse aproveitamento pode ser aumentado. Com isso, uma menor quantidade de nutrientes é necessária para atender às exigências nutricionais devido ao melhor aproveitamento dos ingredientes.


Uma possibilidade para o aumento do aproveitamento de nutrientes de uma dieta é a utilização de enzimas exógenas. As enzimas aumentam a disponibilidade dos nutrientes dietéticos reduzindo os efeitos de fatores antinutricionais.


A fitase, carboidrase e protease atuam principalmente na disponibilidade de fósforo, carboidratos e aminoácidos. No caso da fitase, essa enzima quebra o fitato dos ingredientes vegetais que não são disponíveis para as aves, aumentando assim a disponibilidade de fósforo. Segundo Viana et al. (2009), a adição da dose tradicional de fitase em dieta de milho e farelo de soja de poedeiras proporcionou uma redução de 30% na excreção de fósforo e com produção semelhante ao grupo controle. Neves et al. (2013) demonstraram por meio de simulações que, além dos ganhos ambientais, também é possível obter maior lucratividade ao utilizar uma dieta com farinha de carne com a adição de fitase (R$0,61/kg) em relação a uma dieta convencional a base de soja e milho (R$0,67/kg).


A suplementação de aditivos como prebióticos, probióticos ou simbióticos (associação de prebiótico e probiótico) atua no equilíbrio dos microrganismos intestinais e promove uma melhora nas condições de saúde. O estudo realizado por Kalavathy et al. (2003) revelou que a suplementação de Lactobacillus sp. promove melhora na qualidade de carne devido às quedas de 7% e 25% nos níveis de colesterol e triglicerídeo, respectivamente.


Escolha dos insumos

Em relação ao milho e farelo de soja, eles podem compor até 90% da dieta, no caso de dietas de frangos de corte. Cerca de 60 a 80% do milho consumido no mercado doméstico é para a nutrição animal (Nunes, 2009), do qual cerca de 51% é destinado para a avicultura (figura 1).


Uma vez que os grãos são utilizados também na nutrição humana, a utilização de ingredientes alternativos pode contribuir para uma produção mais sustentável, como também para redução de custos.


Figura 1. Consumo do milho do mercado interno para nutrição animal.



Fonte: Nunes (2009) / Elaboração: Scot Consultoria


Ingredientes como sorgo, milheto, mandioca, farelo de girassol, farelo de canola, farinha de sangue, amendoim, mamona, farinha de insetos, entre outros, podem ser alternativos, porém deve-se ter o conhecimento de sua composição nutricional, disponibilidade comercial, viabilidade econômica e propriedades toxicológicas. Carolino et al. (2014) concluíram que a substituição do sorgo pelo milho não afetou o rendimento e as propriedades bromatológicas das carcaças de frangos.


Consideração final

Vimos que há muitas possibilidades ligadas à nutrição que suportam uma produção sustentável e com resultados positivos comprovados cientificamente.


Os exemplos citados nesse texto são: formulação com base no conceito de proteína ideal, utilização de aditivos como as enzimas exógenas, tais como fitase, carboidrase, protease ou mesmo prebióticos, probióticos e simbióticos, além da utilização de ingredientes alternativos.


Os ganhos são desde redução na excreção ambiental, como nitrogênio e/ou fósforo, até uma melhor qualidade de carne. Além disso, comumente o desempenho animal não é afetado e, em muitos casos, há um maior desempenho econômico.


Bibliografia


Carolino, A.C.X.G; Silva, M.C.A.; Litz, F.H.; Fagundes, N.S.; Fernandes, E.A. Rendimento e composição de carcaça de frangos de corte alimentados com dietas contendo sorgo grão inteiro. Bioscience Journal, v. 30, n. 4, 2014.


Nevers, F.A.; Diniz, R.F.; Pantolfi, N.; Silva, A.J.; Baptista, P.S.; Filardi, R. da S. Simulações na formulação e custo de dietas para frangos de corte utilizando farinha de carne e enzima fitase. IN: IX Simpósio de Ciências da UNESP, X Encontro de Zootecnia da UNESP, UNESP Dracena, Ilha Solteira, SP, 2013.


Guimarães, E. (2018). Acesso em: https://animalbusiness.com.br/colunas/zootecnia/nutricao-animal-e-producao-de-graos-no-brasil/. Disponível em: 12 de janeiro de 2021.


Kalavathy, R; Abdullah, N.; Jalaludin, S.; Ho, Y.W. Effects of Lactobacillus cultures on growth performance, abdominal fat deposition, serum lipids and weight of organs of broiler chickens. British Poultry Science, v.44, n.1, p.139-144, 2003.


Mendonza, M.O.B.; Costa, P.T.C.C.; Katzer, L.H.K.; Benetti, A.C.; Santi, Z.B.; Welter, J.N. Desempenho de frangos de corte, sexados, submetidos a dietas formuladas pelos conceitos de proteína bruta versus proteína ideal. Ciência Rural, v. 31, n. 1, p. 111-115, 2001.


Nunes, J.L.S. (2009). Acesso em: https://www.agrolink.com.br/culturas/milho/informacoes/comercializacao_361415.html. Acesso em: 13 de janeiro de 2021.


Oliveira, W.P.; Oliveira, R.F.M.; Donzele, J.L.; Albino, L.F.T.; Martins, M.S.; Maia, A.P.A. Redução do nível de proteína bruta em rações para frangos de corte em ambiente de termoneutralidade. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.8, p.1725-1731, 2011.


Viana, M.T.S.; Albino, L.F.T.; Rostagno, H.S.; Barreto, S.L.T.; Silva, E.A.; Florentino, W.M. Efeito da suplementação de enzima fitase sobre o metabolismo de nutrientes e o desempenho de poedeiras. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.6, p.1076-1080, 2009.


 



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