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Scot Consultoria

“Carne sustentável” no foco do Greenpeace


Quinta-feira, 19 de novembro de 2015 - 14h00


Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos para impedir que a pecuária impulsione o desmatamento da Amazônia, há ainda uma boa chance de parte da carne bovina consumida pelos brasileiros chegar à mesa à custa de árvores. A duas semanas da reunião global mais importante para discutir as mudanças climáticas, ­ a CoP­21, em Paris ­, o Greenpeace divulga hoje mais um relatório que aponta falhas no controle da cadeia produtiva da pecuária no bioma. Desta vez, o foco está no varejo ­ e os resultados foram considerados decepcionantes.


Intitulado "Carne com gosto de desmatamento: em um supermercado perto de você", o relatório aponta que um volume significativo da proteína bovina consumida no país ainda não é monitorada pelos supermercados. A falta de rastreamento aumenta o risco de a carne ser de animais associados ao desmatamento ilegal e a condições degradantes de trabalho.


Nos últimos sete meses, o Greenpeace avaliou o desempenho de sete grupos com atuações nacional e regional, que representam quase dois terços das vendas do varejo no Brasil. Três aspectos foram observados: a existência de políticas de aquisição para as compras de carne bovina, a avaliação dos critérios dessas políticas e a transparência das ações com os clientes.


"Quando o assunto é carne bovina livre de desmatamento, os supermercados são pura decepção", afirma o Greenpeace. "Nenhum atingiu o patamar verde do ranking que corresponde às empresas que atingiram de 70% a 100% em todas as áreas­ chaves que integram o ranking". No resultado final, o melhor colocado foi o Walmart, seguido pelo Carrefour. GPA (bandeiras Pão de Açúcar e Extra) e Cencosud se saíram pior, enquanto os grupos regionais Comper, DB e Y.Yamada, com forte presença no Norte, sequer responderam o questionário ou telefonemas do Greenpeace, iniciados já em abril.


Conforme Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace, a falta de uma política para a compra de carnes chamou a atenção em quase todas as empresas. "Isso é essencial para assegurar que todos os fornecedores estão comprometidos com o desmatamento zero", afirmou ela ao Valor.


Segundo os próprios varejistas, a maior parte da carne bovina adquirida no mercado vem dos três maiores frigoríficos do país ­ JBS, Marfrig e Minerva ­, que já possuem sistemas próprios de averiguação da procedência do animal. Em outras palavras, os frigoríficos já conseguem rastrear com mais facilidade se o animal que eles irão abater foi criado em área socialmente e ambientalmente íntegra, e ainda longe de terras indígenas.


O Pão de Açúcar, por exemplo, afirma que 70% da carne bovina vendida em suas lojas vêm desses frigoríficos. O problema, diz o Greenpeace, está nos 30% restantes. O levantamento cita, ainda, que somente a carne da marca própria Taeq é monitorada. Mas o produto, destinado ao mercado premium, representa apenas de 5% a 7% das vendas de carne bovina do grupo.


"Por não ter uma política própria para compra de carne bovina, o GPA, que é o maior varejista no Brasil, só consegue garantir a procedência de parte do produto. Ter a maioria da carne vinda destes frigoríficos não configura um padrão aceitável", afirma Adriana.


"Extra e Pão de Açúcar compram cerca de 70% dos seus produtos de carne bovina de três grandes frigoríficos nacionais, signatários do Compromisso Público de Zero Desmatamento do Greenpeace desde 2009. Além destes, 10% da compra é de produtores do estado de São Paulo, ou seja, de regiões que não estão contempladas na Amazônia. Para os demais fornecedores, é realizado um trabalho de identificação e monitoramento da cadeia bovina, coordenado pela ONG TFT (The Forest Trust), que deriva da política de compras das redes, garantindo condições de produção social e ambientalmente corretas para os produtos expostos nas lojas", disse, em nota, a GPA.


A falta de uma política de compra de carne também foi alvo de questionamento ao Carrefour, que se comprometeu em 2010 a alcançar o desmatamento zero até 2020. Passados cinco anos, o Greenpeace afirma que o grupo não avançou no tema. Segundo a ONG, a rede diz comprar 90% de sua carne bovina de JBS, Marfrig e Minerva, mas não explica quais mecanismos usa para garantir que o produto não esteja ligado ao desmatamento.


"O Grupo Carrefour possui compromisso global com o desmatamento zero até 2020. Em relação à comercialização da carne, cerca de 90% de todo o volume adquirido pela rede já é proveniente de frigoríficos comprometidos com o desmatamento zero. Como medida adicional, todos os fornecedores de carne são signatários do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), do Ministério Público Federal, assegurando que a carne é proveniente de áreas legalmente autorizadas para a produção. Além disso, o grupo trabalha na ampliação de seus controles internos com base em iniciativas pioneiras como o programa Garantia de Origem, que oferece a rastreabilidade total em seus produtos, o que reafirma seu comprometimento com a meta global estabelecida para todos os produtos que comercializa", afirmou, em nota, o Carrefour.


A liderança do Walmart nas ações para o combate à "ilegalidade do boi" se deve principalmente ao fato de a rede varejista ter criado um monitoramento próprio de checagem. A empresa desenvolveu um sistema que apura o "histórico" do animal no ato do pedido de compra ao fornecedor ­ tal como os frigoríficos fazem. "Fazemos isso para todos os fornecedores, inclusive com os grandes frigoríficos. É uma rechecagem, até porque não sabemos se eles fazem exatamente todos os nossos passos", diz Luiz Herrisson, diretor de sustentabilidade do Walmart Brasil.


Em agosto, a empresa incluiu uma cláusula contratual que obriga o pecuarista a também fazer o seu monitoramento. Há três anos, o Walmart tem treinado os fornecedores médios e pequenos para esse momento, apresentando novas ferramentas de monitoramento e melhoria no manejo. São 35 mil fazendas cadastradas. A expectativa é que todos estejam fazendo sua própria checagem até o mês que vem ­ para ser rechecado posteriormente pelo Walmart.


Fonte: Valor Econômico. Por Bettina Barros. 18 de novembro de 2015.



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