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Tempo quente


Terça-feira, 3 de novembro de 2015 - 14h00


Este 2015 caminha para se tornar o ano mais quente da era industrial, superando 2014, 2013, 2010, 2005 e 1998 (os cinco campeões). Dos seus nove meses transcorridos, o ano em curso cravou seis na lista dos que mais ultrapassaram a média do século 20.


Não é possível dizer se os recordes resultam do aquecimento global, do fenômeno El Niño -águas anormalmente quentes no oceano Pacífico- ou da combinação explosiva de ambas as coisas. Mas isso interessa ao Brasil, e muito.


A última ocorrência de El Niño tão forte quanto esta se afigura materializou-­se em 1997 e 1998. O calor da superfície oceânica aquece a atmosfera e embaralha os padrões do clima mundial. Prevê­se que a anomalia se agrave e adentre o primeiro semestre de 2016.


A perturbação climática estaria por trás da onda de calor que matou milhares na Índia em maio, dos atuais incêndios florestais na Indonésia e das últimas chuvas no Sul do Brasil. É para o semiárido brasileiro, porém, que a atenção nacional deve se voltar.


Há muito se conhece a relação estreita entre El Niño e estiagens graves no Nordeste. Para ensombrecer as previsões, a presente edição se abate sobre a região com mais pobres no país num período muito seco iniciado já em 2012.


Os 12 meses encerrados em setembro tiveram precipitação 22% a 30% abaixo do esperado na maioria dos Estados do semiárido (em especial Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais). Aí se concentram 891 municípios cuja agricultura foi prejudicada pela falta de chuvas. No norte de Minas já são quatro anos seguidos abaixo da média.


Na seca de 2012/13, a pior em oito décadas, morreram -sem El Niño- 4 milhões de reses, prejuízo de R$3,2 bilhões para a pecuária. A safra agrícola teve quebra de 21,5%. O governo federal gastou R$9,1 bilhões para mitigar o flagelo.


Não só o Nordeste sofre os impactos de um El Niño. A diminuição da pluviosidade afeta ainda a Amazônia, em particular a porção norte. Em 1997­-98, a floresta ressequida se incendiou em Roraima e 11 mil km² de matas queimaram.


O prognóstico piora porque os cofres municipais e estaduais, não só os federais, estão vazios. É de esperar que diminua sua capacidade de reagir à emergência.


Com desemprego em alta e renda em queda, a população mais pobre tampouco terá meios de se proteger em caso de estiagem mais intensa, alta nos preços de alimentos e piora da crise no abastecimento.


Uma conjuntura sombria que a classe política, consumida na polarização, parece pouco inclinada a encarar com o devido cuidado.


Fonte: Folha de São Paulo. 1 de novembro de 2015.



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